Marcos Andrade
Conhecida de muitos, a história – dizem que originária de pubs ingleses – relata que, ao observar um copo de whisky pela metade, o otimista o viu meio cheio e o pessimista, meio vazio. O realista entendeu que os dois tinham razão por terem necessidades diferentes, mas o fato era único: meio copo.
Em recente evento do Conexão Empresarial, no módulo sobre saúde, estabeleceu-se polêmica em torno de visões diferentes sobre os mesmos números. Quando falamos em saúde, as metas são alcançadas quando conseguimos reduzir as necessidades de tratamento. Quando falamos de doenças, as metas são atingidas quando curamos mais.
Claro está que, para o gestor público, é muito importante que as pessoas tenham sucesso nos tratamentos, mas é óbvio que o objetivo principal deve ser evitar que as pessoas adoeçam.
Vamos exemplificar:
Se não conseguimos erradicar doenças, é claro que precisamos ter um número maior de vacinas, mas a medida do sucesso do poder público, a longo prazo, não deve ser o aumento no número de vacinas, e sim a sua redução – por meio da erradicação das doenças e, portanto, da dispensa da vacinação. Menos custos, mais saúde.
Enquanto, nos Países Baixos, na Europa, são disponibilizadas de 8 a 9 vacinas, hoje temos no Brasil algo em torno de 20. Repito: ainda bem que temos as vacinas, mas a meta deve ser erradicar doenças e, com isso, não precisar mais vacinar.
Vamos falar de transplantes – por exemplo, de coração. Iniciados no final dos anos 60, hoje são uma técnica segura e com baixa mortalidade. Sensacional! Mas o poder público deve, além de fornecer esse tipo de tratamento, como já faz, instituir programas eficientes de prevenção de doenças cardíacas, para que as pessoas não cheguem à fase avançada de suas enfermidades e o número de transplantes diminua – não por indisponibilidade, mas porque deixaram de ser necessários.
Promover a saúde é mais barato e mais eficiente do que gastar fortunas com tratamentos. O poder público deve adotar ações preventivas que reduzam a necessidade de procedimentos – mesmo que brilhantes – que, ao fim, escancaram o fracasso da prevenção.
Marcos Andrade – Cardiologista