
Mulheres na política são alvo de ataques pessoais e misóginos em dobro na comparação com os homens, que recebem mais críticas relacionadas ao desempenho profissional. A conclusão é de um estudo da USP em parceria com a empresa Palver, com base em mais de 400 mil mensagens coletadas em grupos públicos de WhatsApp entre agosto de 2022 e abril de 2024.
Segundo a pesquisa, a cada 100 mensagens direcionadas a mulheres, 12 contêm ofensas ligadas à aparência ou à vida pessoal, com termos como “feia”, “gorda” e “puta”. Entre os homens, esse tipo de ataque aparece em 6 de cada 100 mensagens. “Dizem que elas são muito emocionadas, que devem cuidar da família ou tentam descredibilizá-las por características físicas ou da vida sexual”, afirmou Fernanda Peron, uma das autoras do estudo.
Homens são mais criticados por suposta incompetência ou falta de preparo intelectual. A pesquisa também aponta que os chamados bots, robôs programados para disparar mensagens, ajudam a espalhar discursos misóginos e agressivos, principalmente durante períodos eleitorais.
Apesar de representarem 24% dos políticos analisados, as mulheres foram alvo de 18% das mensagens, o que revela tanto a baixa presença feminina na política quanto a maior vulnerabilidade a ataques pessoais.
O levantamento ainda mostra que, em plataformas como WhatsApp, usuários podem evitar certos termos por autocensura, o que indica que os números podem ser ainda maiores fora do ambiente online.

O estudo também levou em conta marcadores sociais como raça e posicionamento ideológico. As mulheres negras, segundo a análise, são ainda mais expostas a ataques de cunho misógino e discriminatório.