Sob a coordenação do Ministério das Mulheres, foi realizada, em Brasília, na semana passada (24), a Reunião Ministerial de Mulheres do BRICS. O encontro teve como propósito fomentar troca de experiências entre os países, a apresentação por parte do Brasil de três temas prioritários e interligados: Mulheres, Desenvolvimento e Empreendedorismo; Governança Digital: Misoginia e Desinformação; e Empoderamento das Mulheres, Ação Climática e Desenvolvimento Sustentável. Participaram representantes de todos os países-membros do grupo, com exceção da Arábia Saudita.
A anfitriã, ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, fez a abertura do evento e evidenciou que o intercâmbio de boas práticas e o estabelecimento de parcerias estratégicas podem acelerar o progresso em direção à igualdade de gênero em todas as suas dimensões.
“O Brasil está comprometido em promover o diálogo construtivo entre nossos países, respeitando nossas diversidades culturais e buscando pontos de convergência que nos permitam avançar juntos. É fundamental que não retrocedamos nem um passo nos direitos das mulheres. “Acreditamos que a integração da perspectiva de gênero nas diferentes frentes de trabalho do BRICS é essencial para a expansão do grupo e aumenta as oportunidades de fortalecer a voz coletiva nos fóruns internacionais e de promover uma agenda de desenvolvimento que coloque as mulheres no centro das políticas públicas”, defendeu a ministra, que ressaltou a importância de haver a construção de sociedades mais justas e prósperas, onde as mulheres são agentes fundamentais de mudança, e seu empoderamento é condição necessária para o desenvolvimento sustentável.
Além das ministras e representantes para temas de gênero dos países-membros do agrupamento, participaram da abertura as ministras Esther Dweck, Gestão e da Inovação em Serviços Públicos; Macaé Evaristo, Direitos Humanos e Cidadania; e Anielle Franco, Igualdade Racial; além da sociaóloga e primeira-dama, Janja Lula da Silva.
Segundo informou o MMulheres, Janja foi enfática ao dizer que é preciso investir no enfrentamento da pobreza e das mudanças climáticas a partir de políticas que incorporem – da concepção até a execução – a perspectiva de gênero.
“O agravamento das crises climáticas e alimentar empurra um número ainda maior de mulheres para situações de pobreza e insegurança alimentar. Esse cenário é agravado pela dificuldade de acesso a recursos e ferramentas que poderiam promover sua recuperação financeira e aumentar sua resiliência. Muitas políticas que o Brasil constroi para o enfrentamento dessas crises estão disponíveis na Aliança Global contra a Fome e a Pobreza anunciada pelo presidente Lula na presidência do G20 no ano passado”, frisou.
Empreendedorismo
No painel Mulheres, Desenvolvimento e Empreendedorismo, a fundadora e CEO da Rede de Mulheres Empreendedoras, Ana Fontes, fez considerações acerca da autonomia econômica da mulher por meio do empreendedorismo – uma alternativa para quem está excluída do mercado formal de trabalho, como pontuou – e traçou o perfil da empreendedora brasileira.
“Hoje somos cerca de 10 milhões de mulheres empreendedoras. Isso significa, mais ou menos, que a metade dos empreendedores no Brasil, ou a metade dos negócios no Brasil, são liderados por mulheres. E isso é muito importante, porque elas movimentam a economia do nosso país, movimentam o país e, além de tudo, ainda trazem desenvolvimento para as suas famílias”, descreveu Ana Fontes.
“Os principais gatilhos ou motivações para essas mulheres empreenderem são a maternidade e 70% delas empreendem após terem filhos e, infelizmente, isso não é uma notícia bacana. As mulheres são empurradas a empreender, porque os ambientes corporativos ainda são ambientes extremamente hostis para essas mulheres, especialmente mulheres com filhos pequenos”, explicou a CEO.
Misoginia online e desinformação
No painel Governança Digital: Misoginia e Desinformação, a pesquisadora do NetLab, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Luciane Leopoldo Belin, falou sobre a pesquisa feita em parceria com o Ministério das Mulheres “Aprenda a evitar ‘este tipo’ de mulher: estratégias discursivas e monetização da misoginia no YouTube” . Segundo ela, o estudo norteou olhares para uma análise mais profunda sobre os conteúdos misóginos.
“Observamos 137 canais onde foi de fato identificado conteúdo de discurso de ódio e misógino no YouTube. Esses vídeos alcançaram muita gente, são canais com média de 152 mil inscritos. Então, é uma comunidade grande que se forma em torno desses conteúdos, que têm em média 28,8 milhões de visualizações por vídeo e juntos somam mais de 4 bilhões. Eles mobilizam o público deles e geram muita discussão na internet”, explicou a pesquisadora.
Luciane também pontuou o risco com a monetização do ódio contra as mulheres nas plataformas e como isso é revelado na pesquisa. Os produtores de conteúdo misóginos geram recursos significativos vendendo livros, cursos e dando palestras para outros homens com conteúdos misóginos e quem lucra com isso também são as big techs. Luciane destacou a importância da regulação para que regras sejam impostas a fim de impedir esse tipo de negócio.
Empoderamento de mulheres
Já no painel sobre Empoderamento das mulheres, ação climática e desenvolvimento sustentável, a representante interina da ONU Mulheres, Ana Carolina Querino, destacou que as mulheres são desproporcionalmente afetadas pelas mudanças do clima e desastres ambientais e justificou a necessidade de se ter mais mulheres em espaços de decisão quando tratamos do tema. Na oportunidade, Querino falou sobre os avanços trazidos no âmbito da 69ª Sessão da Comissão sobre a Situação da Mulher (69CSW) e da revisão da Convenção e Plataforma de Pequim, que completa 30 anos em 2025 e é considerado o documento mais progressista quando se trata dos direitos das mulheres.
“Como pensar de forma inovadora a partir da certeza que o mundo está mudando a passos cada vez mais largos? Não vivenciamos as quatro estações como costumávamos e teremos que nos adaptar mais frequentemente às secas intensas, chuvas mais fortes e ondas de calor e frio extremos. Então, essencialmente a participação das mulheres, o empoderamento das mulheres no espaço de poder e decisão, violência zero, fim da pobreza e a ação climática são temas que se relacionam entre si e não conseguimos mais falar deles de forma isolada. Em uma situação de desastre climático são as mulheres que deixam de acessar serviços essenciais, que ficam expostas a diversos tipos de violência, que têm suas cargas de trabalho não remuneradas aumentadas”, pontuou a representante da ONU Mulheres.
BRICS
A presidência brasileira do BRICS em 2025 tem como lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”. O bloco composto por 11 países atua como um espaço de articulação político-diplomática para nações do Sul Global, promovendo cooperação em diversas áreas.
O agrupamento reúne, como membros originários, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, bem como os novos membros: Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã, que foram incorporados na 15ª Cúpula do BRICS, em Joanesburgo, em agosto de 2023. A Indonésia aceitou formalmente o convite para integrar o agrupamento em 2024.
Da Redação do Elas por Elas, com informações do MMulheres