
Por Felipe Borges
Pragmatismo Político
Um vídeo exibido pelo programa Profissão Repórter, da TV Globo, revelou uma cena alarmante: uma adolescente foi induzida por um homem a se automutilar durante uma transmissão ao vivo na plataforma Discord, na presença de cerca de 40 usuários.
O caso, flagrado em tempo real por um grupo independente de investigação digital, acende o alerta sobre a facilidade com que crimes envolvendo crianças e adolescentes continuam a ocorrer e circular nas redes sociais, mesmo após denúncias formais.
O episódio foi acompanhado por um desses “investigadores digitais”, que utilizam perfis anônimos para monitorar atividades suspeitas em plataformas digitais. Apelidado de Mistério, o voluntário relatou ter registrado o momento em que o homem orienta a jovem a simular ser maior de idade antes de iniciar os cortes. “Claramente dá para ver que não é uma pessoa maior de idade”, afirmou.
Durante a transmissão, o agressor conduz o ato com frases diretas, ordenando que a garota feche os olhos e puxe a lâmina com força:
— “Dois, três, puxa.”
— “Ai.”
O diálogo é interrompido momentaneamente com a entrada da mãe da menina no quarto. Após a saída da responsável, a adolescente volta à câmera e continua sendo pressionada.
O conteúdo foi denunciado, mas, segundo os investigadores, permaneceu disponível por um tempo considerável antes de ser removido pela plataforma. “É uma plataforma onde muita coisa errada acontece. Inclusive, ao vivo, denunciando e continuando no ar”, lamenta Mistério.
A investigação prosseguiu e resultou na identificação e prisão do autor das instruções. Segundo a Polícia Civil, o homem, identificado como Kaique Santana, é maior de idade e foi detido em abril. Ele também é investigado por participação no planejamento do assassinato de um homem em situação de rua.
Em nota, o advogado de Kaique afirma que os fatos descritos no inquérito “não correspondem à verdade” e que seu cliente vai provar a inocência no curso do processo.
A operação foi conduzida pelo Ciberlab, núcleo da Polícia Civil especializado em crimes cibernéticos. Segundo o diretor do centro, Alessandro Barreto, só em 2025 já foram realizadas mais de 60 ações contra crimes digitais. Para ele, o desconhecimento das famílias sobre a rotina digital dos filhos é um fator de risco:
“Em alguns casos, os pais só descobrem o que os filhos estavam fazendo na internet quando a polícia bate à porta com um mandado. Isso nos assusta. O pai e a mãe acham que o filho conectado 15 horas por dia está seguro. Não está.”
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