O ano de 2025 começou com mais provas de que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é inimigo do povo trabalhador. Desta vez, novas mortes causadas pelo abuso policial se juntam à revelação das ligações profundas das corporações paulistas com o PCC.
Continuamos contando nossos mortos
Na madrugada de 10 de janeiro, a Polícia Militar de Tarcísio e Guilherme Derrite, Secretário de Segurança do estado, vitimou mais uma família de trabalhadores. Victoria Manoelly dos Santos, jovem negra de apenas 16 anos, estava com seu irmão Kauê Alexandre dos Santos, 22 anos, a mãe, Vanessa Priscila dos Santos, e alguns amigos em frente a uma adega na região de Guaianases (ZL).
Uma patrulha da PM passou por eles em perseguição a um suspeito de roubo. O sargento Thiago Guerra voltou ao local onde estavam os irmãos e começou a enquadrar os dois. Ele agarrou Kauê pela gola da camiseta, apontou a arma para seu rosto e depois deu uma coronhada no rapaz. Nesse momento, houve um disparo, atingindo a menina.
“Ajoelhei ao pé do policial para ele socorrer minha filha. Eles não socorreram. Eles estavam preocupados em colocar meu filho dentro da viatura”, contou a mãe ao G1. Victoria foi levada ao Hospital Geral de Guaianazes, mas não resistiu. “Queria tanto que esse tiro fosse em mim”, disse Vanessa.
Segundo o SBT, o policial afirmou que Kauê resistiu à abordagem e por isso a arma disparou de forma acidental. Revoltante! Os agentes sempre buscam culpar a vítima pela própria morte.
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Letalidade policial e feminicídios batem recorde
Victória faz parte de uma estatística macabra que só vem piorando sob Tarcísio. Em 2024, 835 pessoas foram mortas pelas forças policiais no estado de São Paulo, um aumento de 65% em relação a 2023. Embora a PM novamente lidere, a Polícia Civil e a Guarda Civil Metropolitana (GCM) também mataram mais.
Vale lembrar que, diante de casos escabrosos no fim do ano passado, o governo paulista mudou um pouco o discurso. A morte do estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, 22 anos; a imagem de um soldado jogando o entregador Marcelo Amaral de uma ponte; e a divulgação do vídeo da execução de Gabriel Renan Soares por um policial de folga no mercado OXXO, entre outros casos, empurraram a gestão bolsonarista para certa defensiva.
Contudo, a insistência do governador em manter Derrite no cargo é um recado nítido: tudo vai seguir como está. Hoje o secretário paulista é um símbolo do que de pior a burguesia pode oferecer. Ele consegue bater recordes negativos até dentro da tropa: em 2023, foi registrado o maior número de suicídios de policiais militares desde 2017.
É importante chamar a atenção para o fato de que Tarcísio e Derrite vêm fracassando em áreas-chave. Como assinalou a professora Flavia no X (antigo Twitter): “Pelo segundo ano seguido, SP bate recorde de feminicídios. Ainda sem os dados de dezembro, 2024 já superou 2023. Disso Tarcísio não fala quando diz que se orgulha do secretário de segurança Derrite. A vida das mulheres não conta para o governo”.
Como se vê, a estratégia de guerra aos pobres é bastante eficiente para servir de palanque eleitoral, mas se mostra falida para proteger a vida da maioria da população.
Para haver mudanças efetivas é preciso, por exemplo, desmilitarizar a segurança para que de fato ela seja voltada às necessidades da maioria. Mas isso precisa vir acompanhado do poder político dos trabalhadores, para que nessa área como em todas as demais seja nosso povo quem defina como o Estado deve atuar.
Policiais de elite trabalhavam para o PCC
Outro fato recente é a revelação do envolvimento de policiais com o crime organizado. A execução de um delator do PCC em pleno aeroporto internacional de Guarulhos no final do ano passado é somente a parte mais chamativa disso.
A corrupção chega até a Rota, a tropa de elite paulista, que tanto orgulha Tarcísio e é central na reconfiguração de poder dentro da PM que vem sendo implementada pelo governo paulista.
Segundo o site Metrópoles, a PM e o Ministério Público sabem desde 2021 que policiais recebiam pagamentos milionários para vazar com antecedência informações de interesse dos criminosos. Uma liderança do PCC chegou a escapar de ser preso por ter sido avisado a tempo.
Mas o dado mais revelador é que há quatro anos o então comandante da Rota, coronel José Augusto Coutinho, foi comunicado sobre os fatos acima. No entanto, nada fez. Onde está Coutinho hoje? Foi promovido a número 2 na hierarquia da PM paulista.
A ligação de policiais com criminosos é antiga e bastante conhecida. O que os episódios recentes revelam é que, a despeito do discurso alimentado nas forças especiais, elas não estão blindadas contra a corrupção.
Essa é mais uma consequência da falta de controle popular sobre o aparato repressivo do Estado. Em uma democracia dos trabalhadores, haverá a necessidade da eleição dos comandos nos bairros.
Fora, Derrite!
Por todo o cenário descrito e pelas ambições políticas de Tarcísio, tem importância nacional organizar a luta pela demissão do secretário paulista. Ele é um símbolo do pior que a burguesia pode oferecer, e sua queda fortalece a batalha em todo o país contra a violência do Estado dos ricos.
Ainda mais num momento em que prefeitos de cidades importantes começam os mandatos fazendo avançar a transformação das guardas municipais em pequenas PMs, governos estaduais de “esquerda” investem na brutalidade policial, a exemplo do PT na Bahia, e o governo Lula reafirma a militarização da Segurança Pública.