Uma onda de incêndios no interior de São Paulo deixou 48 cidades em estado de alerta para queimadas. Os fogos, que começaram na sexta-feira (23/8), já provocaram duas mortes.
O governador do Estado, Tarcísio de Freitas, decretou situação de emergência, por 180 dias nos municípios afetados. Segundo o governo estadual, 15.335 pessoas estão envolvidas nos trabalhos de combate às chamas e orientação à população. Um gabinete de crise e um posto avançado de emergência foi montado em Ribeirão Preto.
O governador disse à Globo que no momento não há mais nenhum foco de incêndio. Algumas rodovias que haviam sido bloqueadas pela fumaça já foram liberadas.
Autoridades estaduais e federais têm dito que suspeitam que os incêndios estão sendo provocados por criminosos. Foram abertos inquéritos para investigar as causas do incêndio, mas as autoridades não revelaram possíveis motivos. Três pessoas já foram presas.
A suspeita é que os incêndios aconteceram de forma simultânea em lugares distintos — o que só poderia ser provocado por uma ação organizada, segundo o governo.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que o governo investiga se esses episódios são semelhantes ao “dia do fogo”, quando incêndios florestais foram provocados por criminosos em agosto de 2019 nos municípios de Altamira e Novo Progresso, no Pará.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em postagem na plataforma X que se reuniu com o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, e com Marina Silva no domingo (27/8) e que ouviu de Agostinho que “não há, até agora, nenhum incêndio detectado por causas naturais”.
Rodovias ficaram cobertas por fumaça no final de semana | Reuters
A ministra Marina Silva também disse que suspeita que os incêndios possam ser criminosos.
Fumaça e ventos
Em São Paulo, a situação se agravou na última sexta-feira (23/8), quando o Estado registrou 1.886 focos de queimadas — mais dos que os 1.666 registrados durante todo o ano passado. Em relação ao mesmo mês no ano passado, o aumento foi de mais de 880%.
Plantação de cana foi atingida por incêndios em Dumont (SP) | Reuters
Efeitos nocivos à saúde
As queimadas liberam substâncias perigosas para a saúde humana e animal.
De acordo com pneumologistas consultados pela BBC News Brasil, a fumaça contém materiais tóxicos, como dioxinas e metais pesados, além de partículas finas que podem ser inaladas, causando problemas respiratórios graves, sobretudo para quem já tem doenças pré-existentes.
Gases tóxicos, como monóxido de carbono e óxidos de nitrogênio, também são liberados, aumentando o risco e agravando doenças pulmonares e cardiovasculares.
Os poluentes podem se espalhar por grandes distâncias, impactando a saúde em regiões distantes de onde os incêndios ocorreram.
“As partículas finas e os elementos químicos presentes na poluição ultrapassam as células pulmonares [alvéolos] e entram na circulação sanguínea, sendo distribuídos por todo o corpo. Isso causa inflamação nos vasos sanguíneos, aumentando o risco de pressão alta, arritmias e até infarto agudo do miocárdio”, afirma Mauro Gomes, pneumologista e membro do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP).
“Portanto, a poluição prejudica não apenas os pulmões, mas também o coração e a circulação”, segue Gomes.
Quanto mais próxima de pessoas que estiverem no centro de queima, maior o risco de inalação.
“Pessoas com doenças crônicas, como asma, bronquite, enfisema, rinite, rinossinusite ou problemas cardiovasculares, são especialmente vulneráveis à inalação de fumaça. É crucial monitorar esses grupos nas semanas e meses seguintes, pois os efeitos inflamatórios podem surgir com atraso, agravando outras condições crônicas”, explica Ubiratan Santos, pneumologista e membro da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia).
Mas quem não tem doenças subjacentes também pode sofrer os efeitos, que incluem olhos vermelhos e irritação nos olhos, nariz e garganta.
Os especialistas aconselham evitar a exposição desnecessária à fumaça, ficando em ambiente fechado quando possível, e ao sair na rua, usar máscara (especialmente o modelo N95, que se tornou popular durante a pandemia de covid, por sua capacidade de filtrar partículas finas).
“Em relação à proteção em casa, as janelas e portas devem ficar fechadas, e mesmo assim pode ser difícil impedir completamente a entrada de ar poluído, especialmente se houver frestas”, afirma Gomes.
O médico recomenda usar umidificador, ou, na falta do acessório, bacias de água e panos molhados pela casa. Outras recomendações para quem mora em áreas afetadas estão listadas abaixo.