O que seria das fake news não fosse a mídia brasileira?

A especulação irresponsável de uma possível “sanção” americana ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, ganhou força nos últimos dias.

A patacoada foi alimentada por uma matéria do portal Metrópoles e amplificada por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Um vídeo picareta de seu filho Eduardo foi levado a sério. Toda a mídia brasileira repercutiu a cascata baseada no que relatou o fugitivo.

De acordo com o que ele inventou no X, uma comitiva dos Estados Unidos, liderada por David Gamble, coordenador de sanções do Departamento de Estado, estaria chegando ao Brasil para discutir sanções contra Moraes.

A matéria do Metrópoles, datada de 2 de maio de 2025, afirmava que Gamble, ao lado de outros representantes do governo de Donald Trump, estaria planejando a proibição de entrada de Moraes nos EUA e até congelamento de ativos.

Paulo Cappeli terminava seu artigo fantasioso, produzido a partir de fontes bolsonaristas, com uma advertência malandra: “Por ora, não são discutidas sanções ao governo Lula”. Por ora, veja bem.

A Veja, um cadáver insepulto do jornalismo, foi mais longe. Gamble vai se reunir com Gonet e outros para “avaliar se essas autoridades têm atuado de acordo com o governo norte-americano”. Sim, sinhô! É inacreditável. Não por acaso, é a mesma revista que deu um pito em Felipe Neto depois de ter caído numa pegadinha que o influenciador faz há anos para promover seu Clube do Livro.

Reportagens vagabundas, preguiçosas, tomando pelo valor de face o que alega um golpista vulgar. Vários fizeram um perfil do tal David Gamble.

Ninguém — ninguém — procurou entrar em contato com o sujeito ou com o governo dos EUA. Não houve estranhamento que uma notícia dessa envergadura não tenha saído nos jornais americanos.

Nenhum editor entranhou uma ingerência estrangeira de tamanha gravidade em assuntos nacionais.

Foi preciso que Jamil Chade fizesse no UOL o que se espera de um jornalista: checou e descobriu com os americanos que a visita do enviado é parte de um projeto de cooperação contra o crime organizado.

A viagem já estava sendo organizada pelo próprio governo brasileiro como parte de um esforço entre Brasil e EUA, escreveu Jamil. Algo que “vem sendo construído há meses”.

Mais uma vez, a mídia mostra como surge uma fake news: a partir dela mesma, em conluio com a extrema-direita.

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Last Update: 04/05/2025