Um momento inédito no processo da trama golpista está marcado para a próxima terça-feira (24): a acareação entre Mauro Cid, ex-ajudante-de-ordens de Jair Bolsonaro, e o general Walter Braga Netto, seu ex-ministro e ex-candidato a vice. Embora a defesa do general tenha solicitado o adiamento, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu manter a data.
A sessão em que ambos ficarão frente a frente para confrontar versões sobre a tentativa de golpe foi solicitada pelos advogados de Braga Netto e começará às 10h, a portas fechadas. Braga Netto está preso no Rio de Janeiro, mas comparecerá presencialmente em Brasília.
Segundo os advogados, há divergências nas informações fornecidas por Cid durante os interrogatórios. A defesa do general sustenta que são necessários esclarecimentos sobre as acusações de que ele tratou do plano Punhal Verde e Amarelo — que pretendia matar o presidente Lula, seu vice, Geraldo Alckmin e o próprio Moraes — , e que teria entregue a Cid dinheiro em uma sacola de vinho.
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Ao ser interrogado na semana passada pelo ministro-relator, Braga Netto negou conhecer o plano, bem como o repasse do dinheiro a Cid. O montante teria como destino final militares que faziam parte do esquadrão de elite do Exército, chamados de “kids pretos”.
Outra acareação acontecerá na sequência, a partir das 11h: a de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e réu, e o general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, testemunha na ação. Esta também foi solicitada pela defesa e terá como foco a averiguação de informação dada por Freire Gomes de que o ex-titular da Justiça teria participado de reunião sobre o planejamento do golpe.
Na decisão sobre as acareações, Moraes negou pedido feito pela defesa de Bolsonaro para anular a delação de Mauro Cid. O ministro classificou a tentativa de “irrelevante, impertinente ou protelatória”.
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Além disso, Moraes também determinou à Marinha que informe, em 48 horas, a data em que foi expedida a Ordem de Movimento relativa à Operação Formosa 2021— quando houve um desfile de blindados da na Esplanada dos Ministérios enquanto o Congresso analisava projeto sobre voto impresso nas eleições, defendido pelos bolsonaristas como forma de descredibilizar o sistema atual. O desfile foi visto como uma tentativa de intimidação dos parlamentares pela Marinha.
Atendendo a um pedido de Anderson Torres, o relator também determinou que a empresa Google informe, em 48 horas, os dados do responsável pela inserção em domínio público da chamada “minuta do golpe”, que previa a decretação do estado de Defesa.