A esquerda pequeno-burguesa mergulhou de vez em sua sanha reacionária e censuradora, chegando ao ponto de promover a defesa incondicional do ministro Alexandre de Moraes — o qual atua, dia e noite, para impor o maior número possível de arbitrariedades e irregularidades jurídicas contra Bolsonaro, os bolsonaristas e, consequentemente, contra a própria população.
O oportunismo mesquinho que leva setores a defenderem um ministro golpista e inimigo do povo por mero cálculo eleitoral fica evidente na coluna publicada no sítio Brasil 247, intitulada “A defesa incondicional do ministro Alexandre de Moraes”, assinada pelo articulista Arnóbio Rocha.
A matéria começa descrevendo o que o autor considera uma “escalada preocupante” por parte de Bolsonaro e de seus apoiadores, após a decretação de sua prisão domiciliar — medida que, segundo ele, teria sido tomada “por razões óbvias”: “o descumprimento das medidas cautelares, que ele insistia em desmoralizar para afrontar a ordem judicial”.
A alegação é totalmente falsa. A medida cautelar — ilegal desde a origem — imposta por Alexandre de Moraes determinava que o ex-presidente usasse tornozeleira eletrônica, não publicasse nas redes sociais e não se comunicasse com investigados ou autoridades estrangeiras.
Posteriormente, Moraes acrescentou uma proibição ainda mais absurda e autoritária: Bolsonaro não poderia sequer aparecer em publicações de redes sociais de terceiros. Trata-se de uma exigência ditatorial, antidemocrática e, na prática, impossível de cumprir.
Na tentativa de “regular” essa impossibilidade, o STF estabeleceu, por escrito, o que não poderia ser dito ou divulgado sobre o ex-presidente:
“Em outras palavras será considerado burla à proibição imposta pela PRIMEIRA TURMA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ao réu JAIR MESSIAS BOLSONARO, à replicação de conteúdo de entrevista ou de discursos públicos ou privados reiterando as mesmas afirmações caracterizadoras das infrações penais que ensejaram a imposição das medidas cautelares, para que, posteriormente, por meio de ‘milícias digitais’, ou mesmo apoiadores políticos, ou ainda, por outros investigados, em patente coordenação, ocorra a divulgação do conteúdo ilícito previamente elaborado especialmente para ampliar a desinformação nas redes sociais.”
Segue abaixo o discurso, na íntegra, de Jair Bolsonaro, proferido por ligação telefônica durante o ato em Copacabana, para que o leitor julgue se houve “reiteração das mesmas afirmações” que teriam motivado as medidas cautelares:
“Boa tarde Copacabana, boa tarde meu Brasil, um abraço a todos. É pela nossa liberdade, estamos juntos. Obrigado a todos, é pela nossa liberdade, pelo nosso futuro, pelo nosso Brasil. Sempre estaremos juntos! Valeu!”
O conteúdo, evidentemente, não contém nada que possa ser enquadrado — nem pelo mais ferrenho defensor da tese de “golpe de Estado” — como criminoso ou passível de censura.
O articulista prossegue atacando os parlamentares bolsonaristas que protestaram na Câmara e no Senado para pressionar os presidentes das Casas a pautarem a anistia:
“No mesmo pacote de ofensiva institucional, parlamentares se prestaram ao espetáculo grotesco de impedir a reabertura do Congresso Nacional, tomando as mesas das casas legislativas e tampando suas bocas — gesto que beira o freudiano: silenciam porque não têm como explicar a defesa de um réu.”
Arnóbio classifica isso como “ofensiva institucional”, mas a esquerda pequeno-burguesa já realizou inúmeras ações semelhantes. A tomada das mesas é prática comum no Parlamento brasileiro. O próprio PT ocupou mesas diretoras em 2017, para impedir a votação da reforma trabalhista, e em 2016, para protestar contra a mudança na lei do Pré-Sal.
Nesses casos, os parlamentares do PT agiram de forma incorreta? Cometeram uma “ofensiva institucional”? Isso sem entrar no mérito de que criticar as instituições é direito de todo cidadão, inclusive de parlamentares. O STF atua de maneira ditatorial, anula decisões do Congresso e usurpa seu papel de legislador. Nessas condições, tal forma de protesto se torna, muitas vezes, a única alternativa possível.
Por fim, o autor levanta a absurda tese de que:
“Diante disso, cabe a nós sustentar uma defesa incondicional do ministro Alexandre de Moraes, que hoje representa a proteção da Constituição, da democracia e da soberania nacional.”
E encerra com uma “patriotada”:
“Força, ministro Alexandre de Moraes. Viaje o Brasil. Pátria livre e soberana!”
Ainda que se possa dizer que é necessário defender a soberania nacional — e isso é um fato —, a posição correta é defender o Brasil contra a ingerência de Donald Trump e de qualquer outro agente estrangeiro, e ponto final. É preciso rejeitar as ameaças do presidente norte-americano e qualquer tentativa de interferência no funcionamento das instituições brasileiras. Isso, porém, nada tem a ver com apoiar a política arbitrária de Moraes, como faz o colunista.
É sintomático que, durante todo esse período, setores da esquerda pequeno-burguesa tenham acusado o Partido da Causa Operária (PCO) e outras organizações que lutam contra a censura de “defender Bolsonaro” simplesmente por se colocarem contra as arbitrariedades do Judiciário e pela defesa dos direitos democráticos do povo. Esses setores afirmavam que tal postura significava alinhamento político com a extrema-direita, quando, na realidade, tratava-se da defesa de um princípio elementar: as liberdades democráticas, que devem valer para todos.
Agora, esses mesmos que lançavam tais acusações não demonstram qualquer pudor em defender abertamente o ministro golpista que hoje ocupa o STF e conduz uma cruzada contra os direitos da população. Ao contrário da defesa de um princípio, trata-se aqui da defesa direta de um homem e de sua política autoritária.
Essa posição não tem nada de “estratégia” contra a extrema-direita: é colaboração direta com o aparato repressivo do regime golpista, a serviço do imperialismo. O oportunismo da esquerda pequeno-burguesa impede que ela compreenda a natureza do golpe em curso no Brasil e a desmoralização que a política de Alexandre de Moraes provoca em toda a esquerda nacional.