Em mais um ato de ataque à memória e à educação, o ministro da Educação, Eduardo Luis Maurizzio, nomeou, na última quinta-feira (25/07), um interventor federal na Universidade Nacional das Mães da Praça de Maio (UNMa). abrindo um precedente perigoso que pode vir a ser usado na UBA em outras universidades públicas argentinas.
Por Sofia Silva, de Buenos Aires, para o Portal O Café
Essa medida vai em consonância com a admiração do governo de extrema direita da Argentina com a ditadura militar (1976-1983), que sequestrou, desapareceu, torturou e assassinou mais de 30 mil pessoas.
As Mães marcharam em seu tradicional ato que acontece todas as quintas-feiras, há 47 anos, diante da Casa Rosada, sede do poder executivo, onde elas até hoje buscam seus filhos desaparecidos pelo regime militar.
Em comunicado, a Associação de Mães da Praça de Maio informou que o governo ordenou a intervenção ilegal da UNMa. O Ministério do Capital Humano anunciou a destituição da atual reitora, Cristina Caamaño, eleita pela Assembleia Soberana da Universidade em março passado, e colocando em seu lugar Eduardo Luis Maurizzio, um negacionista histórico e admirador do regime militar. O governo, há vários meses, também assume brutal campanha de corte orçamentário à UNMa e em todas as Universidades públicas argentinas.
As autoridades da Associação Mães da Praça de Maio garantiram que se trata de uma “intervenção ilegal” do “governo fascista, negacionista e defensor da ditadura genocida” e garantiram que resistirão “a esta ação fraudulenta e ilegítima juntamente com toda a comunidade da nossa Universidade”. Desde que Milei chegou a La Rosada, a instituição não recebeu um único peso orçamentário.
UNMa manifesta-se
“Repudiamos a nomeação ilegal de um ‘Reitor normalizador’ que o governo Milei tenta impor, ignorando o processo de normalização que a nossa Universidade já realizou, e do qual Cristina Caamaño é a sua Reitora. Depois de esvaziar a nossa instituição durante 7 meses, pretendem agora intervir subjugando a autonomia universitária. Apelamos a toda a comunidade para se juntar a nós nesta rejeição e para marchar em repúdio esta tarde ao lado das Mães na Praça.”
O Capital Humano é o ministério que não distribui milhares de toneladas de alimentos às cozinhas comunitárias, apesar das decisões judiciais existentes – é o ministério que ordenou a intervenção.Não é a primeira vez que a Universidade Nacional das Mães da Praça de Maio enfrenta uma intervenção. Curiosamente, a primeira foi durante o governo de Mauricio Macri, quando ainda era um instituto universitário. Agora, com Eduardo Luis Maurizzio na Casa Rosada, o Ministério do Capital Humano anunciou uma nova intervenção.
Não é a primeira vez que a Universidade Nacional das Mães da Praça de Maio enfrenta uma intervenção. Curiosamente, a primeira foi durante o governo de Mauricio Macri, quando ainda era um instituto universitário. Agora, com Eduardo Luis Maurizzio na Casa Rosada, o Ministério do Capital Humano anunciou uma nova intervenção.
Em 2017, durante o governo Macri, ocorreu situação semelhante. Nessa ocasião, os titulares dos Ministérios da Justiça e da Educação, Germán Garavano e Esteba Bullrich, respectivamente, assinaram a resolução que destituiu o então reitor organizador, Germán Ibañez, e nomeou o ex-auditor e juiz de contravenção do Inadi, Javier Alejandro Buján. Naqueles dias, a comunidade acadêmica e os estudantes ocuparam pacificamente a sede da instituição. Agora, a declaração das Madres afirma que vão impedir a intervenção da universidade porque “o exemplo dos nossos filhos nos guia e a sua luta nos levou a criá-la”.
Memória, verdade e justiça
As Mães da Praça de Maio é uma associação argentina formada em 1977, durante a ditadura de Jorge Rafael Videla, com o objetivo de recuperar com vida os detidos desaparecidos, inicialmente, para depois estabelecer os responsáveis pelos crimes contra a humanidade e promover a sua acusação.
A Universidade é fruto desses ideais em defesa dos Direitos Humanos, da memória, verdade e justiça, lemas humanistas e democráticos do movimento, que nasceu das tentativas de várias mães argentinas de encontrarem as suas crianças «desaparecidas» durante a ditadura militar (1976-1983). Durante este período, o regime raptou, torturou e matou milhares de opositores políticos, retirando as crianças nascidas das prisioneiras às suas mães e eliminando qualquer vestígio das suas vítimas.
As Mães da Plaza de Mayo começaram a se reunir na praça homônima de Buenos Aires no sábado, 30 de abril de 1977. Elas usaram o local como ponto de encontro para se organizar e apresentar petições às autoridades por seus filhos desaparecidos. A princípio eles permaneceram sentados, mas quando foi declarado o estado de sítio, a polícia os expulsou do local. Depois, para se identificarem como grupo na Peregrinação a Nossa Senhora de Luján em outubro de 1977, decidiram usar um lenço branco na cabeça. Assim surgiram os dois símbolos que os representam: as marchas todas as quintas-feiras às três e meia da tarde em torno da Pirâmide de Maio, que se encontra no centro da praça, e o lenço branco na cabeça.