O Ministério Público da Bolívia abriu, nesta segunda-feira (9), uma investigação contra o ex-presidente Evo Morales sob a acusação de “terrorismo” e outros crimes relacionados aos bloqueios de estradas que paralisam o país há mais de uma semana. A medida, de caráter evidentemente político, tem como objetivo retirar Morales da disputa nas eleições presidenciais de agosto, repetindo a operação montada contra Cristina Kirchner na Argentina e outros líderes ligados ao movimento operário na América Latina.

A acusação partiu diretamente do governo de Luis Arce, que utilizou como “prova” um vídeo gravado por um ex-dirigente ligado a Morales. Na gravação, de autenticidade duvidosa, se ouve supostamente a voz do ex-presidente orientando um militante a bloquear vias. A mesma manobra foi usada pela extrema-direita em 2019, quando a golpista Jeanine Áñez também tentou incriminar Morales com uma gravação semelhante, igualmente sem consequências judiciais concretas.

Em coletiva de imprensa, o procurador-geral Roger Mariaca anunciou que a denúncia foi aceita e que “todos os mecanismos de investigação” seriam mobilizados. Entre os sete crimes imputados a Morales estão “terrorismo”, “instigação pública à delinquência” e “atentado à segurança dos serviços públicos” — acusações vagas e típicas do arsenal jurídico utilizado para reprimir movimentos populares.

A movimentação do Ministério Público ocorre no contexto de uma ampla mobilização popular que já registra 28 pontos de bloqueio em todo o país, com maior concentração na região de Cochabamba, reduto histórico do movimento cocaleiro e base política de Morales. Os militantes exigem a renúncia de Luis Arce, a quem acusam de ser o verdadeiro responsável pela crise econômica que atinge duramente os trabalhadores bolivianos, com escassez de combustíveis, alta nos preços dos alimentos e escândalos de corrupção envolvendo a alta cúpula do governo.

Desde outubro do ano passado, Morales se encontra na região do Chapare, onde está refugiado após a emissão de um mandado de prisão por um suposto caso de tráfico de menores, mais uma acusação sem fundamento apresentada com o claro objetivo de desmoralizar sua liderança. “Estão tentando me silenciar como se isso fosse amenizar a dor das mães que fazem fila para comprar um litro de óleo de cozinha ou um quilo de arroz”, afirmou o ex-presidente em nota divulgada após o anúncio da investigação. “A Bolívia precisa de soluções, não de perseguição.”

A tentativa de impedir a candidatura de Evo Morales por meio de um processo judicial fraudulento se insere na política de perseguição promovida pelo imperialismo na América Latina. Assim como ocorreu no Brasil com Lula, no Equador com Rafael Correa e, mais recentemente, na Argentina com Cristina Kirchner, os regimes de tipo policialesco e a ditadura do Judiciário são acionados sempre que um representante minimamente ligado às massas ameaça o controle das oligarquias locais.

Na Argentina, a Suprema Corte confirmou a condenação da ex-presidenta Cristina Kirchner a seis anos de prisão e inabilitação perpétua, rejeitando todos os recursos da defesa e ignorando as provas da parcialidade do processo. Juízes e promotores do caso foram flagrados em conluio com o ex-presidente Macri e com empresários do Grupo Clarín, principal conglomerado de imprensa do país. A operação, semelhante à Lava Jato no Brasil, teve como objetivo retirar Cristina da disputa eleitoral e pavimentar o caminho para o avanço do governo fascista de Javier Milei.

O caso de Morales repete o mesmo roteiro. O presidente Luis Arce, que foi ministro de Morales e hoje atua como ponta de lança da direita boliviana, tenta consolidar seu poder entregando o Estado ao imperialismo e reprimindo o movimento popular. “Pactos com a direita não trarão estabilidade, apenas mais crise”, advertiu Morales.

A acusação de “terrorismo” contra Evo é, portanto, não apenas inverossímil, mas uma tentativa de proscrever a maior liderança popular do país e impedir que o povo boliviano volte a ter uma alternativa ao regime político podre que se instalou após o golpe de 2019.

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Last Update: 11/06/2025