
Por Francisco Terto
Da Página do MST
Diante da crise ambiental e climática que assolam a nossa Casa Mãe, gerando uma série de problemas como desertificação, desgelo, enchentes e calor intenso, e gerando fome, desabrigados e alterações na natureza, além de desregulação no cultivo e produção de alimentos, precisamos contribuir para uma nova agenda global como alternativa para sairmos da barbárie climática, social e econômica.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou, em Brasília, este mês, a Campanha da Fraternidade 2025 com o tema “Fraternidade e Ecologia Integral” e o lema “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31), tendo como liderança católica maior o Papa Francisco, mesmo em condições de internação no hospital Gemelli em Roma, fazendo um gesto importante sobre a pauta ecológica como alternativa para superação da crise ambiental e climática.
Assim, o MST tem como linha política a defesa contundente dos bens da natureza. Além disso, em outros processos históricos, construímos várias atividades em parceria com alas progressistas da Igreja Católica. Assim, chegou o convite ao MST aqui em Pernambuco. A Pastoral Social de Floresta da Diocese de Floresta, situada no Sertão de Itaparica, fez o convite à direção estadual, e, em consequência, o Movimento Sem Terra se integrará na Campanha, tendo como marco o ato denominado de Peregrinação Interdiocesana da Fraternidade, em Orocó, dia 05 de abril, às 08h, às margens do Rio São Francisco, um patrimônio tão afetado pelas questões climáticas, oriundas da sanha do lucro, atingindo não só o Rio, mas as populações ribeirinhas.
As principais lideranças da Igreja de territórios diversos, como o bispo da Diocese de Floresta, Dom Gabriele Marchesi, juntamente com os demais bispos das Dioceses de Salgueiro, Petrolina, Afogados da Ingazeira, Juazeiro – BA e Paulo Afonso – BA, estão convidando a todos e todas para uma celebração interdiocesana. O ato será uma caminhada ecológica dentro do tema da Campanha da Fraternidade, além de um espaço para memória da luta dos Reassentados de Itaparica, bem como uma celebração eucarística, com os seis bispos das Dioceses de Pernambuco e Bahia, padres, autoridades e milhares de fiéis.
Em 2025, motivados pelos 800 anos da composição do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis; pelos 10 anos de publicação da Carta Encíclica Laudato Si’; pela recente publicação da Exortação Apostólica Laudate Deum; pelos 10 anos de criação da Rede Eclesial PanAmazônica (REPAM) e pela realização da COP 30, em Belém (PA), a primeira na Amazônia, acolhendo a sugestão da Comissão Episcopal Especial para a Mineração e a Ecologia Integral, foi escolhido o tema e o lema.
Padre Luciano afirma: “A expectativa é muito grande porque a Campanha da Fraternidade vem tratar da questão do meio ambiente e da Ecologia Integral e está pautada dentro da luta do perímetro irrigado. São 38 anos que, de fato, não têm a revitalização. O Papa Francisco nos provoca a ser, como Igreja, um sinal que vem criar em nós uma esperança na questão do meio ambiente, da luta em defesa da vida e, principalmente, das mudanças climáticas. A expectativa para o dia 05 de abril é muito grande, principalmente de contarmos com as presenças dos bispos, também de muitos leigos, padres, movimentos sociais que se juntam a essa luta da defesa da vida e da esperança que o Jubileu e o Papa provocam em 2025.”
O religioso chama a atenção para a situação atual dos reassentados e reassentadas do sistema de Itaparica. As lutas dos agricultores e agricultoras que foram deflagradas em 2024 têm anseios no campo da história, destaca Padre Luciano. O acordo firmado em 1986 com os representantes do Governo Federal, responsável pelos assentados, previa a responsabilidade pelos danos causados às famílias (histórias de vida, meio ambiente e a realidade socioeconômica) pela construção da barragem.
O governo vinha sustentando a operação e manutenção, incluindo a irrigação. Mas, ao longo dos anos, esse acordo vem sendo descumprido de forma unilateral. Por isso, é importante a Campanha da Fraternidade manifestar apoio aos camponeses e agricultores da região, da mesma forma que os movimentos sociais e populares.
Para Adailton Cardoso, da direção estadual do MST pela regional São Francisco, “hoje nós temos 70 km de áreas de assentamentos banhados pelas águas do Rio. É muito importante para a Reforma Agrária nas regiões do Vale e Submédio do São Francisco e do Sertão de Itaparica. Além de ser sinônimo de vida, também é sinônimo de produção de alimentos. Por isso, é importante preservar o Rio como uma necessidade ambiental, social e, principalmente, humana. Se nós preservarmos o Rio São Francisco, nós vamos ter uma vida humana também. Temos que cuidar do Rio como cuidássemos da nossa família. Por isso, estamos juntos na Campanha da Fraternidade.”
*Editado por Fernanda Alcântara