Entre 25 e 29 de novembro, Cuba reuniu 120 representantes de movimentos e organizações ecumênicas na Minga Ecumênica, sob o lema “Remamos em Comunidade”. O evento foi organizado pelo Centro Martin Luther King Jr. (CMLK), sediado em Havana, instituição fundada pelos pastores batistas Raúl Suárez Ramos e Clara Rodés, em parceria com sua comunidade de fé, a Iglesia Bautista Ebenezer de Marianao. Com base em uma ética emancipatória cristã, o CMLK atua de forma comprometida, profética e rebelde ao lado do povo cubano, da Revolução e do socialismo, defendendo a vida plena e os direitos da natureza, sem exclusões.
Varadero foi o cenário escolhido para esse encontro, que buscou promover articulações locais e regionais no movimento ecumênico, criando um espaço fértil para futuras ações conjuntas. O conceito de “minga” – um termo quechua para “mutirão” amplamente usado em comunidades populares das repúblicas andinas – orientou o espírito do evento. Para Rafael Gota Silva, do conselho diretivo da AETE – Faculdade de Teologia e Religião no Peru, “A minga é como uma força que desperta a criatividade no compromisso dos movimentos evangélicos sociais e religiosos, impulsionando processos de libertação solidária.”
Os participantes refletiram sobre o avanço dos fundamentalismos religiosos na região, analisando os atores envolvidos nessa disputa de poder. Além disso, o encontro revisitou a memória e a relevância das teologias da libertação, apontando caminhos renovados sem ignorar a importância histórica desse movimento.
Delana Corazza, coordenadora de pesquisa do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social no Brasil, destacou o papel da religiosidade na história latino-americana e caribenha e reforçou a urgência de um ecumenismo libertador: “A Minga foi um espaço de mística e socialização necessário em tempos de desesperança. Me enxergar no outro, ainda que diferente de mim, e seguir no mesmo barco, nos fortalece, anima e desafia a construir o novo.”
A proposta da Minga Ecumênica incluiu a busca por uma práxis coletiva e solidária, com compromissos claros: “Semear a justiça, tecer a paz, celebrar as diversidades e mover-se na esperança para afirmar a vida em comunidade.” Para Kirenia Criado Pérez, coordenadora de formação do CMLK, a Minga representa “o compromisso de sonhar com um ecumenismo renovado e fresco em Abya Yala, aberto a novas espiritualidades e experiências. Busca promover a vida e articular consensos que enfrentem fundamentalismos políticos e religiosos de cunho neoliberal.”
Estratégico para a região, o encontro reafirmou que o combate ao fundamentalismo religioso exige união e ação coletiva. A Minga Ecumênica lembrou que, sem internacionalismo, solidariedade radical e espiritualidade, é impossível avançar na luta por transformação social. A união dos povos e o fortalecimento de convicções espirituais e políticas são os pilares para enfrentar os desafios impostos pelos tempos de retrocesso e opressão, mantendo viva a chama da esperança e da mudança.