“E você acompanha o boxe feminino para opinar?”
Ora, esse argumento é absurdo. Dizer que não se pode opinar sobre a condição da atleta Imane Khelif, foco da atenção mundial por sua aparência diferente do padrão das mulheres, apenas porque “não acompanha o boxe feminino” é algo ridículo e tolo. Caso fosse admitido na competição um homem que se identifica como mulher (uma mulher trans) no levantamento de peso eu me posicionaria contra, mesmo sem jamais ter visto sequer uma competição desse esporte, pois não se trata de debater boxe, mas de discutir o espaço das mulheres no esporte; qualquer um. E não se trata de atacar atletas ou pessoas trans, muito menos de combater a diversidade. Pelo contrário, o objetivo é defender as mulheres e possibilidade de conquistarem títulos concorrendo com pessoas com sua mesma condição de gênero.
A questão é simples: se ela é mulher e não usa drogas, pode competir nas competições femininas, inobstante sua condição hormonal. Ao que tudo indica, ela é mesmo uma mulher com condições fisiológicas raras (níveis altos de testosterona). Sei que existem controvérsias, mas a questão extrapola em mundo o “boxe” e se ocupa de responder uma questão elementar nos dias atuais: o que em verdade define uma mulher.
Podemos analisar pela genitália, pelos órgãos reprodutores internos, pelos cromossomos, ou por uma mistura de todos esses marcadores biológicos de gênero. Desta forma, fica evidente a necessidade de definir “o que é uma mulher”, algo que há alguns poucos anos era fácil, mas agora se tornou complexo, entre outras questões pela onda woke no mundo – que só agora parece estar arrefecendo. A ideia de “identificar-se” com um gênero e impor essa percepção subjetiva (legítima) aos outros gerou estas confusões.
“A boxeadora argelina nasceu mulher, foi registrada como mulher, viveu sua vida como mulher, lutou boxe como mulher, tem um passaporte feminino”
Não se trata de debater condições. Sim, é uma vantagem sobre os outros concorrentes, mas tanto quanto ter mais de dois metros de altura em esportes como o basquete ou o vôlei. O mesmo também ocorre nos jogos de futebol em altitude, onde os jogadores que vivem nestes locais têm níveis de hemoglobina mais altos por causa do ar rarefeito. Por certo que é uma vantagem, mas é um efeito adaptativo natural, não exógeno ou artificial. Portanto, não se trata de questionar as vantagens que um lutador possui sobre os outros, mas a própria divisão das modalidades esportivas em gêneros, que foi criada para que as mulheres – em desvantagem física pelo dimorfismo sexual da nossa espécie – tivessem condições de vencer competições disputando provas apenas com outras mulheres.
Essa lutadora da Argélia, sendo mesmo uma mulher assim definida pelos órgãos esportivos, tem todo o direito de competir, mas não é necessário para isso que tenha perdido lutas para outras mulheres e muito menos é preciso acompanhar o boxe feminino para ter uma posição honesta e lúcida sobre esta questão.