MintPress News mostra como denunciar ‘Israel’ se tornou um crime

O sítio de jornalismo investigativo MintPress News publicou um artigo denunciando o avanço coordenado das principais potências imperialistas — com destaque para os Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido — na censura e repressão a qualquer crítica ao regime sionista. A reportagem mostra como governos imperialistas estão transformando o apoio à Palestina em crime, numa escalada repressiva que conta com forte pressão de entidades do lobby sionista e se desenvolve sob o pretexto da “luta contra o antissemitismo”.

A ingerência sionista na legislação norte-americana

A interferência direta do Estado sionista nos marcos legais dos Estados Unidos não é um fenômeno recente, mas tem ficado cada vez mais escancarada. Em fevereiro de 2020, o primeiro-ministro de “Israel”, Benjamin Netaniahu, declarou publicamente que Telavive havia atuado para “promover leis na maioria dos estados norte-americanos” com o objetivo de punir boicotes contra o regime de ocupação.

A partir dessa atuação, mais de 30 estados norte-americanos passaram a exigir de entidades públicas, empresas e até indivíduos a assinatura de cláusulas contratuais contrárias ao movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções). Sem essa declaração, hospitais, universidades, escolas e prefeituras não podem contratar serviços. Uma exigência que, na prática, funciona como um juramento de fidelidade a um Estado estrangeiro.

O caso da professora Bahia Amawi, demitida por se recusar a assinar uma cláusula contra o BDS no Texas, é exemplo disso. Mesmo após decisões judiciais que classificaram essa exigência como “discurso forçado” e, portanto, inconstitucional — como decidiu um juiz federal da Geórgia em 2021 —, governos estaduais continuam a aplicar as mesmas medidas de formas diferentes.

Após 7 de outubro de 2023

Com a intensificação da ofensiva genocida em Gaza, após a heroica Operação Dilúvio de Al-Aqsa em 7 de outubro de 2023, o Congresso norte-americano acelerou a tramitação de projetos de lei que ampliam a repressão. Um dos principais exemplos é o projeto H.R. 6090, a chamada Antisemitism Awareness Act, apresentado pelo deputado republicano Mike Lawler, um dos maiores beneficiários do lobby sionista — recebeu US$392.669 da AIPAC apenas em 2023 e 2024.

A proposta obriga o Departamento de Educação dos EUA a adotar a definição da IHRA (Aliança Internacional para a Memória do Holocausto) de antissemitismo — definição que confude propositalmente críticas ao sionismo com ódio a judeus. Um dos próprios redatores dessa definição, o jurista Kenneth Stern, denunciou que seu uso tem sido distorcido para censurar estudantes, professores e movimentos sociais que denunciam os crimes de “Israel”.

A União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) alertou que a medida impõe uma ameaça direta à liberdade de expressão em instituições de ensino, já que a simples crítica às ações militares sionistas pode ser enquadrada como discurso antissemita. Apesar dos alertas, a Câmara aprovou o projeto por esmagadora maioria: 320 votos a favor e apenas 91 contra. Após travar no Senado, o projeto foi reapresentado pelo deputado Josh Gottheimer, outro beneficiário da AIPAC, que recebeu quase US$800 mil do lobby sionista.

Resoluções contra a luta palestina

Paralelamente, o Congresso aprovou uma resolução no fim de novembro de 2023 que declara como “genocidas” as palavras de ordem mais conhecidas do movimento palestino: “Do rio ao mar, a Palestina será livre” e “Gaza vencerá”. A resolução também proíbe eventos pacíficos, como uma vigília realizada em frente à sede do Partido Democrata, classificada como “ameaça à vida humana”.

A resolução afirma ainda que “o antissionismo é antissemitismo”, tornando a perseguição a todos que se opõem à ocupação sionista da Palestina oficial. Mais de 300 parlamentares votaram a favor da proposta.

Repressão ao estilo macartista

A repressão chega a propor instrumentos semelhantes aos da era do macarthismo. Em dezembro de 2023, a congressista republicana Mariannette Miller-Meeks apresentou o projeto H.R. 6578, que cria uma “Comissão para Estudar Atos de Antissemitismo”. A proposta inclui cláusulas que anulam direitos constitucionais básicos, como o direito ao silêncio. Seu objetivo é claro: abrir uma frente inquisitorial contra estudantes, professores e movimentos que defendem o povo palestino.

A ativista Lara Friedman, do Middle East Forum for Peace, comparou a comissão ao infame Comitê de Atividades Antiamericanas, que, durante a Guerra Fria, perseguiu comunistas, destruiu carreiras e lançou o país em uma era de censura. Agora, o novo alvo é quem ousa criticar “Israel”.

Europa copia modelo norte-americano

Na Alemanha, manifestações pró-Palestina têm sido sistematicamente reprimidas. Ativistas são presos por carregar bandeiras ou entoar palavras de ordem. Em algumas cidades, é proibido falar árabe ou usar símbolos como o triângulo vermelho.

Em um novo nível de autoritarismo, a Alemanha passou a exigir que candidatos à cidadania declarem apoio ao “direito de existência de Israel”. Exigência que obriga o estrangeiro a alinhar-se com a política externa do Estado alemão em troca da naturalização.

No Reino Unido, a perseguição é semelhante. Três manifestantes foram condenados por “apologia ao terrorismo” após exibirem imagens de parapentes em um ato pró-Palestina — mesmo sem qualquer menção à luta armada. Em outubro de 2024, a polícia invadiu a casa do editor do Electronic Intifada, Asa Winstanley, confiscando seus dispositivos eletrônicos.

Winstanley denunciou o uso da definição da IHRA como um instrumento de censura estatal: “ela não protege os judeus, serve apenas para criminalizar os palestinos e seus apoiadores”. Ele cita o caso de uma pedalada solidária para arrecadar fundos para crianças de Gaza, proibida por um conselho local com base nessa definição.

Além disso, o Parlamento britânico tramita o Economic Activity of Public Bodies (Overseas Matters) Bill, que proíbe órgãos públicos de boicotar qualquer país estrangeiro por motivos políticos ou morais. A lei tem como alvo explícito o movimento BDS. Segundo o ministro Michael Gove, “esses boicotes promovem discursos antissemitas e precisam ser interrompidos”.

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