Fachada do Colégio Bandeirantes, em São Paulo – Foto: Reprodução

A função da escola é acolher jovens, especialmente em situação de vulnerabilidade, disse o colunista Leonardo Sakamoto no UOL News desta terça-feira (27).

Após o suicídio do jovem que sofria bullying no Colégio Bandeirantes, em São Paulo, o assessor do núcleo de estratégia e inovação da escola, Mauro Salles Aguiar disse, em uma reunião, que a “escola não é clínica de psicologia”.

”O suicídio do aluno do Bandeirantes lembra que a escola precisa ensinar, mas também precisa aprender a ter empatia. O que mais me chocou nesta história foi exatamente o teor desta reunião. Tinham muitos alunos extremamente fragilizados, vulnerabilizados e chocados com o que tinha acontecido. Alunos bolsistas que queriam o posicionamento da escola, que queriam ser acolhidos. Essa fala do membro do conselho da escola mostrou que a empatia passou longe”.

”Primeiro, não é função da escola, é função de todas as instituições sociais acolher jovens, ainda mais em situação de vulnerabilidade. A escola é uma dessas instituições. Uma série de instituições como o trabalho e a família, tem que ter essa preocupação especial. Segundo, antes que uma guerra ideológica se estabeleça sobre a morte da pessoa, vale lembrar o que é repetido sistematicamente para os profissionais que atuam nesta área: ‘o suicidio ou a idealização do suicidio raramente tem uma causa única’. Normalmente, tem vários motivos, nem sempre fáceis, para serem identificados pela escola, pelo amigo? Falar da depressão é uma parte deles, falar do bullying que sofria por ser pobre, por ser periférico e por ser gay também é parte disso. Tratar e atuar esses elementos ajuda, não vai resolver. Ninguém está culpando a escola, falando ‘a escola que matou’, não. Mas identificar essa vulnerabilidade e atuar é fundamental”.

Para Sakamoto, a discussão do colégio Bandeirantes de querer rever acordo com ONG que escolhe bolsistas é bizarro.

”Quando as pessoas falam ‘ah mas a questão das bolsas tem que ser pensado’… O que está discutindo é uma coisa bizarra. ‘Se o Bandeirantes deve ter ou não programa de bolsas porque isso mostra que os jovens não estão acostumados e não conseguem viver nesse ambiente de ricos e eles são pobres?’ Pelo amor de Deus, se não conseguir conviver a culpa é da escola. A convivência é garantia da escola e das organizações que estão em volta, seja a Ismart ou qualquer que seja. Não adianta você colocar um jovem lá e ‘tudo se resolve e vai ter que aprender’. Essa é uma forma de ensino que se resume a um tecnicismo bizarro, do tipo ‘o que importa é o que as pessoas vão aprender num ponto de visto técnico’ e não pode ser. A escola e as organizações precisam acolher, não precisa ter 100 pessoas 24 horas por dia, mas precisa garantir um número de gente suficiente para atender a situação dessas crianças e integrá-las naquele tecido social da escola”.

”A sociedade, equivocadamente e sistematicamente, culpa as pessoas, os familiares e os amigos pelo que acontecem nesses momentos. A gente viu até o Pablo Marçal fazer isso com a Tabata nesta eleição, o que é um ato sádico. A primeira foi vítima de uma dor profunda, para a qual não havia saída se não a morte. A família e os amigos também já se culpam o suficiente pensando o que poderia ter feito”.

A deputada e candidata à Prefeitura de SP Tabata Amaral – Foto: Reprodução

”O cuidado com a saúde mental dos nossos jovens é a diferença da vida e da morte em uma sociedade que impõe e cobra obediência e padrões inalcançáveis, que chamam a crítica e ao bullying de bobagem. A sociedade dita com que a gente deve se relacionar, que monitora sete dias da semana, 24 horas por dia o comportamento via redes, cancelando sumariamente qualquer deslize. Então, por favor, acho esse momento é importantíssimo, deveria melhorar o serviço do SUS com terapias, e o atendimento em instituições. A gente precisa ser uma sociedade pronta a acolher, não pronta a criticar”.

Originalmente publicado em Uol

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Last Update: 28/08/2024