A declaração final da cúpula dos Brics, que acontece até a segunda-feira 7 no Rio de Janeiro, defende uma reforma ampla da Organização das Nações Unidas (ONU), a adoção de dois estados para Palestina e Israel e repudia ataques contra o Irã.
O documento também fez uma defesa pelo multilateralismo, como o fortalecimento de instituições como a ONU, e rejeitou ações unilaterais que enfraquecem o sistema global. Os temas já tinham sido defendidos pelo presidente Lula (PT) em seu discurso de abertura da cúpula, que é a quarta realizada no Brasil.
Formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o grupo foi ampliado para 11 países e representa quase metade da população e cerca de 40% do PIB mundial.
Defesa do multilateralismo
“Expressamos sérias preocupações com o aumento de medidas tarifárias e não tarifárias unilaterais que distorcem o comércio e são inconsistentes com as regras da Organização Mundial do Comércio”, destacou o documento, em um de seus trechos.
O bloco busca se mostrar unido contra o protecionismo de Trump, dias após o presidente americano advertir que enviará cartas aos aliados comerciais dos Estados Unidos para informar sobre a implementação de suas já anunciadas tarifas. O secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, afirmou hoje que, caso nenhum acordo seja fechado com Washington nos próximos dias, as tarifas entrarão em vigor em 1º de agosto.
A declaração do Brics não menciona diretamente o presidente Trump, no momento em que vários países, como a China, negociam diretamente com os Estados Unidos suas disputas tarifárias.
Reforma da governança
O documento também fez uma defesa à reforma no Conselho de Segurança da ONU, no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Mundial, com maior representação de países do Sul Global nessas instituições.
No caso do Conselho de Segurança da ONU, o grupo afirma querer ” torná-lo mais democrático, representativo, eficaz e eficiente” e manifesta apoio a “aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina (…) a desempenhar um papel maior nos assuntos internacionais, em particular nas Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança”.
Cessar-fogo em Gaza
Sobre o conflito no Oriente Médio, o texto pede “um cessar-fogo imediato, permanente e incondicional” e uma “retirada completa das forças israelenses da Faixa de Gaza”, e apela por uma solução de dois Estados, baseada em negociações pacíficas que respeitem as fronteiras internacionalmente reconhecidas.
O texto afirma que esse modelo é “o único meio” para assegurar a paz e a estabilidade na região.
A proposta contrasta com a postura oficial do Irã, que não reconhece a legitimidade do Estado de Israel. A delegação iraniana, contudo, apoiou a declaração conjunta, o que indica um alinhamento pontual em nome da estabilidade regional, apesar das divergências históricas.
O Catar sedia uma nova rodada de negociações indiretas entre Israel e o Hamas para tentar alcançar um acordo de trégua e a libertação dos reféns no território palestino.
O Brics também condenou os ataques militares contra o Irã, membro do bloco desde 2023, ainda que sem apontar diretamente os responsáveis, e sem citar os Estados Unidos ou qualquer potência específica.