Redação Viomundo

Mirko Casale é o roteirista, apresentador e diretor do programa Ahí les va! (Aí, está!), que há cinco anos a RT transmite para países de língua espanhola.

Mirko abre este programa dizendo: ”Hoje vamos falar sobre a história esquecida do gueto de Gaza, perdão, do gueto de Varsóvia”.

“Não sei o que eu estava pensando. Uma lição de eventos presentes, perdão, passados, que alguns aparentemente aprenderam ao contrário”, emenda.

Pura ironia.

Neste programa, Mirko recorre o tempo todo à ironia para escancarar as semelhanças entre o que a Alemanha nazista fez com os judeus no Gueto de Varsóvia, na Segunda Guerra Mundial, e o que Israel faz hoje com os palestinos em Gaza.  Só que os sionistas fazem questão de ignorar.

Como vivemos em tempos de liberdade condicional de expressão nas redes sociais, Mirko alerta: ”Prestem muita atenção às nossas palavras nos minutos seguintes. Porque vamos dizer, sem dizer, quase tanto, ou até mais, do que estaremos dizendo”.

Aí vai, o restante do programa.

A ESTARRECEDORA HISTÓRIA DO GUETO DE GAZA

Por Mirko Casale — Transcrição e tradução ao português de Jair de Souza

Em 1939, logo após invadir a Polônia, a Alemanha nazista começou a concentrar a população judaica em bairros designados para tal, mais impopularmente conhecidos como guetos, em várias cidades polonesas. O mais tristemente famoso deles foi, de longe, o gueto de Varsóvia.

Lá, a população judaica foi confinada em um território fechado do qual não podiam sair, alocados em um espaço muito pequeno e em condições deploráveis, com graves carências médicas e alimentares, e sob a estrita vigilância dos militares alemães. A zona estava cercada por arame farpado, e qualquer um que tentasse atravessá-lo era imediatamente baleado.

Nada a ver com a situação existente em Gaza por décadas. Não pensem que neste programa faríamos uma comparação assim. Deus nos livre.

Neste vídeo vamos falar do passado, e apenas do passado. Claro que sim!

A entrada de mercadorias no gueto era intencionalmente restringida, o que imediatamente gerou todo um sistema sofisticado de corrupção e contrabando, e enormes diferenças sociais entre os habitantes do gueto. Com alguns deles levando uma vida semelhante à que tinham antes de serem confinados e outros morrendo de fome, ou das doenças resultantes das condições insalubres do lugar.

É claro que as autoridades hitleristas negavam qualquer responsabilidade por esta situação e até culpavam os próprios judeus por sofrer essas penúrias, acusando-os de serem os responsáveis, por serem frouxos, corruptos e inferiores.

Nenhum paralelo com o discurso israelense sobre as desgraças dos habitantes de Gaza ao longo de todos esses anos. De jeito nenhum! Como alguém poderia estabelecer esse tipo de comparações? Por favor!

Para fingir que tinham alguma humanidade, os nazistas permitiam que no gueto de Varsóvia houvesse escolas, cinemas, restaurantes e outros centros de lazer onde se celebravam atividades culturais como concertos. Mais de 50 cafés e até casas noturnas funcionavam ali, frequentados pelos mais privilegiados, ou melhor, os menos marginalizados.

Uma realidade que contrastava com as condições de extrema pobreza e marginalidade da grande maioria de seus habitantes. Mas que permitia à propaganda nazista argumentar que ali reinava uma certa normalidade. E se não viviam melhor, era porque não queriam. Absolutamente, nada comparável aos argumentos israelenses de todos esses anos, segundo os quais em Gaza tinham tudo para ser felizes e não viviam melhor porque em vez de aproveitar a vida se dedicavam a tentar recuperar os territórios ocupados à força, gastando dinheiro com armas e foguetes.

Zero de coincidência!

Com o passar dos anos, a situação no gueto de Varsóvia tornou-se insustentável, especialmente quando seus habitantes começaram a ser deportados para vários campos de extermínio na Polônia e na Alemanha. O que inicialmente soava como meros rumores tornou-se uma certeza. A única saída que restava era a rebelião armada.

Cuidado, isto não deve ser comparado com a luta armada dos palestinos, que não é uma luta armada justificada, mas sim uma luta armada antissemita. Como já sabem.

