Após quase duas décadas, no último dia 5, mais de 200 trabalhadores e dirigentes sindicais, vindos de todas as regiões de Minas Gerais, protagonizaram um marco histórico na luta dos metalúrgicos mineiros.
Convocados pelas quatro federações da categoria e por sindicatos ligados às centrais — CSP-Conlutas, CSP-Conlutas e Força Sindical – que representam cerca de 330 mil trabalhadores, a categoria entregou de forma unificada suas pautas de reivindicações à Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG).
O ato realizado em frente à sede patronal demonstrou a força e determinação dos metalúrgicos. Com gritos de guerra e manifestações de apoio, os metalúrgicos deixaram clara sua posição: este ano será diferente. As reivindicações incluem 11% de aumento salarial, fim da escala 6×1, redução da jornada de trabalho sem diminuição de salários, melhores condições laborais e ampliação dos direitos sociais. A mensagem foi direta: sem negociação, haverá luta.
A realidade dos metalúrgicos mineiros
Os trabalhadores metalúrgicos de Minas Gerais enfrentam uma situação insustentável. Os baixos salários da categoria contrastam drasticamente com o aumento constante dos preços dos produtos básicos, medicamentos e serviços essenciais.
Enquanto a inflação corrói o poder de compra das famílias trabalhadoras, os patrões comemoram ano após ano recordes em seus lucros, expandindo a produção a tal ponto da FIEMG fazer coro com a “choradeira da falta de mão-de-obra”. O problema é que os salários dos metalúrgicos de Minas Gerais são os menores da região Sudeste, apesar de ser ter a segunda maior produção.
A saúde do trabalhador metalúrgico também está em risco. As péssimas condições de trabalho, aliadas à pressão por produtividade e jornadas extensivas, têm causado adoecimento físico e mental. Acidentes de trabalho, lesões por esforço repetitivo e transtornos psicológicos tornaram-se rotina em muitas fábricas. A escala 6×1 – trabalhar seis dias e folgar apenas um – esgota os trabalhadores e compromete sua qualidade de vida e convívio familiar.
Unidade como estratégia de resistência
Este primeiro passo marca o início de uma campanha que priorizará ações unitárias nas regiões onde for possível, com estratégias comuns para cada momento da negociação. A reconstrução da unidade sindical, embora desafiadora, permanece como a principal ferramenta para impedir o desmonte dos direitos trabalhistas conquistados ao longo de décadas.
A categoria metalúrgica também manifesta sua preocupação e resistência contra o chamado “tarifaço” implementado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que ameaça diretamente os empregos e a indústria nacional.
Para o dirigente da Federação Democrática dos Metalúrgicos de Minas Gerais, filiada à CSP-Conlutas, Jordano Carvalho, “vamos exigir, além de nossas reivindicações, que o governo brasileiro aplique imediatamente a Lei da Reciprocidade, defendendo de forma efetiva os empregos e direitos dos trabalhadores brasileiros afetados por essas medidas protecionistas norte-americanas. Além disso, vamos exigir que o governo brasileiro não permita a remessa de lucros de empresas norte-americanas ao exterior enquanto essas mesmas empresas se beneficiam de tarifas que prejudicam a indústria nacional e os trabalhadores brasileiros. É inadmissível que a classe trabalhadora continue sendo prejudicado enquanto permite a saída de recursos que poderiam fortalecer nossa economia e gerar mais empregos”.
O fortalecimento dessa unidade depende da mobilização de todos os trabalhadores, especialmente daqueles que estão no chão de fábrica. É nas bases que se constrói a força necessária para enfrentar tanto a resistência patronal quanto as ameaças externas do imperialismo norte-americano.
Reivindicações justas e necessárias
As demandas apresentadas pelos metalúrgicos refletem necessidades básicas de dignidade no trabalho:
— Aumento salarial de 11%: para recuperar o poder de compra perdido com a inflação;
— Fim da escala 6×1: garantindo mais tempo para descanso, família e lazer;
— Redução da jornada sem perda salarial: promovendo melhor qualidade de vida;
— Melhores condições de trabalho: priorizando a saúde e segurança ocupacional;
— Ampliação dos direitos sociais: fortalecendo a proteção social dos trabalhadores.
Memória e resistência
Após a entrega da pauta, os metalúrgicos marcharam até a sede do antigo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), símbolo da repressão durante a ditadura militar, onde muitos trabalhadores da categoria foram presos e torturados.
Hoje ocupado por movimentos sociais que lutam para transformá-lo em memorial de resistência, o local representa a continuidade histórica da luta por direitos e democracia. Esse gesto simbólico demonstra que a categoria mantém viva a memória daqueles que lutaram pela liberdade e pelos direitos trabalhistas.
A campanha salarial dos metalúrgicos mineiros representa mais que uma negociação: é uma luta pela dignidade, saúde e futuro de centenas de milhares de famílias trabalhadoras. É hora de fazer valer a força da unidade da classe trabalhadora, resgatando seu caráter classista, independente e combativo.