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O coronel do Exército Etevaldo Luiz Caçadini e o empresário Hedilerson Fialho Martins Barbosa

Por Ana Oliveira e Felipe Borges
Pragmatismo Político

A Polícia Federal revelou nesta terça-feira (28) detalhes alarmantes sobre o funcionamento de uma organização criminosa integrada por militares bolsonaristas que tinha como objetivo realizar espionagem e assassinatos sob encomenda. A investigação, no âmbito da sétima fase da Operação Sisamnes, descobriu que os envolvidos chegaram a abrir uma empresa, formalmente registrada como prestadora de serviços de segurança privada, mas que operava na prática como fachada para uma rede de crimes graves — incluindo homicídios e inteligência clandestina.

Segundo documentos obtidos pela PF, os criminosos mantinham uma tabela manuscrita com valores atribuídos ao assassinato de autoridades brasileiras, incluindo ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e parlamentares do Congresso Nacional. Os preços variavam conforme a função e o grau de exposição da vítima. Entre os alvos mencionados nos papéis, cujas identidades ainda não foram divulgadas publicamente, estão nomes proeminentes do Judiciário e do Legislativo.

A tabela mostra que os preços variavam de acordo com a autoridade:

➤ Ministros / Judiciário – R$ 250 mil
➤ Senadores – R$ 150 mil
➤ Deputados – R$ 100 mil
➤ Figuras normais – R$ 50 mil

A empresa criminosa se autodenominava “Comando C4: Caça Comunistas, Corruptos e Criminosos” — nome que remete à retórica extremista associada à militância bolsonarista mais radical. De acordo com a PF, o grupo era composto por militares da ativa e da reserva, além de civis com vínculos ideológicos e operacionais.

Coronel bolsonarista liderava a célula criminosa

Um dos principais nomes apontados pela PF como líder do Comando C4 é o coronel da reserva do Exército Etevaldo Caçadini de Vargas, que já havia sido preso em janeiro de 2024 pela Polícia Civil do Mato Grosso, suspeito de envolvimento direto no assassinato do advogado Roberto Zampieri, morto a tiros no final do ano passado em Cuiabá. Agora, com os novos desdobramentos da Sisamnes, Caçadini teve nova ordem de prisão expedida pelo ministro do STF Cristiano Zanin.

Outros quatro mandados de prisão foram cumpridos hoje, além de quatro ordens de monitoramento eletrônico e seis mandados de busca e apreensão em diferentes estados.

A defesa de Caçadini afirma que ele foi citado injustamente e que uma das menções teria surgido após suposta “tortura” de um dos executores do crime. A Justiça do Mato Grosso ainda não julgou o pedido de revogação da prisão preventiva. Com a decisão de Zanin, o coronel agora enfrenta a acusação em duas esferas: estadual e federal.

Tabela de execução e lógica paramilitar

A PF classificou o Comando C4 como “organização criminosa empresarial” e afirma que os militares envolvidos tratavam os assassinatos como operações contratadas, com logística definida, divisão de tarefas e precificação conforme o cargo da vítima.

“Identificou-se uma espécie de tabela de valores atribuídos à execução de homicídios, cujos preços variavam conforme a função exercida pela vítima”, diz o relatório enviado ao Supremo. Esses registros manuscritos, segundo os investigadores, mencionavam autoridades de diferentes esferas do poder, com destaque para nomes do STF e do Congresso Nacional.

A atuação do grupo inclui, ainda, atividades de inteligência clandestina, com coleta de informações sobre rotina, segurança pessoal e deslocamentos dos possíveis alvos.

Terrorismo político em mutação

O caso remonta ao que especialistas têm chamado de terrorismo político informal, um fenômeno de matriz ideológica radicalizada que opera à margem das estruturas partidárias e das forças armadas, mas com participação ativa de seus membros. A violência política, nesse contexto, não se manifesta apenas como discurso ou incitação: ela se traduz em logística, organização empresarial e execução.

A Operação Sisamnes, batizada com o nome de um juiz persa que foi punido por corrupção ao ser esfolado vivo — símbolo de justiça inflexível —, tem investigado diferentes células bolsonaristas que atentaram contra a ordem institucional antes e depois dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

Estado paralelo e banalização do crime

A descoberta de uma empresa constituída por militares com a finalidade de eliminar fisicamente adversários políticos e autoridades institucionais representa um novo patamar de ameaça ao Estado democrático de direito. A montagem de um verdadeiro estado paralelo com objetivos de limpeza ideológica, camuflado sob o manto de segurança privada, é mais um indício de que setores do bolsonarismo radical passaram da retórica de destruição das instituições à prática direta do crime organizado.

A investigação prossegue sob sigilo. O Ministério Público Federal já foi acionado e deve oferecer denúncia formal nos próximos dias.

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Last Update: 28/05/2025