Um assentamento do MST foi alvo de um ataque a tiros na noite de sexta-feira 10, em Tremembé, no interior de São Paulo. O atentado deixou dois mortos e seis feridos, dois deles em estado grave. Segundo testemunhas, o bando armado chegou por volta das 23 horas, em carros e motos, para tomar posse de um lote de terra desocupado. Ao se deparar com uma vigília de militantes sem-terra, começaram a disparar contra o grupo.
Valdir do Nascimento de Jesus, coordenador regional do MST, e Gleison Barbosa de Carvalho, morador do Assentamento Olga Benário, morreram no ataque. A vigília foi organizada pelos sem-terra após ameaças de grileiros, que planejavam desmembrar a área de 5 mil metros quadrados para vender terrenos menores, destinados à construção de casas.
O lote pertencia a um casal que havia abandonado o assentamento dois anos antes. Diante da demora do Incra em assentar outra família, grileiros começaram a assediar os sem-terra para permitir a ocupação irregular. Segundo Altamir Bastos, dirigente regional do MST, o problema intensificou-se no Vale do Paraíba após o governo Bolsonaro começar a emitir títulos de propriedade para assentados.
Com isso, explica Bastos, abriu-se a possibilidade de transferência de titularidade dos imóveis. “É uma região de assentamentos próximos a zonas urbanas, o que desperta a sanha do capital imobiliário”, acrescenta Gilmar Mauro, da coordenação nacional do MST.
Até o fechamento desta edição, a Polícia Civil havia prendido apenas um suspeito: Antônio Martins dos Santos Filho, conhecido como Nero do Piseiro, que confessou sua participação no atentado. Outro suspeito, Ítalo Rodrigues da Silva, está foragido desde o dia 12. Um terceiro homem foi preso pela Polícia Militar por porte ilegal de arma de fogo, mas seu envolvimento foi descartado, pois há indícios de que ele foi ao local para socorrer as vítimas.
A Polícia Federal abriu um inquérito paralelo para investigar o ataque. O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, tem criticado a investigação da polícia paulista, que trata o caso como episódio isolado de disputa por terra e, até então, havia identificado apenas dois suspeitos. O bando tinha mais de 20 integrantes, segundo testemunhas.
Valoroso democrata
Ex-presidente da OAB e um dos autores do pedido de impeachment de Fernando Collor de Melo em 1992, Marcello Lavenère morreu no domingo 12, aos 86 anos, em Brasília. Nascido em Maceió, o advogado também foi procurador do estado de Alagoas e presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça de 2003 a 2007, além de ter integrado a Comissão de Justiça e Paz da CNBB. Em 2016, foi um dos três especialistas chamados pela defesa de Dilma Rousseff para explicar, ao Senado, por que considerava o processo contra ela um golpe, e não um impeachment legítimo. “Sempre atuante na defesa da democracia e da justiça social, Lavenère deixou seu legado na advocacia do Brasil e à frente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, e dedicou-se à luta pela reparação às vítimas da ditadura”, afirmou o presidente Lula, em nota de pesar.
Educação/ Sem distração
Lula sanciona lei que proíbe uso de celulares e dispositivos móveis nas escolas
O presidente Lula sancionou, na segunda-feira 13, o Projeto de Lei que proíbe o uso de celulares nas escolas públicas e privadas de todo o País. A medida entra em vigor já neste ano letivo e abrange todas as etapas da educação básica, da educação infantil ao ensino médio.
“Esta sanção representa um reconhecimento ao trabalho de todas as pessoas sérias que atuam na educação”, afirmou Lula. “Achei que os deputados não aprovariam essa lei, por medo de apanhar na internet. Foi um ato de coragem.” Presente na cerimônia, o ministro da Educação, Camilo Santana, esclareceu que a lei será regulamentada por meio de um decreto, que deverá ser publicado no prazo de até 30 dias.
A proibição do uso de celulares e outros dispositivos eletrônicos móveis aplica-se a todas as áreas da escola, tanto nas aulas quanto no horário do recreio ou de atividades extracurriculares. O uso só será permitido para fins estritamente pedagógicos, sempre sob a supervisão do professor. O texto da nova lei também prevê algumas exceções, como o uso dos aparelhos para garantir a acessibilidade e inclusão dos estudantes, ou quando algum dos alunos apresentar necessidades específicas de saúde.
Golpista na solitária
Suspenso por uma moção de impeachment parlamentar, o presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, foi preso na terça-feira, 14, no âmbito de uma investigação por insurreição. Apoiadores tentaram impedir a entrada das forças de segurança na residência oficial do líder, e a guarda presidencial montou barricadas com veículos nas ruas próximas ao imóvel. Em uma mensagem de vídeo gravada antes de se entregar, o dirigente conservador afirmou ter decidido cumprir a ordem de prisão “para evitar qualquer derramamento de sangue infeliz”. Em dezembro, Yoon decretou lei marcial e suspendeu os direitos políticos no país, mas foi afastado do cargo. Ele deve ficar em uma cela solitária no Centro de Detenção de Seul.
EUA/ ainda Fora de controle
A Califórnia padece com os piores incêndios de sua história
Os incêndios florestais na Califórnia completaram uma semana, na terça-feira 14, com um saldo desolador: 25 mortos, 23 desaparecidos, 16 mil hectares queimados, 10 mil imóveis destruídos e 93 mil pessoas sob ordem de evacuação. Fora de controle, as chamas devastaram bairros inteiros de Los Angeles. Enquanto os bombeiros combatiam o fogo, fortes ventos ampliavam a área atingida. Mais de 6 milhões de habitantes estavam sob ameaça crítica em vários condados no sul do estado, como Anaheim, Riverside e San Bernardino.
Embora a Califórnia esteja acostumada a grandes incêndios, este é de uma magnitude sem precedentes. Especialistas apontam que o desastre foi agravado pelas mudanças climáticas. O estado tem clima mediterrâneo, com verões quentes e secos e invernos amenos e chuvosos. Em 2022 e 2023, chuvas intensas favoreceram o crescimento da vegetação, que se transformou em material combustível com a seca prolongada do ano passado. Mesmo no inverno, quando normalmente há mais chuvas, o índice pluviométrico segue abaixo da média. Para piorar, ventos de até 160 km/h ajudaram a propagar as chamas.
Publicado na edição n° 1345 de CartaCapital, em 22 de janeiro de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’