
Por Mariana Castro
Da Página do MST
Na manhã desta quinta (13), mais de 250 mulheres do Movimento Sem Terra e de comunidades rurais da região Amazônica, dos estados do Maranhão, Pará e Tocantins ocuparam trecho da BR-010, via de acesso a uma das maiores fábricas de papel e celulose da Suzano no país e região estratégica de escoamento do agronegócio, em denúncia ao avanço do eucalipto, violências contra trabalhadores rurais, pulverização aérea de agrotóxicos e contaminação do solo e das águas.
A empresa tem ameaçado trabalhadores rurais e proibido o plantio de alimentos em territórios de reforma agrária e terras da União sob judicialização, com práticas de intimidação, uso de violência física e despejo de veneno nas plantações.
“Eles entram nos nossos barracos com o apoio de seguranças privados, levam nossa colheita, proíbem a gente de plantar e ameaçam jogar veneno com drones. Essa terra toda aqui a gente podia plantar, mas agora é tudo eucalipto”, denuncia uma das agricultoras do sul do Maranhão, que por segurança preferiu não se identificar.

Entre as denúncias se destacaram bandeiras como “Suzano é grileira de terras”, “Suzano planta fome” e “Eucalipto é para exportar e não para comer”.
A direção do Movimento Sem Terra, em Jornada Nacional de Lutas das Mulheres em todo o país aponta que o acumula um histórico de denúncias judiciais contra a empresa e chama atenção de órgãos regionais e federais.
“A sociedade tem percebido a alta dos preços dos alimentos, mas é necessário se questionar as razões desse aumento. Entre elas estão a falta de áreas para plantio de comida e também o envenenamento dos nossos territórios, do nosso solo e das águas. A Suzano é uma dessas empresas que tem impactado a agricultura familiar, com o avanço do eucalipto onde antes eram terras produtivas e a pulverização de agrotóxicos”, explica Divina Lopes, da direção do MST no Maranhão.

Eucalipto e deserdo verde
Desde 2013 está instalada em Imperatriz (MA) uma das maiores fábricas de papel e celulose da empresa Suzano, com mais de 500 mil hectares de áreas distribuídas na chamada região Tocantina, que abrange os estados do Maranhão, Pará e Tocantins, impactando diretamente mais de 45 comunidades, entre indígenas, quilombolas e trabalhadores rurais.
Desde a década de 80 o cenário que era de fartura de alimentos na região, especialmente na chamada “Estrada do Arroz”, tem se modificado em razão dos quilométricos corredores de plantio de eucalipto, que expulsa as famílias de trabalhadores rurais para as periferias das cidades.
“Eles estão nos encurralando, não conseguimos mais trabalhar na terra, por todos os lados estão os eucaliptos e a empresa a gente sabe que prioriza é o dinheiro dela. Estamos ali plantando, mas somos muito perseguidos com drones, com ameaças, com violência. Nós somos da terra, mas o lavrador está sofrendo, o arroz e as frutas que cresciam, já nem crescem mais de tanto veneno”, explica Acelino de Oliveira, agricultor familiar da comunidade Angical, no estado do Maranhão.

Com mais de R$ 1 bilhão em transações por ano, a escolha da região para o plantio de eucalipto, além de estrategicamente situada, foi o baixo preço da mão de obra e das terras, que na época eram em torno de sete vezes mais baratas que em outras localidades, a exemplo de São Paulo.
Durante a manifestação, que compôs a Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra, que em todo o país denuncia os impactos do agronegócio e impactos do capital sob o lema “O agronegócio é violência e crime ambiental: a luta das mulheres é contra o capital!”.