O ex-presidente Jair Bolsonaro durante interrogatório no Supremo Tribunal Federal nesta terça (10). Foto: Fellipe Sampaio/STF

O ex-presidente Jair Bolsonaro prestou depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça (10) e foi interrogado sobre a trama golpista. Acusado de articular formas de barrar a posse do presidente Lula em 2022, ele negou todos os crimes citados na denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Durante a oitiva, Bolsonaro tentou diminuir seu papel na articulação golpista, minimizar as reuniões com militares e dizer que exagerou no tom de algumas declarações. O ex-mandatário disse que em “nenhum momento” foi ameaçado de prisão por dar ordens ilegais.

O brigadeiro Baptista Jr., ex-comandante da Aeronáutica, afirmou que Freire Gomes, ex-chefe do Exército, ameaçou mandar Bolsonaro para a prisão caso prosseguisse com a ideia de ruptura institucional. “As Forças Armadas têm missão legal. Missão ilegal não é cumprida. Em nenhum momento alguém me ameaçou de prisão”, disse nesta terça.

Sobre as reuniões em que teria apresentado a minuta golpista e discutido medidas de intervenção, alegou que as conversas “eram bastante informais” e buscavam medidas legais, “alguma hipótese de um dispositivo constitucional”.

O ex-presidente ainda argumentou que “não tinha clima” ou qualquer “base minimamente sólida” para dar um golpe na ocasião. Segundo ele, o ambiente político da época era de desmobilização.

Bolsonaro voltou a defender o voto impresso e criticar o sistema eletrônico de votação do Brasil, defendendo os modelos da Venezuela e do Paraguai. “No Paraguai, no meu entender, é o ideal. Como passou a existir nas últimas eleições até na Venezuela. Nós não podemos esperar que aconteça isso no Brasil para tomar uma providência”, prosseguiu.

Bolsonaro durante depoimento ao STF nesta terça (10). Foto: Reprodução

Ele pediu desculpas a Alexandre de Moraes e outros ministros do Supremo após acusá-los de “levar milhões de dólares” e sugerir que eles tentaram manipular as eleições daquele ano. “Não tem indícios nenhum, senhor ministro. Me desculpe, não tinha qualquer intenção de acusar de qualquer desvio de conduta os senhores três”, afirmou.

O ex-mandatário disse não ter relação com a minuta golpista, citada por diversos depoentes, e alegou que o documento foi apresentado de forma superficial durante uma reunião, sem passar por discussões aprofundadas. “Foi colocado numa tela na televisão e mostrado de forma rápida ali. Tinha os ‘considerandos’ ali apenas. Não tinha cabeçalho, nem o ‘fecho’. Só isso”, alegou.

Sobre a produção do documento, Bolsonaro se isentou de culpa e afirmou que não “escreveu”, “alterou” ou “digitou” nada relacionado ao texto. “Não se discutiu nada além disso. Foi abandonada qualquer possibilidade de ação”, argumentou.

Ele admitiu ter conversado com generais após a derrota nas urnas em 2022, mas justificou que buscava diálogos amigáveis e “de forma isolada”: “Quando você perde uma eleição, é um vazio que o senhor não imagina. Esse vazio muitas vezes era preenchido com visita e conversa amigável entre eu e alguns oficiais generais das Forças Armadas”.

Ao longo do depoimento, o ex-mandatário ainda detonou os bolsonaristas que pediam um golpe de Estado após a disputa. Ele chamou os apoiadores que sugeriam intervenção federal de “malucos”.

“Alguns poucos falavam até em AI-5. Quantas vezes eu orientava o pessoal que chegava, em movimentos nossos pelo Brasil, eu chegava para quem estava com a placa do AI-5. Questionava: ‘O que é AI-5?’. Eles nem sabiam o que era isso. Intervenção militar, isso não existe. É pedir pro senhor praticar o suicídio, isso não existe. Deixa o pessoal desabafar”, relatou.

Bolsonaro foi o sexto integrante do chamado “núcleo principal” a depor no processo. Já participaram de interrogatórios Mauro Cid (ex-ajudante de ordens), Alexandre Ramagem (ex-chefe da Abin), Almir Garnier (ex-comandante da Marinha), Anderson Torres (ex-ministro da Justiça) e o general Augusto Heleno (ex-ministro-chefe do GSI).

O ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira depõe neste momento e o último dos oito réus do primeiro núcleo, o general Walter Braga Netto, será o último ouvido pela Corte.

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Last Update: 10/06/2025