Recife amanheceu nesta quinta-feira (14) com os trilhos parados e a resistência em movimento. Desde as 22h da noite anterior, todas as 37 estações do Metrô do Recife ficaram fechadas em uma paralisação de 24 horas aprovada em assembleia na Estação Central. A greve vem contando com forte participação da categoria e o apoio de centrais sindicais, movimento estudantil e organizações populares.
O ato não foi por acaso: a data coincidiu com a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Pernambuco e teve como pauta central barrar o projeto de concessão do metrô à iniciativa privada, autorizado pelo governo federal. A medida prevê a transferência da gestão e operação para o governo estadual e, em seguida, para empresas privadas, com leilão previsto até 2026 e início da nova administração em 2027.
Promessa quebrada, luta reforçada
Durante a campanha de 2022, Lula se comprometeu a manter o metrô público. Agora, diante da decisão de conceder o sistema, os metroviários denunciam a quebra desse compromisso e alertam para o que pode vir: aumento de tarifas, precarização do serviço e exclusão de milhares de usuários de baixa renda.
“Não é a venda do metrô que vai resolver o problema. É requalificar, investir e modernizar. O metrô é do povo e precisa continuar público”, afirmou o presidente do Sindmetro-PE, Luiz Soares.
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A paralisação afetou cerca de 180 mil passageiros, que tiveram de recorrer aos ônibus em meio a terminais lotados e filas extensas. Mas, para muitos usuários, o transtorno não é novidade: atrasos, superlotação e panes constantes já fazem parte da rotina mesmo nos dias sem greve
Mobilização que vai além dos trilhos
Além da greve, o Sindmetro-PE lançou uma campanha nacional contra a privatização, espalhando mais de 20 outdoors e painéis de LED pelo Recife com mensagens diretas ao presidente, como “Lula, cumpra sua promessa”.
A luta se soma à mobilização da Frente Popular contra as Privatizações, que também denuncia a tentativa de entrega da Compesa e do metrô ao lucro privado. Nas ruas, nas redes e nas assembleias, a palavra de ordem ecoa: o metrô é do povo e não está à venda.
Entrevista
A equipe do Esquerda Online conversou com Tiago Mendes, vice-presidente do Sindicato dos Metroviários de Pernambuco (Sindmetro-PE). Ferroviário há mais de uma década, Tiago construiu sua trajetória dentro da categoria em meio às lutas por melhores condições de trabalho e pela defesa do transporte público de qualidade. Militante ativo nas mobilizações contra a privatização da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), ele atua na articulação com movimentos sociais, parlamentares e outras categorias para fortalecer a resistência e garantir que o metrô siga sendo patrimônio do povo.
Eol – Thiago, como você avalia a participação e o resultado da assembleia de hoje? O que mais te chamou atenção na postura da categoria?
Tiago Mendes – A assembleia tirou 24h de paralisação para denunciar o processo de Privatização do Metrô do Recife. O Lula foi eleito, prometendo não privatizar e a gente segue nessa cobrança.
Eol – Após essa demonstração de força, quais serão os próximos passos do Sindmetro-PE para impedir a concessão do Metrô do Recife à iniciativa privada?
Tiago Mendes – A categoria segue bastante indignada com o corte de verbas e com a postura do governo em relação a CBTU. A nossa categoria, historicamente sempre foi muito combativa e segue com os mesmos perfil diante das adversidades.
Eol – Como o sindicato pretende intensificar o diálogo e a pressão política sobre o presidente Lula e demais autoridades para reverter essa decisão?
Tiago Mendes – A mobilização conseguiu uma reunião em Brasília. Após essa reunião, teremos uma assembleia pra definir os próximos passos da luta. É importante pontuar que já lançamos um plano de comunicação denunciando o processo. A gente segue visitando os parlamentares , os movimentos sociais e associações de moradores pra pontuar as mazelas que esse processo podem produzir . Em setembro, essa luta chega até Brasília a partir de uma audiência pública que vai ser realizada com os companheiros da Trensurb.
Eol – Na sua visão, qual será o impacto concreto para os trabalhadores e para a população usuária caso a concessão avance?
Tiago Mendes – A tendência é que o serviço continue precarizado e a passagem aumente de forma muito rápida.
Eol – Observando os recentes protestos convocados por movimentos sociais, como a Frente Popular contra as Privatizações, que reuniram centenas de pessoas na rua em defesa da Compesa e do Metrô, como o Sindmetro‑PE vem contribuindo com essa articulação, e quais os próximos desafios dessa frente ampliada contra privatizações?
Tiago Mendes – O nosso sindicato acha que só a luta coletiva organizada pode barrar esses processos e retomar os investimentos públicos em mobilidade e saneamento.
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