
Por Jéssica Lima
Da Página do MST
A Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes chega ao último dia de sua 16ª edição
com o lançamento da Jornada da Natureza no Rio de Janeiro. A Jornada é uma articulação
do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Paraná que incentiva ações
de cuidado ambiental, mobilização popular e recuperação de biomas. Em diferentes
estados, promove plantios, semeaduras e debates e atividades educativas que unem
estudantes, camponeses, pesquisadores e movimentos sociais.
A iniciativa convoca o povo a defender os biomas, cuidar da terra e enfrentar a crise
climática com solidariedade e organização. Eró Silva, da direção nacional do MST, anunciou
que a Jornada da Natureza será nacionalizada a partir de abril de 2026. “No próximo ano
teremos ações de reflorestamento, plantio e recuperação de áreas degradadas espalhadas
por todo o país. O agronegócio mata e destrói e nós estamos criando estratégias coletivas
para combater essa destruição promovida pelo modelo de exploração capitalista. Plantar
árvores e produzir alimentos saudáveis fazem parte da solução”, anunciou a dirigente.

Outro grande gesto concreto da Jornada da Natureza foi a solidariedade dos assentados da
Reforma Agrária e agricultores urbanos presentes na Feira, que doaram alimentos
agroecológicos a sete territórios fluminenses que fomentam a soberania alimentar em suas
regiões. “Um dos grandes princípios do MST é a solidariedade. Por isso, nós estamos
partilhando com a classe trabalhadora os alimentos saudáveis e sem agrotóxicos. Os
beneficiados são o Quilombo das Caboclas, a Comunidade do Sereno, a Serra da
Misericórdia, a Comunidade do Formiga, a Organização Telhado Verde, a Ocupação do
Movimento Unido dos Camelôs, o MUCA, e o Quilombo da Gamboa”, informou Eró Silva.
Além disso, também foram doadas 2.000 mudas de árvores nativas para organizações que
fortalecem a luta nos territórios. As mudas foram cedidas pela Fiocruz Campus Mata
Atlântica, em Jacarepaguá, Cedae e Cooperar.
O lançamento da Jornada teve início com uma mística musical de jongo que reverenciou a
palmeira juçara e celebrou a ancestralidade que guia a relação das populações com a
natureza. O evento reuniu diferentes vozes que constroem essa caminhada coletiva. A
Jornada da Natureza vai ser articulada com o Fórum das Comunidades Tradicionais, com a
campanha “Juçara É Nossa”, nas periferias da cidade do Rio e nas áreas de assentamentos
do MST na capital. Quem também esteve presente no evento foi a Andréa Vanini, da
Fiocruz Campus Mata Atlântica

Inspirada pela edição recente realizada no Paraná, que distribuiu e semeou mais de 21
toneladas de sementes de juçara, a Jornada chega agora ao Rio de Janeiro com apoio dos
mandatos da deputada estadual Marina do MST e da vereadora Maíra do MST. Jocinei
Lima, representante do MST Paraná, trouxe a experiência exitosa do estado. “A palmeira
juçara se tornou símbolo da Jornada da Natureza. A gente tem feito várias articulações com
o Estado. Helicópteros da Polícia Rodoviária Federal (PRF) têm sido utilizados para fazer a
semeadura da espécie. O MST tem trabalhado para valorizar a biodiversidade no Paraná e
recuperar áreas devastadas pelo agronegócio. Esperamos que o sucesso da Jornada da
Natureza do Paraná se espalhe para outras regiões do Brasil”, enfatizou.
A deputada estadual Marina do MST acompanhou as ações de replantio no Paraná e falou
sobre a emoção que sentiu ao subir no helicóptero da PRF. “Esse ano, o MST já semeou
quatro toneladas de palmeira juçara no Paraná. Fiquei emocionada porque lembrei das
tantas vezes que o helicóptero da Polícia Militar só sobrevoa as favelas para matar. E dessa
vez um helicóptero das forças de segurança foi responsável por plantar esperança, vida e
futuro para nossa juventude”, declarou a parlamentar, que anunciou ainda, em primeira
mão, a sanção da lei que transforma a palmeira juçara em patrimônio histórico do Estado do
Rio de Janeiro.

Já a vereadora Maíra do MST destacou que a Jornada da Natureza é uma resposta
concreta à crise climática. “É fundamental que a gente esteja lançando esse projeto aqui no
Rio, onde temos um dos biomas mais importantes, que é a Mata Atlântica. A gente sabe
que o povo favelado sofre muito mais com as consequências da crise climática e do racismo
ambiental do que as classes mais abastadas, que vivem protegidas em áreas consideradas
nobres. Portanto, a Jornada da Natureza é uma resposta eficaz no combate à crise
climática”, ressaltou Maíra.
O Plano Nacional Plantar Árvores Produzir Alimentos Saudáveis, lançado em 2020 pelo
MST, tem a meta de plantar 100 milhões de árvores em assentamentos, escolas do campo,
cooperativas e áreas urbanas, até 2030. A iniciativa também prevê a implementação de
políticas públicas alternativas ao agronegócio, como fomento das produções agroecológicas
e criação de sistemas agroflorestais.