Mídia divulga mortos, mísseis e ogivas como números da loteria

por Armando Coelho Neto

Que país os Estados Unidos da América (EUA) estavam destruindo ou dando golpe, no ano em que você nasceu? Essa pergunta está nas redes sociais em texto ou vídeo, mas já está desatualizada para maiores de 18 anos, já que as opções surgem a partir de 1945 e terminam em 2011. Entre os registros mais conhecidos surgem China, Cuba, Brasil, Vietnã, Nicarágua, Camboja, Iraque, Afeganistão…

“Quando você se sentir um idiota em geopolítica, lembre-se que os EUA precisaram ter quatro presidentes, gastaram US$ 2 trilhões para tirar o talibã do Afeganistão, e depois de 20 anos, devolver o poder aos talibãs”, diz um narrador em língua inglesa, num jocoso vídeo que circula nas redes sociais. O tom anedótico revela a indiferença com vidas e o pouco caso que o país de Trump faz quando o assunto é guerra.

Com ironia, especialistas dizem que na maior parte das guerras, após sucessivas derrotas, os EUA levantam a bandeira, gritam, “Vencemos” e vão embora. Nas sutilezas das guerras, há quem declare vencedor quem mata mais – uma lógica inaplicável ao Vietnã, onde o número de vítimas vietnamitas ultrapassou 3 milhões contra menos de 60 mil dos EUA, que fugiram de lá com o rabo entre pernas.

Democracia, paz e livre comércio estão entre os discursos decadentes dos EUA. As censuras e prisões, o eterno financiamento de guerras e os tarifaços servem de exemplos. Juiz, senador, estudantes, militantes defensores da causa palestina ou simples apoiadores do fim do genocídio (massacre, holocausto) em Gaza foram presos no melhor estilo república de bananas. Mas, o assunto aqui é guerra…

As 100 maiores empresas de armas do mundo venderam US$ 531 bilhões em 2020, segundo o Instituto Internacional de Estudos para a Paz (Estocolmo). Dessas, 54% são dos EUA. Já o Vatican News (veículo da Santa Sé), com base em relatório divulgado no ano passado, do “Finance for War. Finance for Peace” (Financiamento de Guerra. Finanças para a paz) diz que foram gastos cerca de US$ 1 trilhão.

Nesse sentido, democracia, paz, autodeterminação dos povos, direito de defesa não passam de hipocrisias. Mascaram lucros, os reais intentos das guerras, à custa de infanticídios e extermínios. Para os EUA não importa perder ou vencer guerras. Ganha vendendo armas, papeis em Walll Street, reconstrução de países destruídos, sem contar que as guerras estão entre as maiores fontes da corrupção no mundo.

Com base em veículos de informações internacionais, o jornalista Wellington Calasans (baseado na Suécia), entre outros, aponta o Pentágono e a Otan como fontes receptoras de desvio de verbas em guerras ocidentais. Para o comandante militar da Marinha aposentado Robinson Farinazzo, “na defesa americana a cada três dólares, dois são roubados”. Eis o fundo ético, moralista das guerras.

Nesse exato momento, os EUA, via Otan, promovem uma guerra contra a Rússia, usando como palco a Ucrânia. Mas, entre a mais antiga das guerras, surge a guerra de Israel contra o vento, envolvido em vários conflitos bélicos, todos com apoio do decadente Império Ianque. Israel tomou gosto pelas “vitórias”, Netanyahu quer salvar a própria pele, mas os judeus estão divididos. Parte quer paz.

Benjamin Netanyahu recebeu dos EUA a guerra dos sonhos, para tristeza do povo judeu, dos descendentes de Sem. O Irã já foi inspecionado sobre armas nucleares. Dentro e fora de seu território, o Irã, aliados e simpatizantes já foram atacados e mortos durante processo de negociação de paz. Já Israel, não signatário do tratado de não proliferação de armas nucleares, pode ter bomba atômica e o Irã não?

Parece que a bomba que pode parar Israel já está pronta. Netanyahu encontrou um oponente a altura. A censura imposta em Israel ou os ataques à imprensa do Irã não impedem que os destroços em Israel se espalhem. Pasmem! Existe sangue, medo e terror naquelas plagas. E o mundo civilizado espera que o gostinho e o cheiro de Gaza no seu próprio quintal sirvam de reflexão. O povo judeu é maior que isso!

Vísceras de crianças, mulheres e velhos expostas, o massacre em Gaza desqualifica qualquer discurso ético, moral, civilizatório de Israel e EUA. Enquanto isso, a grande mídia (cúmplice) romantiza escombros como se nada houvesse debaixo deles, divulga assassinatos, números de misseis e ogivas como quem anuncia números da loteria, ou como o Butão divulga o índice oficial de felicidade.

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

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Last Update: 18/06/2025