A recente tomada de controle de duas agências federais dos Estados Unidos por Elon Musk, empresário de destaque e aliado próximo de Donald Trump, está gerando preocupações no serviço público federal e promovendo uma centralização de poder sem precedentes.
A informação, revelada pela Reuters, detalha a reestruturação promovida por Musk, sob o pretexto de cortar custos e eliminar o que Trump considera como “inchaço burocrático” no governo.
Musk, CEO da Tesla e da SpaceX, foi designado pelo governo Trump para liderar iniciativas governamentais de reestruturação e, com a permissão da Casa Branca, tem instalado ex-funcionários de suas empresas em cargos de comando no governo.
A medida gerou inquietação em meio a uma crescente centralização de poder em Washington, com críticos apontando que o bilionário tem dominado áreas chave da administração pública, o que tem alterado o funcionamento do governo de forma considerável.
Uma das principais medidas de Musk inclui a reestruturação da USAID, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, responsável por projetos de assistência humanitária ao redor do mundo. A agência, considerada a principal frente humanitária dos Estados Unidos, está sendo desmantelada em um movimento que afeta diretamente a política externa americana.
Além disso, a centralização do poder se estende aos servidores federais. Funcionários governamentais têm relatado uma série de demissões forçadas, com e-mails enviados aos servidores oferecendo pacotes de demissão antecipada.
Aqueles que não aceitam a saída voluntária temem represálias, com o risco de serem monitorados por meio de mensagens eletrônicas manipuladas para rastrear possíveis vazamentos de informações para a mídia.
O Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), liderado por Musk, tem assumido o controle de entidades como a Administração de Serviços Gerais (GSA) e o Escritório de Gestão de Pessoal (OPM), sendo responsável pelo gerenciamento da força de trabalho federal.
Essas mudanças possibilitaram o acesso da equipe de Musk a sistemas críticos de pagamento do Departamento do Tesouro, afetando a distribuição de benefícios, aposentadorias e outros pagamentos governamentais.
Especialistas alertam que isso concede a Musk “um poder extraordinário” sobre as finanças públicas, com capacidade de influenciar diretamente quais pagamentos o governo realiza.
Recentemente, fontes do governo confirmaram que membros ligados a Musk obtiveram acesso a informações bancárias sensíveis de milhões de cidadãos, aumentando as preocupações com possíveis conflitos de interesse, uma vez que empresas de Musk mantêm contratos milionários com o próprio governo que ele agora influencia diretamente.
Além disso, membros da USAID relataram confrontos com agentes do DOGE e especialistas de segurança do governo, que tentam impedir o acesso de Musk a informações confidenciais.
A abordagem agressiva do empresário se estende ainda a ações judiciais movidas por sindicatos de servidores federais, que buscam barrar o avanço do bilionário sobre a administração pública.
As tentativas de desmonte do estado, ao que parece, não se limitam à reestruturação interna, mas também refletem um padrão de comportamento autoritário, como foi relatado por antigos colaboradores de Musk.
Funcionários públicos receberam e-mails diretamente de Musk, oferecendo incentivos financeiros para aqueles que aceitassem se demitir até 6 de fevereiro, com garantias de salários até setembro. Sindicatos alertam que essa estratégia pode ser ilegal, sem explicações claras sobre a origem dos fundos utilizados para esses pacotes de demissão.
A situação gerou um clima de incerteza entre os servidores, que temem represálias ou até a perda de seus empregos, com a ameaça de serem rotulados como “desleais” caso não aceitem as condições impostas.
Thomas Moline, ex-engenheiro da SpaceX, descreveu a gestão de Musk como caótica e implacável, similar à sua abordagem nas empresas privadas. Essa conduta tem se refletido na administração pública, com diversas denúncias de abuso de poder e falta de planejamento, o que tem gerado reações negativas entre os servidores e sindicatos.
Os protestos em Washington e em outras cidades dos Estados Unidos aumentam à medida que as ações de Musk ganham força. O deputado democrata Jamie Raskin criticou a criação de um “quarto poder” governamental sob a liderança de Musk, enfatizando que o empresário não passou por nenhum processo de confirmação no Senado e não possui as credenciais de segurança necessárias para assumir tal controle.
O aumento da interferência de Musk na administração pública e a centralização de poder têm sido respaldados pelo governo Trump, que se pronuncia sobre as medidas como uma “autorização explícita” para o empresário seguir com sua agenda.
Para muitos, a questão agora não é apenas o impacto de Musk nas agências federais, mas o fortalecimento de um poder paralelo que ameaça os alicerces da democracia e do funcionalismo público dos Estados Unidos.
A atuação de Musk continua a gerar protestos e preocupações sobre o futuro da administração pública e as condições de trabalho no governo.
Com a resistência dos servidores e das entidades de fiscalização, o avanço de Musk no controle das instituições públicas deve se intensificar, tornando a situação cada vez mais tensa no cenário político norte-americano.
Com informações da CNN Brasil