Um dos cientistas políticos mais renomados do País, pioneiro nos estudos de neuropolítica e referência em marketing político e comportamento do eleitor, Antônio Lavareda avaliou como correta a decisão do governo Lula em revogar a Instrução Normativa que viabilizava o monitoramento de transações financeiras acima de R$ 5 mil, incluindo o PIX. A publicação da IN provocou uma onda de ataques e fake news nas redes sociais.

Em entrevista exclusiva ao jornalista Luis Nassif, no canal TVGGN [assista abaixo], Lavareda disse que a publicação da norma que desagradou sobretudo os trabalhadores informais foi “infeliz” e pontuou que foi melhor recuar da decisão do que “prolongar o sangramento”.

A revogação da norma ocorreu na noite de quarta (15), após a posse do novo ministro da Secom, Sidônio Palmeira, em meio à crise do PIX. No mesmo dia, um vídeo do deputado Nikolas Ferreira atacando frontalmente a medida e a imagem do presidente Lula ultrapassou a marca dos 230 milhões de visualizações apenas no Instagram.

Segundo Lavareda, Sidônio é conhecido por trabalhar com o tripé “gestão, comunicação e política”, considerando que, a depender das circunstâncias, esse triângulo terá fases distintas, com um lado pesando mais do que o outro. No caso da crise do PIX, o erro da gestão pesou mais e não havia o que a comunicação pudesse fazer para estancar a sangria aberta pela oposição.

“A instrução normativa é um problema administrativo e a comunicação pouco podia fazer. Na minha experiência, o melhor era recuar em meio ao desgaste. É melhor uma derrota de pequena dimensão, administrável, do que o prolongamento de um sangramento que poderia levar o governo às cordas no curto e médio prazo”, disse Lavareda.

Na opinião do especialista, do ponto de vista comunicação, o que poderia ter sido feito, antes da medida ser lançada, seria um estudo para compreender qual seria o impacto da IN sobre as camadas afetadas. Dessa forma, o governo poderia ter preparado vacinas contra as reações negativas. Mas, ao contrário disso, não houve preparo, e toda a narrativa foi tomada de assalto pela oposição. Segundo Lavareda, isso foi facilitado pelo fato de que a população ficou realmente ultrajada com a norma.

“O cidadão, sobretudo o da informalidade – alguns estudos estimam que são até 35% da força de trabalho brasileira -, ele leu essa instrução normativa como se o governo estivesse entregando uma lupa para o leão da Receita. Obviamente, as pessoas não gostaram”, frisou Lavareda.

Sociedade da atenção

Para Antônio Lavareda, a literatura já firmou que estamos vivendo na “sociedade da atenção”, mas o campo progressista não se adequou à nova realidade, e está longe de fazê-lo.

“Atenção nas redes sociais é tudo, os algoritmos exploram isso à exaustão. Do ponto de vista político, os populistas levam vantagem porque eles não têm compromisso algum com a verdade. A psicologia já mostra isso, há décadas e décadas, que fake news e deturpação da realidade chamam muito mais atenção e transitam muito mais rápido na sociedade. Bolsonaro e Trump têm posição privilegiada nessa sociedade da atenção, levam vantagens sobre setores progressistas que têm que se reinventar. Mas aí é uma questão mais longa. O problema dos progressistas não é mero problema de comunicação.” Vai além.

Assista a entrevista completa usando o link abaixo:

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Last Update: 16/01/2025