Foto: Dowglas Silva

Por Matheus Teixeira
Da Página do MST

Entre os dias 8 e 10 de março, cerca de 70 defensores de um novo modelo de relação e produção com a terra se reuniram no Centro de Formação Francisca Veras (CFFV), em Governador Valadares (MG), para debater e aprofundar os conhecimentos sobre a metodologia “Camponês a Camponês”, bem como realizar capacitação junto às famílias e à equipe destacada para promover a massificação da agroecologia no estado.

O projeto, que leva o nome da metodologia “Camponês a Camponês”, tem como objetivo a construção coletiva e horizontal da promoção dos conhecimentos em torno de práticas agroecológicas, com a meta de promover intercâmbios entre os camponeses para socializar e demonstrar, na prática, as experiências desenvolvidas.

Foto: Agatha Azevedo

A primeira etapa do projeto atenderá três grandes regiões de Minas Gerais – Zona da Mata, Vale do Rio Doce e Sul de Minas –, com atuação em 13 áreas de reforma agrária em mais de 10 cidades mineiras. “Há muitos produtos orgânicos, mas há muitas relações contaminadas. Há produtos sem venenos, mas não são produções agroecológicas se as relações não são respeitosas de diversas formas”, afirma Bruno Diogo, do setor de produção do MST.

Durante o seminário, foram apresentadas experiências agroecológicas em diversas regiões do estado, a fim de evidenciar as diferentes realidades e compartilhar os saberes adquiridos até o momento, como o Núcleo de Compostagem Agroecológica e Manejo (NUCAMPO), o Programa Popular de Agroecologia da Bacia do Rio Doce, viveiros de mudas, mutirões agroecológicos, plantio solidário, cooperativas, intercâmbios agroecológicos, terreiros culturais, rodas de conversa temáticas, integração entre universidade e comunidade, bem como caravanas agroecológicas, entre outras.

Uma metodologia popular

Foto: Matheus Teixeira

A metodologia de “Camponês a Camponês” (CaC) é uma forma de troca de conhecimento voltada para a agroecologia. Criada na América Central na década de 1970, por meio de comunidades indígenas camponesas da Guatemala, se espalhalhou por vários países, como Nicarágua e Honduras, além de México e Cuba. Desde o início foi considerada como uma alternativa ao modelo tradicional de assistência técnica, no qual especialistas ditam regras sobre produção agropecuária, enquanto os camponeses apenas seguem as instruções.

No modelo tradicional, técnicos são vistos como os únicos detentores do conhecimento válido sobre agricultura, e as famílias camponesas detêm um papel de receptoras passivas, esperando que um especialista externo resolva seus problemas, consolidando um senso comum de que o camponês não possui os conhecimentos agrícolas se não domina os termos técnicos, reforçando uma dependência. Esse sistema apresenta uma série de questões e limites, pois não valoriza o conhecimento local, não incentiva a criatividade e a inovação dos próprios camponeses. No entanto, a falta de recursos financeiros e a disponibilidade de técnicos que aceitem atuar dentro de uma metodologia alternativa limitam o alcance da assistência técnica.

Foto: Dowglas Silva

A metodologia CaC, por outro lado, propõe um modelo participativo, colaborativo e integrado entre os camponeses. Em vez de depender somente de técnicos, os próprios camponeses compartilham experiências e soluções agroecológicas entre si, criando e fomentando uma troca constante de sabenças e saberes. Um exemplo que demonstra, de forma prática e concreta, a eficácia do método é justamente quando surge um problema com camponeses e camponesas, como um solo infértil ou uma praga. Nesse momento, um camponês visita outro que já encontrou uma solução agroecológica eficaz para o que, muitas vezes, era tratado como um problema a princípio, mas se revela como um desequilíbrio que precisava ser equilibrado, sempre respeitando os tempos de cada processo.

Esse intercâmbio permite que o conhecimento seja transmitido de forma direta e prática, fortalecendo a autonomia das comunidades e promovendo um aprendizado coletivo e horizontal, em diálogo com técnicos que atuam como facilitadores e não como detentores do conhecimento. Pedro Abreu, docente do curso de Medicina na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), acredita que é preciso estimular a criatividade e a animação dos camponeses durante o processo. “Os camponeses se empolgam quando têm um resultado efetivo. É preciso estimular as pessoas a adaptarem as técnicas para as suas roças. Experimentar sempre é o princípio do método Camponês a Camponês. E isso tem efeito multiplicador entre os próprios camponeses.”

Foto: Agatha Azevedo

Dentro da metodologia, é importante que se construa e se tenha multiplicadores e promotores de opinião, além de difusores da mesma, pessoas que gostam de experimentar. Bem como construir formas e formatos de relatórios de identificação das práticas agroecológicas já existentes, assim como os potenciais problemas.

“A Metodologia é para fortalecer a organização, o fermento do bolo”, afirma Creunice Bezerra, do MST no Ceará. Em Minas Gerais, o projeto é uma parceria entre a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o Centro de Tecnologias Alternativas (CTA), a Universidade Federal de Viçosa (UFV), a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), a Universidade Federal do Ceará (UFC), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Estadual Paulista (Unesp), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Instituto Federal – Campus Machado, e conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra.

*Editado por Fernanda Alcântara


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Last Update: 10/03/2025