Centenas de manifestantes protestaram no sábado em Hamburgo, no norte da Alemanha, contra o presidente da Argentina, que está na cidade para receber uma homenagem de uma fundação neoliberal.
A convocação para a manifestação foi feita por organizações da diáspora argentina e latino-americana, ONGs alemãs e organizações de esquerda.
O presidente argentino ainda deve se reunir brevemente com o chanceler federal Olaf Scholz, numa visita que teve a programação drasticamente reduzida nos últimos dias.
Proteste in Hamburg gegen Preis für Argentiniens Präsident Milei https://t.co/oN6V8XCJhE #Hamburg #Argentinien #Milei
— tagesschau (@tagesschau) June 22, 2024
Homenagem de grupo associado à ultradireita
Com faixas com mensagens como “Miséria Neoliberal”, alguns ativistas se reuniram em frente ao hotel onde Milei recebeu a medalha da Sociedade Hayek, um think tank fundado em 1998 originalmente para promover ideias liberais.
Nos últimos anos, porém, a sociedade passou a ser vista como uma entidade controversa após entrada de vários políticos do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), num movimento que chegou a ser descrito por um antigo membro liberal como um processo de “infiltração por reacionários”.
Ao receber a medalha, o presidente argentino foi recebido de pé por cerca de 200 pessoas, que aplaudiram e gritaram “liberdade” no hotel Hafen de Hamburgo.
“Você [Milei] defende uma mudança fundamental de rumo sem promessas populistas, de soluções baratas”, declarou o presidente da Sociedade Hayek, Stefan Kooths. “O seu principal oponente chama-se marxismo cultural, uma vez que o socialismo puramente econômico de Karl Marx foi há muito liquidado em nível teórico e prático”, comentou o presidente da Sociedade Hayek, que também criticou “o niilismo igualitário, as fantasias das políticas identitárias, os equivocados caminhos pós-coloniais e o feminismo radical”, entre outros.
Entre os presentes no evento estava o polêmico ex-chefe dos serviços secretos alemães, Hans-Georg Maaßen, conhecido por espalhar teorias conspiratórias e por suas ligações com diversas personalidades da ultradireita, e a deputada Beatrix von Storch, da ala ultracristã da AfD.
Von Storch registrou uma foto da cerimônia em Hamburgo e publicou uma mensagem na rede X. “As reformas econômicas de Milei podem não só salvar a Argentina, mas mudar o mundo. Os socialistas estão se manifestando lá fora. O medo está em seus rostos. Liberdade em vez de socialismo. Viva la libertad, carajo”, escreveu, citando um dos bordões de Milei.
. @JMilei Ökonom, Politiker, Freiheitskämpfer. Seine Wirtschaftsreformen können nicht nur Argentinien retten, sondern die Welt verändern. Draußen demonstrieren die Sozialisten. Die Angst steht ihnen auf der Stirn. Freiheit statt Sozialismus. ¡Viva la libertad. Carajo! pic.twitter.com/2hyR5xljNO
— Beatrix von Storch (@Beatrix_vStorch) June 22, 2024
“Mês anti-Milei”
Paralelamente aos protestos em frente ao hotel onde Milei recebeu a homenagem, outras cerca de 400 pessoas, segundo a emissora regional NDR, marcharam para pedir a anulação da entrega da medalha, empunhando cartazes onde se liam mensagens como “Milei não é liberdade, é fascismo” e “A Argentina não está à venda”.
A convocação fez parte do chamado “mês anti-Milei”, uma série de eventos convocados em vários pontos da Alemanha por uma plataforma de organizações argentinas e alemãs.
A agenda de protestos contra o presidente argentino termina neste sábado em Berlim com um “festival da democracia” que inclui aulas de tango e música ao vivo.
Enquanto isso, as manchetes dos principais jornais alemães descreveram neste sábado a visita de Milei como a de um “convidado difícil”.
Visita reduzida
Depois de receber a Medalha Hayek em Hamburgo, Milei viajará para Berlim, onde se reunirá no domingo com o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, no que foi descrito pelas autoridades como uma “breve visita de trabalho” que acabará sendo mais curta do que o esperado inicialmente.
Originalmente, o argentino seria recebido com honras militares e deveria participar de uma coletiva de imprensa conjunta com Scholz. Mas os planos foram modificados na última hora, segundo o governo alemão, devido à recusa do presidente argentino em falar com os jornalistas.
“No final é uma visita de trabalho muito breve, por vontade do presidente argentino”, explicou na sexta-feira o porta-voz do governo alemão, Steffen Hebestreit, que frisou que houve uma “recusa clara” de Milei em participar de uma coletiva de imprensa. Segundo Hebestreit, o chanceler Scholz “se reúne com muitos chefes de Estado e de governo (…), ele é mais próximo de alguns do que de outros (…). Ele também conversa com parceiros difíceis”.
No entanto, os meios de comunicação alemães também especularam que o encurtamento da visita pode estar relacionado com os comentários do porta-voz do governo alemão que nesta semana descreveu declarações agressivas de Milei contra primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, como “de mau gosto”. Em maio, durante viagem a Madri para participar de uma convenção do partido espanhol de ultradireita Vox, Milei se referiu à esposa do premiê espanhol, Begoña Gómez, como uma “mulher corrupta”, gerando tensão diplomática entre a Espanha e a Argentina.
Originalmente publicado em DW