
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, protagonizou neste sábado (21) mais um episódio da combinação entre privilégio e autopromoção, ao aparecer em vídeo cumprimentando o Papa Leão XIV no Vaticano.
O registro, divulgado por Jair Bolsonaro nas redes sociais, veio acompanhado da frase “Ore pelo Brasil”, em português e inglês. A publicação, no entanto, tem menos a ver com espiritualidade e mais com estratégia de imagem.
A viagem de Flávio à Itália está sendo feita com recursos públicos e ocorre em meio a um feriado prolongado.
Apesar de se apresentar como peregrino em missão de fé, o senador furou a fila de fiéis no Vaticano com o uso do passaporte diplomático e obteve acesso privilegiado ao pontífice, enquanto brasileiros comuns esperavam por horas. O gesto simbólico de “pedir orações pelo Brasil” parece menos espontâneo diante da encenação cuidadosamente registrada para as redes.
Mais do que um simples passeio, a agenda do “01” incluiu visitas ao Parlamento italiano ao lado dos deputados Cláudio Cajado (PP-BA) e Átila Lins (PSD-AM), onde se reuniram com representantes do Bahrein. Nenhum deles explicou o real objetivo dos encontros. Flávio tampouco apresentou justificativas para a viagem, alimentando suspeitas de articulações com membros da extrema direita italiana — grupo com o qual o bolsonarismo mantém afinidades ideológicas.
A presença em Roma coincide com o esforço internacional de setores bolsonaristas para criar narrativas contra as instituições democráticas brasileiras, numa tentativa de se vitimizar e desgastar o sistema de Justiça do país, e por tabela, o governo Lula.
Ao tentar se associar a figuras de peso simbólico global, como o papa, Flávio busca legitimidade para um projeto político que, no fundo, segue marcado por investigações, negacionismo e afrontas à ordem institucional.
O vídeo publicado por Jair Bolsonaro, réu por tentativa de golpe de Estado, se revela, portanto, mais uma peça de marketing. Longe de representar um gesto de fé, trata-se de uma encenação diplomática com fins políticos, bancada com dinheiro do contribuinte e recheada de intenções pouco republicanas. O que de fato importa nesta cena é o registro de uma visita de cortesia de Flávio Bolsonaro a Matteo Salvini, senador e vice-primeiro ministro da Itália, notório representante da extrema-direita européia.
– “Pray for Brazil”
– “Ore pelo Brasil.”
– Senador @FlavioBolsonaro . pic.twitter.com/Pu21BDMDJl— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) June 21, 2025
Bolsonaro internado:
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) realizou uma bateria de exames neste sábado (21) no Hospital DF Star, em Brasília, após passar mal durante compromissos políticos em Goiás nos últimos dias. Os procedimentos incluíram coleta de sangue e tomografia computadorizada, conforme informou sua assessoria.
A crise de saúde começou a se manifestar na quinta-feira (19), durante cerimônia na Câmara Municipal de Aparecida de Goiânia, onde Bolsonaro recebeu o título de cidadão aparecidense.
Em meio ao discurso, visivelmente debilitado, o ex-presidente interrompeu sua fala: “Desculpa, é que eu estou muito mal, vomito dez vezes por dia, talvez a 11ª daqui a pouco aí”. O episódio foi marcado por soluços frequentes e evidente desconforto físico.
Na sexta-feira (20), a situação se agravou, levando ao cancelamento de uma agenda em Anápolis. Bolsonaro chegou a participar de um evento em um frigorífico em Goiânia pela manhã, mas permaneceu apenas 20 minutos antes de se retirar para repousar. “Desculpa, estou muito mal. Vomito 10 vezes por dia”, declarou, em tom de desabafo ao deixar o local.
Após tomar medicamentos que aliviaram parcialmente os sintomas, porém causando sonolência, o ex-presidente decidiu retornar a Brasília antes do previsto.

Papa progressista
O cardeal estadunidense Robert Francis Prevost, de 69 anos, foi o escolhido sucessor de Papa Francisco e adotou o nome Leão XIV. Nascido em Chicago, Prevost é visto como próximo ao antecessor, de quem herdou não apenas o estilo pastoral, mas também parte da linha de pensamento. Ele se torna o primeiro papa dos Estados Unidos na história da Igreja.
Ex-prefeito do influente Dicastério para os Bispos, Prevost era considerado um nome de consenso entre os cardeais caso os favoritos enfrentassem impasse. Sua atuação em missões no Peru durante décadas, somada à fluência nos assuntos da Cúria Romana, ampliou sua aceitação entre diferentes blocos do colégio cardinalício.
Prevost ingressou na Ordem de Santo Agostinho em 1977 e fez seus votos solenes em 1981. Formado em Matemática pela Universidade de Villanova, possui mestrado em Teologia pelo Catholic Theological Union, em Chicago, e licenciatura e doutorado em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Santo Tomás de Aquino, em Roma. Sua tese de doutorado tratou do papel do prior local na ordem agostiniana.
Missionário no Peru a partir de 1985, exerceu funções como chanceler, professor, diretor de seminário, pároco, vigário judicial e responsável por formação. Voltou aos EUA em 1999 e foi eleito provincial. Dois anos depois, se tornou prior-geral da ordem agostiniana e permaneceu no cargo por dois mandatos, até 2013.
Em 2014, foi nomeado administrador apostólico da Diocese de Chiclayo pelo papa Francisco e, no ano seguinte, assumiu como bispo titular. Ali ganhou protagonismo político, sendo um dos líderes do episcopado peruano durante as sucessivas crises institucionais no país. Também atuou como administrador apostólico de Callao entre 2020 e 2021.
Prevost foi escolhido por Francisco em 2023 para ser prefeito do Dicastério para os Bispos, órgão central na escolha de bispos no mundo inteiro. Ainda naquele ano, em 30 de setembro, foi elevado ao cardinalato. Discreto na mídia, era elogiado internamente por sua capacidade de escuta e pela objetividade com que tratava os temas mais sensíveis da Igreja.
O novo papa compartilha das prioridades do antecessor, como a preocupação com o meio ambiente, a atenção aos pobres e migrantes e uma postura menos rígida no trato pastoral. Apoia a comunhão para divorciados recasados e, embora mais reservado que Francisco nas questões LGBTQIA+, demonstrou apoio moderado ao documento Fiducia Supplicans, que trata das bênçãos a casais em situação irregular.