Mensagens atribuídas ao tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), indicam que ele teria planejado um contato com a Revista Veja em março de 2024, período em que estava proibido pela Justiça de usar redes sociais.
Os registros foram tornados públicos nesta segunda-feira, 16, pelo Supremo Tribunal Federal (STF). As informações foram inicialmente divulgadas pela CNN Brasil.
O conteúdo divulgado inclui áudios e capturas de tela atribuídas a um perfil do Instagram identificado como @gabrielar702, supostamente operado por Mauro Cid. A conta foi utilizada, segundo a investigação, para se comunicar durante o período em que o militar estava judicialmente impedido de manter qualquer atividade em redes sociais.
O caso ganhou visibilidade após a publicação, pela Veja, de prints de mensagens entre o perfil em questão e um interlocutor não identificado. Nas conversas, Cid teria mencionado um contato com a revista. Os diálogos teriam ocorrido enquanto a Polícia Federal conduzia investigações relacionadas a um suposto plano de golpe, do qual Cid figura como uma das peças centrais.
Segundo os documentos, as mensagens com possíveis indícios de violação das medidas judiciais impostas a Mauro Cid foram trocadas em um momento sensível do inquérito da PF.
O conteúdo das mensagens inclui frases curtas como: “Mas eu estou falando…”, “Escuta hj o Alexandre Garcia”, “Falei com a Veja…” e “Semana passada”. Os trechos apontam que o militar, mesmo sob proibição, teria mantido articulações e buscado canais de comunicação com a imprensa.
Além das restrições impostas ao uso de redes sociais, o tenente-coronel também estava proibido de manter contato com outros investigados e pessoas envolvidas nos processos que tramitam no STF. As medidas haviam sido determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes, relator dos casos envolvendo suspeitas de tentativa de subversão do processo democrático.
Em manifestação enviada ao STF, o advogado Eduardo Kuntz, que representa o coronel Marcelo Câmara — também réu em ação penal relacionada ao mesmo caso — informou que manteve conversas com Mauro Cid por meio do Instagram nos primeiros meses de 2024. A revelação reforça a tese de que o militar teria desrespeitado as medidas judiciais.
A partir desses elementos, o ministro Alexandre de Moraes determinou, na última sexta-feira, 13, que a Meta — empresa responsável por plataformas como Facebook e Instagram — forneça os dados cadastrais dos perfis mencionados e preserve todas as mensagens trocadas entre 1º de maio de 2023 e 13 de junho de 2025. A ordem inclui a solicitação de informações detalhadas sobre os meios de acesso às contas, como dispositivos utilizados, localização de login e histórico de IPs.
O caso integra um conjunto de investigações em andamento no STF sobre supostos atos que teriam como objetivo interferir nas eleições e nas instituições democráticas. Entre os alvos estão assessores, ex-membros do governo Bolsonaro e militares que teriam participado de reuniões e articulações com foco em reverter o resultado das urnas em 2022.
Mauro Cid já havia sido citado anteriormente em outros inquéritos, incluindo aqueles relacionados à venda ilegal de joias e presentes recebidos pelo governo federal, bem como o caso das supostas fraudes em cartões de vacinação. Neste novo episódio, a suspeita recai sobre a violação direta de medidas restritivas impostas no âmbito judicial.
A Polícia Federal deverá incluir as novas informações nas investigações em curso. A preservação das comunicações pela Meta é vista como etapa essencial para averiguar se Mauro Cid de fato operava o perfil @gabrielar702, e se houve intenção deliberada de burlar as restrições impostas pelo STF.
Não há, até o momento, confirmação oficial sobre a identidade do interlocutor com quem Cid teria trocado mensagens. Também não foram divulgadas novas declarações por parte da defesa do militar após a revelação das mensagens pelo STF.
As investigações seguem em sigilo parcial, e a Procuradoria-Geral da República deve analisar os novos elementos para decidir se apresenta eventual denúncia contra o tenente-coronel por descumprimento de medidas judiciais e obstrução de investigação. A defesa de Mauro Cid ainda não se manifestou sobre a divulgação dos registros nesta segunda-feira.
O episódio adiciona um novo capítulo às apurações envolvendo figuras centrais do governo Bolsonaro e reforça a atuação do STF no monitoramento de medidas restritivas aplicadas a investigados em casos que envolvem supostas ameaças à ordem democrática.