Neste sábado (22), o mundo celebrou o Dia da Água, data que procura alertar sobre a importância e a finitude desse bem que, apesar de essencial à sobrevivência, não chega a todos com igualdade e com a qualidade necessária.

Apesar de ser conhecido pela abundância desse recurso, contando com dois dos maiores aquíferos do mundo — o Guarani, no Centro-Sul do país, e o Alter do Chão, no Norte —, o Brasil também enfrenta desafios gigantescos e históricos nessa área.

Os problemas vão desde a seca que vem aumentando em diversas áreas resultante dos desmatamentos, da crise ambiental global e da ocupação desordenada de terra quanto à dificuldade de acesso de parte considerável da população à água potável — reflexo, entre outros aspectos, dos altos índices de poluição das águas que tem, como um de seus fatores, a falta de saneamento básico e o despejo de resíduos por indústrias e pelo agronegócio.

Atualmente, o semiárido brasileiro, um dos mais povoados do mundo, com 28 milhões de pessoas, enfrenta longos períodos de estiagem. O Nordeste, apesar da grande extensão territorial, concentra apenas 3% da disponibilidade de água do país.

Enquanto isso, partes da Amazônia, um dos locais historicamente mais úmidos e com maior concentração de água do país, também vem sofrendo com períodos de seca extrema. Segundo levantamento do MapBiomas, no ano passado houve uma redução de 3,6% na superfície coberta por água em comparação com a média do bioma.

Vale destacar, ainda, que segundo a mesma entidade, o Pantanal perdeu 61% de água em 2024, enquanto no país essa redução foi de 15%.

E, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Trata Brasil, cerca de 33 milhões de pessoas vivem sem acesso à água potável no país, de maneira ao menos 15% da população não é devidamente atendida.

Medidas

Parte desse problema precisa ser enfrentado por estados e municípios, mas no que tange à União, o governo anunciou que vem investindo em diferentes frentes.

Segundo a Secretaria de Comunicação do Governo Federal, “desde o início desta gestão, a infraestrutura hídrica vem sendo ampliada para reduzir desigualdades e preparar o país para os impactos da mudança do clima”.

Para 2025 e 2026, a estratégia inclui “expandir o acesso à água, consolidar pólos produtivos sustentáveis e fortalecer a resiliência das cidades contra eventos extremos, garantindo mais qualidade de vida para os brasileiros”.

Uma dessas iniciativas faz parte do Novo PAC, pelo qual foram retomados investimentos em segurança hídrica, revitalização de bacias e abastecimento urbano e rural, com foco no acesso sustentável à água de qualidade.

O governo informou que, em 2024, foram entregues 24 mil cisternas, 119 sistemas de dessalinização e 23 sistemas simplificados de acesso à água em aldeias indígenas.

Além disso, a Secom explica que incorporado ao Novo PAC, o eixo Água para Todos tem o objetivo de “universalizar o acesso à água em áreas rurais para consumo humano e para a produção agrícola e alimentar. Até 2026, serão investidos R$30,8 bilhões. Do total de recursos previstos, R$11,8 bilhões são para o subeixo de infraestrutura hídrica e R$4,4 bilhões para revitalização de bacias hidrográficas”.

Nesta semana, o presidente Lula participou da inauguração do Complexo de Oiticica, no sertão do Seridó (RN). Incluída no contexto do programa Água para Todos, a obra beneficiará diretamente cerca de 294 mil pessoas em 22 municípios.

Na ocasião, o presidente salientou: “Eu sempre dizia que a seca é um fenômeno da natureza, mas a morte de animais e de gente era por conta da irresponsabilidade de quem governava esse país. Porque a gente tinha condição de fazer, e nós provamos”.

No âmbito do Projeto de Integração do Rio São Francisco (Pisf), o governo comunicou que no Ceará, o primeiro canal do Ramal do Salgado já alcançou 79% de execução, com previsão de entrega em 2027, beneficiando 5 milhões de pessoas no sertão.

Já o Ramal do Apodi, extensão do Eixo Norte do Pisf, ultrapassou 72% de conclusão e deve entrar em operação em 2026, levando água a 54 cidades e 750 mil pessoas no Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Além dessas, outras obras estão sendo contratadas no Pisf.

Para reduzir desigualdades regionais, o governo afirma que estão sendo investidos R$ 12 bilhões no abastecimento de áreas afetadas pela seca, em ações que incluem a construção da barragem de Nova Algodões (PI), da adutora do Seridó (RN) e a retomada das barragens Arroio Taquarembó e Jaguari (RS) e Gatos e Panelas II (PE), entre outras.

No caso do saneamento, uma das medidas tomadas é a ampliação dos investimentos no setor por meio do Novo PAC, que destinará R$ 2 bilhões para abastecimento urbano, R$ 4 bilhões para coleta e tratamento de esgoto e R$ 600 milhões para gestão de resíduos sólidos.

Meio ambiente

Ponto central para garantir que o Brasil possa manter sua abundância hídrica é a questão da preservação ambiental.

“Se nós degradarmos as nossas florestas, não tem como manter os recursos hídricos, se não olharmos para a infraestrutura natural da água, a gente não vai ter água. Quando a gente pensa nas florestas, elas são grandes mantenedoras da água. Isso é infraestrutura natural para recursos hídricos”, afirmou a ministra Marina Silva, em evento sobre o tema, nessa semana.

A ministra também ressaltou que a questão hídrica será amplamente debatida na COP30, a ser realizada em Belém (PA), no mês de novembro.

“Nós estamos trabalhando na agenda de ação sobre a questão dos recursos hídricos. Inclusive, a gente tem um espaço sobre os recursos hídricos na COP30. E que a gente possa também fazer com que na COP30 se faça o debate sobre as razões do maior risco de perda da água, não só no Brasil e no mundo, que é a questão da mudança do clima”, declarou.

Com agências

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Last Update: 23/03/2025