Milhares de palestinos saquearam durante a noite um armazém na Faixa de Gaza do Programa Mundial de Alimentos (PMA), que informou nesta quinta-feira 29 sobre duas possíveis mortes durante o tumulto.
A situação humanitária em Gaza é crítica após 18 meses de guerra no território e dois meses e meio de bloqueio da ajuda internacional, que Israel suspendeu parcialmente na semana passada.
“Hordas de pessoas famintas invadiram o armazém Al-Ghafari do PMA em Deir al-Balah, no centro de Gaza, em busca de suprimentos de alimentos que estavam pré-posicionados para distribuição”, afirmou o PMA em um comunicado, no qual exige um “acesso humanitário seguro e sem obstáculos”.
Imagens da agência de notícias AFP mostram que a multidão não deixou nada no armazém da agência da ONU, de onde retiraram sacos de comida, paletes de madeira e tábuas enquanto, ao fundo, eram ouvidos tiros.
O comunicado acrescenta que o PMA tenta confirmar as informações de que duas pessoas morreram e várias ficaram feridas durante o saque.
“O PMA não para de alertar sobre a deterioração da situação (…) e os riscos da limitação da ajuda humanitária a pessoas já famintas com uma necessidade desesperada de assistência”, acrescenta o organismo.
Israel suspendeu parcialmente na semana passada o bloqueio total do acesso de ajuda a Gaza imposto desde 2 de março, oficialmente para forçar o movimento islamista palestino Hamas a libertar os últimos reféns. Desde então, o Estado hebreu afirma que permitiu a entrada de centenas de caminhões com suprimentos.
Fundação polêmica
Na terça-feira, 47 pessoas ficaram feridas durante uma distribuição caótica de ajuda em um centro da Fundação Humanitária de Gaza (GHF), uma nova organização criada com apoio de Israel e dos Estados Unidos e criticada pela ONU.
“Destruíram todas as caixas de ajuda e cada um pegou o que quis”, disse Qasim Shaluf, morador de Gaza, que conseguiu levar “cinco sacos de grão-de-bico e cinco quilos de arroz”.
A maioria dos feridos foi atingida por tiros disparados pelo Exército israelense, segundo o Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos nos Territórios Palestinos Ocupados.
O Exército israelense reconheceu que seus soldados deram “tiros de advertência para o alto” perto do centro da GHF, mas “em nenhum caso na direção das pessoas”. A GHF também negou disparos contra a multidão.
O embaixador israelense na ONU, Danny Danon, declarou ao Conselho de Segurança que o Hamas era responsável pelo caos por, supostamente, tentar “bloquear” o acesso ao centro de distribuição com barricadas.
Ele também acusou a ONU de unir-se ao Hamas “para tentar bloquear a ajuda” e de usar “ameaças, intimidação e represálias contra as ONGs” que trabalham com a GHF.
O porta-voz do secretário-geral da ONU, Stéphane Dujarric, reiterou na quarta-feira sua rejeição a trabalhar com a fundação, cujas operações “não respeitam nossos princípios humanitários”.
Dujarric também denunciou as dificuldades na coleta e distribuição de ajuda humanitária por parte de Israel. Dos 800 caminhões de ajuda aprovados por Israel, menos de 500 chegaram ao lado palestino e apenas 200 foram recebidos pela ONU e seus parceiros, segundo o porta-voz.
“Se passaram 600 dias e nada mudou. A morte continua e os bombardeios israelenses não cessam”, declarou Bassam Dalul, um habitante de Gaza de 40 anos.
(Com informações de AFP)