Pouco a pouco, diferentes grupos armados começaram a surgir no gueto, dispostos a cobrar a conta dos responsáveis por suas desgraças, ao custo que fosse necessário.

Os dois principais foram a Organização de Combate Judaica, de orientação socialista, e a União Militar Judaica, de tendência mais à direita. Apesar de suas diferenças ideológicas, ambos os grupos trabalharam ombro a ombro na preparação da resistência armada.

Nem um só ponto comparável com grupos como a esquerdista e laica Frente Popular para a Libertação da Palestina e o conservador e islamista Hamas, que uniram suas forças contra os ocupantes por pura maldade. Obviamente!

Desde 1942, as duas organizações de resistência judaica na Polônia foram se preparando para uma grande revolta, contrabandeando armas e fabricando as suas próprias artesanalmente.

Com paciência, dedicação e grandes doses de heroísmo, prepararam-se para o confronto final. Mas também o fizeram sem nenhuma hesitação na hora de aplicar medidas drásticas, muito distantes de conceitos como julgamentos justos ou Estado de Direito, compreensivelmente difíceis de aplicar nas situações extremas em que se encontravam.

Assim, os judeus que colaboravam com os nazistas, que sim existiam,…

Foram formados até corpos policiais compostos por judeus sob as ordens das SS para que mantivessem a ordem no gueto,… começaram a ser executados por esses movimentos armados.

Que ninguém ouse comparar isso com o tratamento que os palestinos dão àqueles que colaboram com os israelenses. Porque, no caso deles, apenas demonstra o quão selvagens e incivilizados eles são, evidentemente.

No final de janeiro de 1943, os grupos armados judaicos tiveram embora a um alto custo para suas fileiras, o primeiro grande sucesso em sua resistência armada. Os nazistas entraram no gueto em uma de suas incursões habituais, convencidos de que não encontrariam grande resistência, como em ocasiões anteriores. Mas foram atacados a balas e coquetéis incendiários.

A Organização de Combate Judaica e a União Militar Judaica vinham se preparando para a ação há pelo menos três meses, estocando armas e materiais para montar barricadas em vários setores do bairro. Assim como construindo bunkers subterrâneos, nos quais se ocultavam e atacavam sem serem vistos.

Por favor, sem comparação com os infames túneis do Hamás. Isso é pura engenharia terrorista, não tem cor. Não tem como estabelecer equivalências aqui,

No entanto, a data mais gloriosa e heróica da resistência dos moradores do gueto de Varsóvia, imortalizada nos livros de história, foi 19 de abril de 1943, quando uma nova entrada dos alemães no local foi recebida com uma chuva ainda maior de balas, granadas e artefatos incendiários, dos telhados e dos esgotos, pelas organizações armadas judaicas. Assim, os nazistas sofreram cerca de 60 baixas, entre elas um punhado de oficiais das SS, e tiveram que recuar e se reorganizar.

Cuidado para não traçar paralelos com uma data como 7 de outubro de 2023. Isso foi puro terrorismo sem justificativa, caso haja dúvidas!

Nos dias e semanas seguintes, ao se sentirem humilhadas, as autoridades hitleristas decidiram arrasar com todo o gueto, destruindo sistematicamente cada uma das casas que ainda se mantinham de pé, mediante o uso de explosivos e lança-chamas. Sem discriminar se em seu interior havia membros da resistência, idosos, mulheres ou crianças.

Não vão faltar manipuladores que queiram comparar isso com a campanha israelenses contra Gaza, que ainda continua em marcha, deixando dezenas de milhares de civis mortos. Por favor, não somos dessa classe de gente que faz comparações sem fundamentos, não!

Finalmente, os nazistas arrasaram totalmente o gueto que eles mesmos haviam criado, e se sentiram vencedores ao fazê-lo. Mas, acabaram perdendo a guerra e sendo repudiados pela imensa maioria da humanidade, durante as décadas seguintes.

Seguramente, esta deve ser a principal lição moral de uma história que não requer que se faça comparações com o presente, uma vez que estão aparecem por si só.

*Mirko Casale é o roteirista, apresentador e diretor do programa Ahí les va! (Aí, está!), que há cinco anos a RT transmite para países de língua espanhola.

*Jair de Souza é economista formado pela UFRJ; mestre em linguística também pela UFRJ.

*Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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Last Update: 26/07/2025