Mônica Valente destaca a importância de respeitar a estrutura governamental da Venezuela

O programa Café PT desta quarta-feira (7) recebeu Mônica Valente, secretária executiva do Foro de São Paulo e membro do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), para uma conversa sobre as recentes eleições presidenciais na Venezuela. Valente viajou a Caracas, enquanto observadora internacional, para acompanhar o pleito ocorrido no país vizinho. Na avaliação dela, a interferência dos Estados Unidos nos assuntos internos venezuelanos está na raiz da duradoura crise política e econômica.

“Nós não queremos um cenário como o do Oriente Médio ou como o da Ucrânia. Nós queremos o cenário do diálogo, do respeito à soberania, da não ingerência e da negociação”, defendeu, ao rechaçar os conhecidos interesses norte-americanos nas extensas reservas de petróleo da Venezuela, as maiores do mundo.

Valente enalteceu a postura dos governos do Brasil, do México e da Colômbia, que exigiram a divulgação das atas de votação pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano, para que pudessem reconhecer o resultado e para estabelecerem diálogo com o presidente Nicolás Maduro. Há cinco dias, o CNE anunciou que Maduro havia sido reeleito com mais de 50% dos votos.

“O presidente Lula é um chefe de Estado, mas é um chefe de Estado muito cuidadoso […] Porque ele sabe que é preciso criar um ambiente político, com relação à Venezuela, em primeiro lugar, para tratar desse assunto no âmbito da nossa região”, descreveu a secretária executiva do Foro de São Paulo.

“Para isso, a gente construiu a Unasul, construiu a Celac. Para que essa vocação que nós temos como região, que é a vocação pela paz e solução negociada dos conflitos, ela siga firme e forte”, acrescentou, referindo-se à União das Nações Sul-Americanas e à Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos.

O presidente Lula ligou, nesta quarta, para os presidentes do México, Andrés Manuel López Obrador, e da Colômbia, Gustavo Petro, para chegarem a um consenso antes de conversarem com Maduro e com o candidato Edmundo González, que ficou em segundo lugar nas eleições presidenciais venezuelanas, com cerca de 43% dos votos, segundo o CNE.

Institucionalidade venezuelana

Durante a entrevista, Valente também discorreu longamente sobre as instituições da Venezuela e sobre o que viu no dia da votação. Para a petista, a imprensa comercial do Brasil é “tendenciosa” e não consegue informar corretamente o público acerca do funcionamento do CNE, o que acaba por recrudescer o conflito político na região.

“Existe um Conselho Nacional Eleitoral, uma Suprema Corte, que estão de acordo com a Constituição venezuelana […] ou seja, é preciso respeitar a institucionalidade desse país, assim como nós gostamos que respeitem as nossas instituições, o nosso TSE, a nossa Suprema Corte, por mais que alguns de nós tenhamos questionamentos”, explicou, antes de recomendar um artigo produzido pela jurista Carol Proner e publicado pelo site Brasil 247.

Valente lembrou ainda que a principal líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, que mantém ligações com a extrema direita internacional, foi considerada inelegível pela justiça e que o CNE “não é um grupo de amigos do Maduro” por dispor de membros escolhidos pelos próprios opositores do presidente.

“Dentro da oposição venezuelana, você tem uma parte que participa ativamente da institucionalidade […] e uma parte da oposição, que é liderada pela Maria Corina inelegível, que não concordava com isso. E é essa parte que tem uma prática, que não é nova para a Venezuela, de manifestações violentas nas ruas”, esclarece Valente, para quem a polarização no país vizinho é semelhante à percebida no Brasil.

Mercosul

A secretária executiva do Foro de São Paulo argumentou a favor do regresso venezuelano ao Mercosul por questões econômicas. Em 2016, de maneira controversa, Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai suspenderam a Venezuela do bloco por tempo indeterminado, embora o país ostentasse, à época, o status de membro permanente.

“Os atores empresariais brasileiros e de outros países têm interesse, sim, que a Venezuela volte ao Mercosul […] Porque é a maior reserva de petróleo do mundo e eles têm muito ouro também”, resumiu. “Para ajudar também a criar canais de uma integração econômica mais estável entre os nossos países, integração energética, de infraestrutura, o Corredor Bioceânico entre o Atlântico e o Pacífico para escoar a produção para a região da Ásia, integração energética, preservação da Amazônia”, enumerou Valente.

Da Redação

Artigo Anterior

Intrigas políticas envolvem escolha do candidato do Republicanos em Belo Horizonte

Próximo Artigo

Kassio concede prazo adicional de 45 dias para discussão sobre influência do governo na Eletrobras

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter por e-mail para receber as últimas publicações diretamente na sua caixa de entrada.
Não enviaremos spam!