Comentário de Sérgio Assad na publicação “Paulinho da Viola: a Elegância que o preconceito quase esqueceu”, de Luís Nassif

Gostei muito do seu comentário sobre Paulinho da Viola. Concordo que ele é um gigante e talvez o mais elegante de todos os sambistas. Obras como Sinal Fechado e Choro Negro mostram que ele vai além do samba e alcança um nível de sofisticação raro. Mas acho que a questão do “panteão da MPB” merece uma reflexão mais ampla.

Se pensarmos em critérios como influência, diversidade, força como melodista e letrista, além da difusão das canções, é claro porque Chico, Caetano, Gil e Milton sempre aparecem como os quatro grandes. Chico, Caetano e Gil são poetas e músicos completos; Milton é um melodista fora de série, ainda que como letrista tenha produzido menos, contando muito com seus parceiros do Clube da Esquina — e ali também estavam figuras como Beto Guedes e Flávio Venturini, que criaram músicas inesquecíveis.

Mas quando falamos em difusão real de canções dentro da MPB, há compositores que quase nunca entram nessas listas e que talvez tenham produzido mais sucessos reconhecidos do que o próprio Paulinho. Marcos Valle é um exemplo claro: ele tem mais canções conhecidas que Edu Lobo, e provavelmente mais que Paulinho, transitando da bossa nova ao samba, ao soul, ao pop, sempre com enorme alcance. O mesmo vale para nomes como Ivan Lins, Gonzaguinha, Belchior, João Bosco e Djavan, além de Edu Lobo e Dori Caymmi — todos eles deixaram marcas profundas na MPB e influenciaram gerações.

Portanto, se é justo corrigir o esquecimento de Paulinho da Viola, é também justo reconhecer que o panteão é muito maior e mais plural do que o que se consagrou. Paulinho é essencial dentro do samba, mas não podemos esquecer que a MPB é mais ampla e que figuras como Valle, Ivan, Gonzaguinha, Belchior, Djavan e tantos outros também deveriam ocupar esse espaço de destaque.

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Last Update: 24/08/2025