Morreu nesta terça (7), aos 96 anos, Jean-Marie Le Pen, fundador do partido de extrema direita Frente Nacional (FN) e figura histórica do reacionarismo europeu. A família do político confirmou o óbito e informou que ele estava internado em uma casa de repouso nos arredores de Paris há semanas, com a saúde debilitada.

Le Pen consolidou ao longo de sete décadas uma trajetória marcada pelo discurso de ódio, negacionismo histórico e retórica xenofóbica, deixando um legado de intolerância que influenciou a ascensão da extrema direita na Europa. Entre as suas inúmeras declarações polêmicas está a minimização do Holocausto, descrito por ele como “um detalhe” da Segunda Guerra Mundial, o que resultou em diversas condenações judiciais por incitação ao ódio racial.

Ex-paraquedista do Exército francês, Le Pen combateu nas guerras coloniais da França na Indochina e na Argélia, consolidando uma visão militarista e nostálgica do império francês. Essa visão orientou sua atuação política desde que ingressou na Assembleia Nacional, em 1956. A criação da Frente Nacional em 1972 marcou a tentativa de unificar grupos reacionários, inclusive ex-colaboradores do regime nazista de Vichy.

A liderança de Le Pen foi responsável por arrastar o discurso de extrema direita para o centro do debate político francês, culminando em 2002, quando chocou o mundo ao avançar para o segundo turno da eleição presidencial contra Jacques Chirac. O resultado, no entanto, foi uma derrota esmagadora, refletindo a mobilização de amplos setores da sociedade francesa que enxergavam nele uma ameaça à democracia e à convivência pacífica.

Nos últimos anos, Le Pen foi expulso da própria legenda pela filha, Marine Le Pen, atual líder da extrema direita francesa e responsável por uma tentativa de “desdiabolização” do partido, agora rebatizado de Reunião Nacional (RN). Apesar da ruptura familiar e política, Marine manteve o discurso anti-imigração e nacionalista, buscando adaptar o legado extremista do pai para torná-lo eleitoralmente mais viável.

A morte de Jean-Marie Le Pen marca o fim de um capítulo sombrio da história política francesa, mas suas ideias seguem ecoando em setores da direita radical, que continuam a explorar o medo e a intolerância como instrumentos de mobilização popular.

O presidente Emmanuel Macron comentou brevemente a morte de Le Pen, destacando que “cabe à História julgar” o papel desempenhado pelo político. Por outro lado, figuras progressistas como Jean-Luc Mélenchon ressaltaram que, embora a luta contra o homem tenha terminado, a batalha contra o racismo e o antissemitismo que ele propagava precisa continuar.

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Last Update: 07/01/2025