Musa Nasir, defensor do desenvolvimento da Palestina

Nascido em 4 de abril de 1895, na cidade de Birzeit, próxima a Ramala, Musa Hanna Nasir veio de uma família cristã protestante profundamente ligada à vida religiosa e educacional da região. Era filho do pastor Hanna Nasir e de Saada Shatara, ambos oriundos de famílias locais de destaque. Ao longo da vida, Musa Nasir demonstraria um compromisso inabalável com o desenvolvimento educacional da Palestina e com a luta nacional contra o domínio estrangeiro e o avanço do sionismo.

Nasir iniciou seus estudos no prestigiado Colégio do Bispo Gobat, em Jerusalém, e posteriormente ingressou na Universidade Norte-Americana de Beirute, onde se formou em física em 1914. Com o início da Primeira Guerra Mundial, serviu como oficial civil no exército otomano, atuando em setores administrativos e técnicos, como comunicações e contabilidade. Durante um curto período, também estudou economia e ciência política no Robert College, em Istambul, na Turquia.

Com o fim do Império Otomano e o início do Mandato Britânico na Palestina, Nasir foi nomeado comissário distrital em várias cidades e vilas palestinas. Ao mesmo tempo, começou a se envolver na construção de um projeto educacional nacional, coordenando e apoiando a Escola de Birzeit, fundada por sua irmã Nabiha Nasir em 1924. A escola, inicialmente de ensino fundamental, evoluiu para um colégio coeducacional em 1930 e, mais tarde, tornou-se uma das instituições mais importantes da educação palestina.

Resistência ao imperialismo britânico

Durante a Revolta Árabe de 1936, Nasir demonstrou firmeza política ao ser um dos altos funcionários palestinos a assinar uma petição dirigida ao Alto-Comissário britânico, criticando abertamente a política pró-sionista do Império Britânico e alinhando-se com as reivindicações do Comitê Superior Árabe. A atitude lhe custaria caro: o relatório da Comissão Peel de 1937 determinou que ele e outros signatários não poderiam mais ocupar cargos de destaque no governo colonial.

Ainda assim, Nasir continuou ativo. Em 1944 foi nomeado assistente do secretário-geral do governo do Mandato, cargo ao qual renunciou em 1946 como protesto contra a intensificação da imigração judaica para a Palestina, incentivada pelos britânicos. Nesse mesmo ano, fundou o Instituto de Administração Pública em Jerusalém, com o objetivo de formar quadros técnicos palestinos para o setor público e privado. A instituição foi um passo estratégico na preparação de uma estrutura estatal palestina, mas teve suas atividades encerradas após a ocupação sionista de 1948.

Ação durante e após a Nakba

Com a expulsão em massa dos palestinos e o colapso nacional em 1948, Musa Nasir permaneceu em Birzeit. Diante do grande número de refugiados que chegavam à cidade, mobilizou a juventude local para realizar um censo detalhado da população refugiada. Esse levantamento, pioneiro, foi entregue à Cruz Vermelha Internacional e serviu como base para a assistência humanitária. Em reconhecimento, Nasir recebeu um certificado de mérito da entidade.

Atuação nos governos jordanianos

Com a Cisjordânia sob controle jordaniano, Nasir foi nomeado Ministro dos Transportes no governo de Tawfiq Abu al-Huda, em 1949, sendo responsável por obras como a ampliação do Aeroporto de Qalandia. Ocupou também as pastas da Fazenda (1952) e das Relações Exteriores (1959 a 1961), tendo chefiado a delegação jordaniana na Assembleia Geral da ONU e em encontros de chanceleres árabes, onde denunciou os planos sionistas de desvio do rio Jordão e defendeu o direito de retorno dos refugiados palestinos.

Além disso, foi eleito duas vezes deputado no Parlamento jordaniano (1950–1954) e nomeado senador em 1959. Sua atuação parlamentar sempre foi marcada pela defesa da identidade nacional palestina e da educação como instrumento de resistência.

Universidade Árabe de Jerusalém

Retirando-se da política ativa em 1961, Nasir voltou-se integralmente à educação. Desde 1947 era presidente do Colégio de Birzeit e, em 1961, transformou a instituição em um colégio comunitário de dois anos, visando atender à juventude da região com um ensino voltado às necessidades concretas da população palestina.

Em 1962, foi nomeado presidente da Comissão de Ensino Superior da Jordânia e participou da formulação do projeto de criação de uma universidade nacional. Em sua proposta, sugeriu que a nova universidade fosse construída em Jerusalém e batizada como Universidade Árabe de Jerusalém, como contraponto político e cultural à Universidade Hebraica. A proposta não foi aceita e a Universidade da Jordânia acabou sendo fundada em Amã.

Fiel à sua origem cristã e à sua identidade árabe, Nasir atuou na Igreja Episcopal na luta pela nomeação de bispos árabes, num processo que culminou no fim do domínio estrangeiro sobre a liderança da comunidade anglicana na região. Pelo conjunto de sua atuação, recebeu condecorações do governo jordaniano — como a Ordem da Independência (1949) e a Ordem do Renascimento (1960) — e de outros países árabes.

Musa Nasir faleceu em 26 de agosto de 1971, em sua terra natal, Birzeit.

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