O noticiário não nega: os casos de violência política de gênero tornaram-se parte da rotina das mulheres que atuam em espaços de poder e decisão no país. Semanalmente, vêm a público episódios de vereadoras e deputadas estaduais, na maioria das vezes, que são ofendidas enquanto exercem o ofício para o qual foram eleitas. 

Corroborando o fato, nesta semana, foi publicada pesquisa realizada pelo Departamento de Economia da Universidade de São Paulo, que evidencia esta situação. De acordo com o levantamento, mulheres que atuam na política recebem mais ataques pessoais e misóginos do que os homens, que são mais criticados por seu desempenho profissional. O resultado mostrou que a cada 100 mensagens direcionadas a mulheres, 12 contêm ofensas de cunho pessoal e estereótipos de gênero, com termos como “feia” e “gorda”. Entre os homens, a proporção é de 6 mensagens a cada 100. 

Em entrevista à Folha de S. Paulo, Fernanda Peron e Paula Carvalho Pereda, economistas responsáveis pela pesquisa, afirmaram que “os estereótipos sobre mulheres na política ainda são muito fortes e geralmente vêm na forma de dizer que elas não são aptas para ocupar esses espaços políticos. Dizem que elas são muito emocionadas, que têm que cuidar da família, ou tentam descredibilizá-las por características físicas ou da vida sexual.”

Segundo o estudo da USP, nas críticas direcionadas ao gênero masculino é mais comum encontrar palavras que atacam suas competências profissionais ou intelectuais, como “incompetente” e “burro”. A economista explica que os números podem ser ainda maiores na vida real. “É garantido que, na internet, as pessoas podem recorrer a uma espécie de autocensura. Por exemplo, quando estão falando no Twitter ou no WhatsApp, podem ser menos misóginas do que quando estão sentados numa mesa de bar.”

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As mensagens analisadas foram extraídas de grupos públicos da plataforma entre agosto de 2022 e abril de 2024. O trabalho também identificou que robôs — os chamados bots— têm um papel central na amplificação de discursos misóginos e agressivos. Segundo as autoras, esse efeito se torna ainda mais evidente durante os períodos eleitorais, quando o volume de ataques cresce e a vigilância sobre figuras públicas aumenta.

Embora as mulheres representem 24% dos políticos específicos na amostra, elas são alvo de 18% das mensagens, o que, segundo a pesquisa, reflete tanto uma sub-representação feminina nos espaços de poder quanto uma menor visibilidade pública.

O estudo também considera outros marcadores sociais, como raça e ideologia, na análise do discurso online. A pesquisa mostra, por exemplo, que mulheres negras estão ainda mais expostas a esse tipo de narrativa.

Episódios de VPG deixam claro cenário narrado pela pesquisa

Como forma de evidenciar o que a pesquisa revelou, basta resgatar alguns dos casos de violência política de gênero que foram cometidos no primeiro semestre contra companheiras do PT. Em maio, por exemplo, durante sessão na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), o parlamentar bolsonarista Ricardo Arruda (PL-PR) lançou ofensas pessoais e misóginas contra a deputada estadual Ana Júlia (PT-PR), questionando a inteligência, a sanidade mental, e afirmou que a deputada só apresenta “projetos inúteis”.  

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Também no mesmo mês, todas as deputadas estaduais da Assembleia Legislativa de São Paulo  (Alesp) foram vítimas de violência política de gênero. As 25 parlamentares da Casa receberam mensagens com ameaças de morte em seus e-mails institucionais; o caso foi registrado como ameaça, injúria racial e falsa identidade. 

Mas o caso mais chocante – até agora – de prática violenta e misógina cometida contra uma mulher que exercia ao seu trabalho, foi o episódio perpetrado pelos senadores Marcos Rogério (PL-RO), Omar Aziz (PSD-AM), e Plínio Valério (PSDB-AM), contra a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, enquanto ela participava de audiência na Comissão de Infraestrutura no Senado

O caso mais recente de violência cometido contra uma mulher foi realizado pelo deputado estadual Amauri Ribeiro (União Brasil-GO) contra a deputada estadual Bia de Lima (PT-GO). Não é de agora que o representante da extrema direita tem como foco de ataques a companheira petista. Por meio de ofensas, ele busca desqualificar o trabalho e a atuação da parlamentar. 

PL para ampliar combate à VPG

No ano passado, a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher aprovou o substitutivo da relatora, deputada Ana Pimentel (PT-MG), que também presidia a Comissão à época, do projeto de lei 2.861/2024, que amplia a legislação de combate à violência política contra a mulher. 

Na justificativa  do substitutivo, a companheira Ana Pimentel defendeu que a participação segura no ambiente político – enquanto candidatas e parlamentares, por exemplo – é condição mínima para se exercer a atividade política com propriedade.  

Da Redação do Elas por Elas, com informações da Folha de São Paulo

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Last Update: 02/07/2025