Se essa vida, se essa vida fosse minha…
Por Leonardo Silva**
Se essa vida
Se essa vida fosse minha
Eu construiria
Eu construiria…
Quem não se lembra desta canção do folclore brasileiro que todos nós ouvimos e cantamos quando éramos crianças?
Pensando nisso, o que faria se, além da vida linda, a cidade onde mora fosse sua também?
Pois, desde já, eu convido você a duas reflexões.
A primeira: importância de se construir uma cidade mais amiga de todas as idades.
Lembro aqui uma frase do querido e grande especialista em envelhecimento, Ana Paula Bortolon.
Bortolon sempre nos diz: “Envelhecer é um processo natural, mas não é um destino”.
Daí, a segunda reflexão: como gostaria de passar os anos, mesmo que ainda seja jovem?
Afinal, se tudo der certo, os jovens de hoje serão os “velhos” de amanhã.
Infelizmente, não vemos na capital de São Paulo nem em outras cidades do País sinais claros de que são elas amigas das pessoas idosas.
Por quê?!
Por exemplo:
— muitas não se sentem seguras ou acolhidas em nossos ônibus;
— há poucos núcleos de convivência e outros espaços de lazer públicos e gratuitos;
— faltam vagas em instituições de longa permanência para idosos em situação de vulnerabilidade social;
Envelhecimento ativo e saudável não envolve apenas o fortalecimento da seguridade social acessível e de qualidade.
Implica também mudança de perspectiva.
Romper com visões perversas que desqualificam direitos humanos e tratam políticas públicas fundamentais como “prêmios de caridade”. O que é absurdo total.
Uma sociedade justa abrange:
— políticas públicas que incentivam e favorecem a participação social e a representatividade;
— equidade de direitos;
— foco na promoção, segurança e apoio a todos que mais precisam, para reduzir desigualdades e promover justiça social.
Isso tudo está na nossa Constituição! Portanto, devemos defender.
Agora, não basta a longevidade e os direitos de pessoas idosas serem defendidos pela secretaria de direitos humanos.
É fundamental também que pastas como educação, saúde, trabalho, meio-ambiente, transportes, cultura, esportes, também o façam. É uma questão intersetorial.
Como você já sabe, em outubro, haverá eleições, para escolha de prefeitos e vereadores em todos os municípios brasileiros.
Sugiro que busquem conhecer mais as propostas dos candidatos da sua cidade.
É tarefa fundamental, já que algumas candidaturas de extrema-direita podem defender a longevidade apenas no discurso. Depois, na prática, não.
Exemplifico. Certas campanhas eleitorais fazem fotos com pessoas idosas, organizam bailes e até prometem que irão cuidar da “família”.
Mas, uma vez no poder, o que fazem?
Há os que continuam na superficialidade de propostas e, assim, não auxiliam na solução dos problemas reais que afligem as pessoas idosas.
Já outros cortam direitos básicos, como acesso à saúde, educação e previdência de qualidade, o que na prática nada mais é do que diminuir a garantia de uma vida plena e com possibilidades de envelhecer melhor.
Por outro lado, existem pessoas no campo progressista com propostas sérias e ações claras para garantir um futuro melhor para todos, como, por exemplo:
— defesa constante do SUS e o aumento do seu financiamento, já que é subfinanciado;
— ampliação das equipes do PAI (Programa Acompanhante de Idosos) e das URSIs (Unidades de referência de saúde de Idosos);
— batalha pela ampliação do número de núcleos de convivência para pessoas idosas;
— fiscalização constante do uso das verbas do governo federal destinadas à efetivação de políticas públicas para idosos;
— defesa do direito à moradia, com olhar atento às pessoas idosas em situação de rua.
Queremos que não apenas anos sejam adicionados à vida.
Queremos adicionar também VIDA aos anos, para que o envelhecimento ocorra com qualidade e o envelhecer seja celebrado.
Portanto, nestas eleições, lembre-se: esta vida e esta cidade são suas, sim!
**Leonardo Silva é médico geriatra, doutor em ciências pela USP