O presidente Lula recebeu nesta quinta-feira (28) o presidente do Panamá, José Raúl Mulino, em uma visita oficial que simboliza a retomada das relações bilaterais após quase duas décadas. Segundo Lula, o último presidente panamenho a visitar o Brasil esteve no país em 2008. O encontro foi descrito por Lula como “o recomeço de uma nova relação entre Brasil e Panamá”.
Mulino chegou ao Brasil acompanhado de uma expressiva comitiva ministerial e empresarial. Durante o encontro no Palácio do Planalto, os dois governos assinaram um memorando de entendimento entre o Ministério dos Portos e Aeroportos e a Autoridade do Canal do Panamá, fortalecendo a cooperação logística e comercial entre as duas nações.
O Panamá é o primeiro país da América Central a se associar ao Mercosul e, em 2024, se consolidou como o maior parceiro comercial do Brasil na região, com um volume de trocas de US$ 934,1 milhões.
Em 2024, o Brasil foi o 15º maior usuário do Canal do Panamá, com grande potencial de crescimento.
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Soberania, logística e cooperação
Em sua declaração, Lula frisou apoio irrestrito à soberania do Panamá sobre o canal, destacando que o Brasil decidiu aderir ao tratado de neutralidade permanente que regula o funcionamento da rota marítima.
“Há mais de 25 anos, o país administra o corredor marítimo com eficiência e respeito à neutralidade, garantindo trânsito seguro a navios de todas as origens”, disse o presidente.
Ele ressaltou que a cooperação bilateral poderá “otimizar as exportações brasileiras e modernizar a operação de nossos portos”.
Lula lembrou que a relação entre os países foi prejudicada por crises internacionais, como a de 2008, mas defendeu uma nova era de colaboração.
“Não pode haver uma relação em que um país tenha um déficit comercial muito grande com o outro, porque isso cria dificuldades internas, inclusive nos Congressos. Essa visita é o recomeço de uma nova relação entre Brasil e Panamá”, afirmou.
O presidente também citou a ampliação da presença da aviação panamenha no Brasil, com mais de 80 voos semanais operados pela Copa Airlines, e destacou iniciativas conjuntas em setores estratégicos.
Ele cumprimentou Mulino pela compra de quatro aeronaves Super Tucano da Embraer para fortalecer a vigilância aérea do Panamá, anunciou que a Fiocruz apoiará a criação de um polo farmacêutico regional e expressou apoio ao ingresso do país no FONPLATA, banco voltado a projetos de integração no Cone Sul.
“COP da verdade”
A pauta ambiental ocupou grande parte do discurso de Lula, que reforçou o convite ao Panamá para participar da COP30, em Belém, em 2025. Para o presidente brasileiro, o encontro será “a COP da virada, a COP da verdade”.
“Temos que saber quem acredita na ciência e está disposto a mudar o comportamento para salvar o planeta. Se não agirmos, passaremos para a história como os únicos animais capazes de destruir o próprio habitat”, disse.
Lula parabenizou os investimentos panamenhos na descarbonização do Canal e no programa de mistura de etanol à gasolina, iniciativas que abrem novas oportunidades de negócios com o Brasil. Também defendeu remuneração internacional pelos serviços ambientais prestados por países com grande biodiversidade, como Brasil e Panamá, destacando o drama das comunidades indígenas afetadas pelas mudanças climáticas.
“O deslocamento do povo Guna de seu arquipélago ancestral é um exemplo concreto da injustiça climática”, declarou.
O presidente brasileiro também apresentou ao colega a proposta do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), a ser lançado na COP30, e reafirmou o compromisso dos dois países com o multilateralismo e a paz.
“O combate ao crime organizado não pode servir de pretexto para ameaças ilegais de uso da força em violação à Carta da ONU”, destacou, em referência aos desafios de segurança no Caribe e na América Central.
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Integração regional e preservação ambiental
José Raúl Mulino elogiou a postura brasileira e ressaltou a importância da cooperação regional em um contexto de desafios econômicos, políticos e ambientais. “Não existe hoje, nem poderá existir jamais, um país que não dependa dos outros. Precisamos trabalhar fortemente no multilateralismo, sobretudo na nossa América, que atravessa problemas difíceis”, afirmou.
O presidente panamenho destacou o papel ambiental de seu país, comparando a Amazônia brasileira à Floresta de Darién, na fronteira com a Colômbia, região que sofreu devastação nos últimos anos devido ao intenso fluxo migratório. “Milhares de toneladas de lixo ficaram jogadas ali. Sofremos muito com a crise migratória que durou quase três anos”, disse.
Mulino anunciou que o Panamá está desenvolvendo um projeto de reservatório nas montanhas de Coclé e Colón para garantir o abastecimento de água ao Canal do Panamá e às cidades panamenhas, ressaltando que a segurança hídrica é vital para a economia do país. “Precisamos lutar todos os dias contra as mudanças do clima que afetam a todos nós”, reforçou.
Ele também reforçou a missão panamenha com a integração latino-americana e caribenha, anunciando que o Panamá organizará uma cúpula de chefes de Estado do Caribe para fortalecer vínculos regionais.
“Contem com o Panamá como um país amigo, que deseja se integrar à região e ao Brasil de boa fé e procurando sempre os melhores interesses de nossos povos”, declarou.