São Paulo – Dois dias após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter dito que o presidente argentino, Javier Milei, deve pedir desculpas a ele e ao Brasil, Milei voltou à carga, com novos ataques ao líder brasileiro. Ele disse que a relação entre os dois países é mais importante do que o “ego inflamado de algum esquerdinha” – “zurdito”, nas palavras dele. E voltou a chamar Lula de “corrupto”.
Na quarta-feira, em entrevista ao UOL, Lula disse que ainda não se encontrou com Milei “porque eu acho que ele tem que pedir desculpas ao Brasil e a mim, ele falou muita bobagem. Só quero que ele peça desculpas”. Frisou que a Argentina é muito importante para o Brasil, e vice-versa. E que “não é um presidente da República que vai criar uma cizânia” entre os países.
Milei foi questionado em entrevista à emissora LN+, do jornal La Nacion, e disse: “Qual é o problema? É porque o chamei de corrupto? Por acaso não foi preso por corrupção? É porque o chamei de comunista? Por acaso não é comunista? Desde quando é preciso pedir perdão por dizer a verdade? Ou a correção política está tão em falta que não podemos dizer nada à esquerda ainda que seja verdade?”, disse o ultraliberal.
Anteriormente, havia acusado Lula de “mentir” contra ele durante a campanha eleitoral no ano passado, e reiterou. “Os que mentiram exigem que o outro peça perdão porque disse a verdade? Vamos!”, se irritou. “Devemos nos colocar acima dessas ninharias, porque os interesses dos argentinos e dos brasileiros são mais importantes do que o ego inflamado de algum esquerdinha”.
Atravessando o tango
Durante a campanha brasileira, em 2022, quando Milei ainda era um mero analista econômico, chamou Lula de “comunista presidiário” e pediu votos ao então presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição. Já no ano passado, durante a disputa presidencial argentina, em entrevista a Tucker Carlson, ex-apresentador da Fox News, Milei disse que não faria negócios com “nenhum comunista”.
“Sou um defensor da liberdade, da paz e da democracia. (…) Lula não está incluído aí”, afirmou. No mesmo mês, ele disse à revista britânica The Economist que Lula tinha uma “vocação totalitária”, fazia aberrações na administração do Brasil.
Quando venceu as eleições, Milei chegou a convidar Lula para a sua posse, em dezembro. Mas diante do histórico de agressões, o presidente brasileiro acabou enviando o chanceler Mauro Vieira para representá-lo. Em março deste ano, ao citar a democracia em risco no mundo, por conta do avanço da extrema direita “raivosa” e “ignorante”, Lula chegou a citar Milei nominalmente, juntamente com Bolsonaro.
Socorro e cooperação
Um mês depois, Milei acabou tendo que fazer negócios com o vizinho, mesmo a contragosto. O Brasil acabou socorrendo a Argentina, com uma venda extraordinária de 44 milhões de metros cúbicos (m³) de gás liquefeito (GNL) da Petrobras para mitigar uma súbita escassez do combustível no país.
Outro tema que está na mesa das autoridades dos dois países são os foragidos de 8 de janeiro. Na semana passada, o Itamaraty recebeu do governo da Argentina uma lista com nomes de brasileiros que cumpriam medidas cautelares por participação nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, em Brasília, e estão foragidos no país vizinho. O documento foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF) que foi quem solicitou ao Itamaraty que fizesse a consulta ao governo argentino.
Milei vence a primeira no Congresso
Nesta madrugada, Milei obteve sua primeira vitória legislativa, ao aprovar no Congresso Nacional o seu pacote de reforma econômica, embora reduzido em relação à versão original – a chamada “Lei Ônibus” – após muitas mudanças durante meses de debate.
Por 148 votos a 107, a Câmara dos Deputados aprovou as mudanças que vieram do Senado na chamada “Lei Bases”, que desregulamenta o papel do estado na economia. A nova versão do projeto inclui uma reforma trabalhista, privatizações e incentivos ao investimento estrangeiro. Assim como uma polêmica delegação de poderes legislativos ao governo ultraliberal. Apesar de reduzir de 11 para quatro as áreas em que pode governar sem o Congresso por um ano, o Poder Executivo fica com o controle administrativo, econômico, financeiro e energético do país por um ano.
Ao mesmo tempo, o Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina recuou 5,1% no 1º trimestre em comparação com o mesmo período de 2023. Com isso, o país entrou em recessão técnica, caracterizada por dois trimestres consecutivos de retração econômica. No último trimestre do ano passado, o PIB argentino havia registrado uma queda de 1,4%.
Enquanto isso, Milei vem comemorando seguidos superávits primários e uma redução da inflação. Ignorando a retração das atividades produtivas e alta da pobreza e do desemprego, o polêmico presidente chegou a afirmar que ele e sua equipe estavam “reescrevendo grande parte da teoria econômica” e que provavelmente serão agraciados com o prêmio Nobel de economia.