
Por Katia Marko
Da Página do MST
Em continuidade às ações de mobilização e lutas do 8 de março por todo o país, este ano as mulheres Sem Terra realizam sua Jornada Nacional de Lutas de 2025, com o lema ”Agronegócio é violência e crime ambiental, a luta das mulheres é contra o capital!”.
Entre 11 e 14 de março, mulheres do Campo, das Águas e das Florestas promovem encontros, formações, plantios, marchas e protestos por todo o Brasil. A Jornada denuncia as violências do agronegócio, que expropria corpos e territórios, envenena povos e terras, mercantiliza alimentos e a natureza, seca rios, aprofunda desigualdades e agrava a crise ambiental.
No Rio Grande do Sul, as mulheres sem terra estão mobilizadas nesta quinta-feira (13), em quatro regiões, para denunciar o avanço da silvicultura e a preocupação com o que esse avanço provoca no bioma Pampa.
As ações no Rio Grande do Sul, acontecem em Guaíba, Porto Alegre, Pelotas, Santana do Livramento e Tupanciretã com marchas, intervenções culturais, debates, entrega e plantio de mudas, e entrega de uma Notícia de Fato, com uma denúncia sobre a desregulamentação das normas ambientais relacionadas à silvicultura e seus impactos socioambientais no Rio Grande do Sul ao Ministério Público Federal, assinada por diversas entidades.
Segundo a dirigente nacional do MST no RS, Lara Rodrigues, o plantio e a monocultura são velhos conhecidos. “Nós, mulheres do movimento, nos sentimos nesse compromisso com a sociedade brasileira e principalmente com o nosso bioma Pampa. Queremos alertar que um avanço desses do agronegócio e ainda hoje liberado por lei sem um zoneamento ambiental, ele pode ser uma catástrofe, ainda mais no Rio Grande do Sul que sofre drasticamente com as mudanças climáticas.”
Lara destaca que o avanço da soja e a substituição pelo eucalipto, além de trazer impactos ambientais, ele também muda a vida. “Muda a vida da população, muda a vida das mulheres, muda a paisagem do bioma Pampa.”
O principal alvo da mobilização é a empresa CMPC, que está dominando a silvicultura no estado. “Ela tem um milhão de hectares plantados de eucalipto e a previsão de avanço de quatro milhões, principalmente no bioma Pampa. Nós estamos denunciando que essa empresa e esse avanço da silvicultura no Rio Grande do Sul não vão passar limpo”, afirmou Lara.
Entenda o caso
O Bioma Pampa ocupa cerca de 64% do território do Rio Grande do Sul, mas está gravemente ameaçado. Entre 1995 e 2023, mais de 30% das áreas nativas foram destruídas.
A silvicultura é a produção industrial de árvores exóticas, como eucalipto, pinus e acácia, voltada para fins comerciais e controlada por grandes empresas transnacionais.
A principal empresa de atuação no RS é a chilena CMPC. O grupo representa uma das principais empresas na área florestal na América Latina e está presente em mais de 50 países nos cinco continentes, com mais de 25 fábricas. No Brasil a Unidade Celulose Riograndense, instalada em Guaíba, representa o grupo. A unidade foi comprada pelo grupo chileno em 2009.
No dia 23 de fevereiro, um vazamento de cloro líquido causou intoxicação de trabalhadores e da população que vive próximo à fábrica. A empresa nem sequer forneceu informações ou auxílio aos moradores no momento do vazamento.
Mas a empresa não possui somente a fábrica de celulose. Ela investe na produção de eucalipto e outras árvores exóticas em áreas de produtores, em especial na região do Pampa.
Anunciou no ano passado, junto ao governador Eduardo Leite, o investimento de R$ 25 bilhões, que serão destinados à instalação de uma nova planta industrial de produção de celulose em Barra do Ribeiro, a construção de um terminal portuário exclusivo em Rio Grande e a ampliação de monocultivos de eucalipto, pinus e acácia de 1 milhão de hectares para 4 milhões, abrangendo todos os municípios do bioma Pampa. O valor é considerado o maior investimento privado da história do Rio Grande do Sul.
Além do apoio do governo estadual, a empresa tem se articulado para a aprovação de leis que a beneficiem. Assim, o Conselho Estadual do Meio Ambiente, por meio de lobby da empresa, aprovou um novo Zoneamento da Silvicultura para garantir a ampliação da monocultura por cima do bioma Pampa.
Em 2024 foi aprovada no Congresso Nacional a Lei Federal nº 14.876/2024, que exclui a silvicultura do rol de atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos ambientais, possibilitando, assim, que ela possa ser produzida, de forma industrial, sem licenciamento ambiental.