Sob pressão no Congresso, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontra dificuldades para aprovar medidas em direção a um sistema tributário mais justo em que os pobres paguem menos e os super-ricos contribuem com o que devem.
Os economistas Luiz Gonzaga Beluzzo e Paulo Kliass, ambos entrevistados pelo Portal Vermelho, veem como fundamental a mobilização urgente dos sindicatos e do movimento social não só para influenciar nessa briga, mas em defesa de um novo rumo para a política econômica.
Beluzzo diz que há uma relação de poder desfavorável ao governo por conta do lobby do mercado financeiro.
“Você junta o mercado financeiro como um coletivo que tem muito poder. O governo, na medida em que está cercado, vai tentando convencer os que participam do mercado que ele vai agir de forma correta para não causar instabilidade”, disse o professor.
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De acordo com ele, para contornar a situação é preciso maior poder político. “Como, na verdade, o governo não consegue ganhar no Congresso, está sendo bloqueado o tempo inteiro. Essa é a questão central, porque não há nenhum caso de calote na dívida pública”, lembra.
Aliás, o experiente economista diz que os índices são favoráveis ao governo como a reserva cambial de 360 bilhões de dólares e a relação dívida Produto Interno Bruto (PIB) em torno de 78%.
“A dívida líquida, na qual você tem que descontar as reservas e mais alguma coisa, está em torno de 60%. Por que ninguém fala da dívida líquida? Porque é um estratagema do mercado para enrolar as pessoas. E o poderio deles não é só no Congresso, mas eles têm a chamada mídia corporativa ao lado para propagar corte de gasto e questão fiscal o tempo inteiro”, diz Beluzzo.
Por outro lado, o professor critica o compromisso com a política econômica da meta de déficit zero, o que prejudica os investimentos. “Você tem um compromisso, digamos assim, de levar a inflação para a meta. O sistema de meta é muito falho, muito imperfeito”, critica.

Dívida Pública
Kliass concorda com Belluzo que também vê o mercado financeiro extremamente beneficiado com o sistema da dívida pública.
“Quando você aumenta a Taxa Selic, o que que acontece? Você provoca um aumento nas despesas financeiras com os juros, porque a Selic é a taxa referencial de juros. Ela é a referência pro pagamento dos juros do estoque da dívida. Então, por exemplo, ao longo dos últimos 12 meses, o governo gastou alguma coisa em torno de 950 bilhões de reais pra pagamento de juros, aproximando de despesas financeiras na ordem de 1 trilhão de real por ano”, explica o economista.
Na gestão Gabriel Galípolo, que assumiu a presidência do Banco Central (BC) no governo Lula, Kliass diz que o aumento da Selic foi de 2,75%, o que representa uma despesa anual de juros de 220 bilhões de reais.
Ele diz que há um problema que nunca mudou desde o primeiro mandato Lula: fazer uma diferença entre despesas financeiras e as não financeiras.
Desse modo, o economista critica o equilíbrio fiscal primário propagado pelo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
“Esse adjetivo primário é toda a malandragem, por quê? Pela definição metodológica é uma tautologia. A conta primária é a conta não financeira. Então se eu quero fazer o equilíbrio fiscal primário, tudo você consegue comprimindo despesas primárias, que são saúde, educação, previdência, assistência social, segurança pública, saneamento e salários de servidores públicos em geral”, demonstra.
Por isso, o economista vê como urgente o movimento social pressionar o governo para mudar a política econômica na questão dos juros e do corte de despesas.
“Tem que começar ontem a fazer essa mudança, porque se não a gente caminha para uma certeza de derrota nas eleições de outubro do ano que vem. A situação está muito grave e o comando tem de ser do presidente Lula. Ele precisa tomar as rédeas e mudar o eixo da política econômica”, defende.