Membros da Nova Frente Popular se perdem no caminho político

As eleições francesas estão ocorrendo domingo (30), e a esquerda decidiu como tática para combater a extrema direita, que está muito forte, formar a Nova Frente Popular (NFP). É uma aliança com os principais partidos da esquerda, o FI de Melenchon, o Partido Socialista (PS), o Partido Comunista, PCF e os Ecologistas. Partidos menores também aderiram como o Novo Partido Anticapitalista (NPA). Em seu portal, eles justificam seu apoio à NFP em um artigo Votar, lutar, se organizar. Novo Frente Popular. O NPA, então, adere à frente ampla com os partidos do imperialismo.

O texto começa: “nas urnas e nas ruas, o NPA-L’Anticapitaliste decidiu construir o Novo Frente Popular sem qualquer hesitação. Após sete anos de políticas ultraliberais, racistas e autoritárias, Macron está exausto. Ele não consegue mais servir às finanças e ao grande patronato que sempre exigem mais. A extrema-direita, que totalizou quase 40% dos votos na última eleição europeia, se posiciona como recurso para os capitalistas. E após implementar algumas de suas medidas, Macron lhes abre caminho ao dissolver a Assembleia Nacional”. Aqui, ele coloca o problema, o governo Macron fez surgir uma oposição de direita.

No entanto, não é só Macron, o PS, que está na NFP, também gerou esse fenômeno. O PS é um partido do imperialismo francês, apoia o neoliberalismo, a guerra contra a Rússia. O PS, em grande medida, é o pai de Macron. Outra demonstração disso é que o PS na Alemanha, o SPD, está no governo e foi derrotado de forma humilhante nas eleições europeias da mesma forma que Macron. Esse é o grande problema da NFP, junto aos Ecologistas, que no NPA não comenta em momento algum,

O artigo então descreve os problemas do partido de Le Pen, mas levanta a tese que sempre justifica as Frentes Populares: “a extrema direita, nosso pior inimigo”. O pior inimigo da classe operária francesa não é a extrema direita, nem mesmo a direita tradicional, é a burguesia imperialista da França. Essa burguesia pode estar em determinado momento apoiando Macron e em outro apoiando Le Pen. Ao que tudo indica, a burguesia não irá fechar um acordo com Le Pen e, portanto, o seu partido, o RN, mesmo sendo inimigo dos franceses, não é o principal inimigo.

A extrema direita cresce atacando os partidos tradicionais do imperialismo, o partido de Macron e o PS. Nesse sentido, a esquerda deveria fazer o mesmo, atacar o imperialismo e crescer polarizando com a extrema direita. Não é o que acontece. A NFP se alia ao imperialismo e isso é um prato cheio para o partido de Le Pen atacá-la e continuar crescendo. O argumento da luta contra o fascismo é o tradicional golpe de burguesia “democrática”. Na luta contra o fascismo, é sempre necessário travar a luta contra toda a burguesia, incluindo a que se diz antifascista.

O texto segue mostrando que o setor identitário está dentro da NFP: “todas as forças políticas de esquerda, os sindicatos, as associações e movimentos que atuam nas lutas ambientais, antirracistas, feministas, LGBT+, se agruparam em torno do Novo Frente Popular”. Ou seja, o movimento identitário, uma expressão política do imperialismo, seria considerado um aliado contra a extrema direita. No entanto, é justamente esse identitarismo um dos grandes argumentos dessa direita para crescer. No mundo inteiro, o anti identitarismo é um dos pilares da extrema direita. A esquerda também deveria romper com esses setores, afinal, o identitarismo não é um movimento da esquerda.

O NPA então chega ao seu grande erro, afirma que a NFP é uma ruptura total, o que seria a política correta, mas não é o que o que acontece nessa frente: “muitos pontos desse programa foram defendidos pelos movimentos dos últimos meses: revogação das reformas das aposentadorias, da lei ‘Darmanin’ sobre imigração ou do seguro-desemprego, aumento dos salários, investimento maciço na educação ou nos hospitais… Mas esse programa ainda não está completo. Deve ser enriquecido pelas forças sindicais e pelos movimentos sociais, as reivindicações vindas das mobilizações, para, por exemplo, colocar em pauta o controle público do setor de energia diante da crise climática ou a efetivação dos centenas de milhares de precários do serviço público. A implementação de tais medidas passa por um confronto com o sistema e coloca a questão da ruptura com ele”.

O problema aqui é que o NPA pode apresentar um programa de defesa dos trabalhadores franceses até melhor que esse, no fim, é irrelevante, pois a frente popular precisa ter um programa conciliador e nada indica que os partidos do imperialismo irão aceitar medidas de esquerda. Eles estão destruindo a economia francesa e os direitos dos trabalhadores há décadas. Não adianta falar em ruptura total se dentro da aliança está um dos principais partidos do regime político.

Então o artigo comenta: “a Novo Frente Popular pode ganhar as eleições, mas somos milhões a perceber que isso não será suficiente. Um novo fracasso da esquerda asseguraria o triunfo da extrema-direita em dois anos. Como desafiar o poder dos capitalistas que destroem o planeta e nossas vidas? Como reverter 40 anos de desmantelamento social e conquistar novos direitos? Como fortalecer o apoio aos povos palestino e ucraniano, rompendo ao mesmo tempo, com a aliança imperialista que é a OTAN? É lutando todos juntos em nossos locais de trabalho ou estudo, em nossos bairros, que podemos mudar as coisas. Em 1936, foi uma greve geral que forçou a recém-eleito Frente Popular a implementar as primeiras férias remuneradas da história. Se o NFP ganhar, o caminho da luta coletiva estará apenas começando, pois é assim que podemos transformar radicalmente a sociedade”.

Aqui, o partido acerta que as eleições não são a questão essencial, mas os seus comentários mostram sua total incompreensão da NFP. Ele fala de romper com o desmantelamento dos últimos 40 anos e de romper com a OTAN. Essas são provavelmente as duas políticas mais populares da França nesse momento, nenhuma delas é defendida pelo PS que está dentro da frente. No fim, o NPA está completamente desconectado da política dos membros da frente que ele participa. Se ele de fato quer lutar contra o imperialismo e o neoliberalismo, não pode fazer uma frente com os partidos que representam essa política.

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