Meu agudo teorema, 1
por Romério Rômulo
Meu agudo teorema
sempre foi a tua boca
onde rosas atacaram
o denso da minha página
onde escrevi calmarias
ventos, fel, árvores lassas
fornecedoras de abrigo
ao viajante que sou.
Quando encantado da vida
corri mundos na tua mão
quando, perdido no medo
me matei, rude e cruel.
Feri mapas com teu lábio
amei águas com teus rios
no caldo grosso da vida
que ainda me arrebenta.
Vou construir uma trégua
de abraço e indulgência:
eu nunca vi uma trégua
por mais escassa que fosse
Uma trégua só de risos
de pedras calmas, cortantes
agudas, mas pedras tantas
de arremate tão vivo.
Eu fosse minha façanha
de acalmar almas duras
de, no seu esgar bendito
já produzir permanências
uns tempos de mundo pleno
uns tempos de agonia
só na fala que aqui cabe
uma distância suspeita.
Romério Rômulo (poeta prosador) nasceu em Felixlândia, Minas Gerais, e mora em Ouro Preto, onde é professor de Economia Política da UFOP e um dos fundadores do Instituto Cultural Carlos Scliar – Rio de Janeiro RJ.