Nascida na Cidade de Gaza, filha de Musa Sayegh e Hind Farah, May Sayegh veio de uma família cristã culta, com firme compromisso político com a causa nacional palestina. Desde cedo, foi incentivada por sua mãe a desenvolver suas capacidades literárias.
Durante sua formação escolar na cidade de Gaza, destacou-se como aluna exemplar e sensível às expressões artísticas. No colégio feminino al-Zahra’, suas composições chamaram atenção pela beleza e profundidade, a ponto de serem lidas em sala para as turmas mais avançadas.
Na segunda metade da década de 1950, mudou-se para o Cairo, onde ingressou na Faculdade de Artes da Universidade do Cairo, cursando filosofia e sociologia. Foi no ambiente efervescente da capital egípcia — então um polo da luta pan-árabe e da resistência ao imperialismo — que sua carreira literária tomou fôlego. Ainda estudante, declamou um poema diante do escritor Youssef al-Sibai, que ficou impressionado e o publicou, junto com sua fotografia, no jornal al-Gumhouriyya.
A repercussão abriu as portas do rádio e da imprensa: passou a apresentar seus textos no programa Sawt Filastin (Voz da Palestina) e a publicar em veículos como al-Adab (Líbano) e Aqlam (Iraque), consolidando-se como uma das principais vozes poéticas da nova geração palestina. Sayegh, contudo, não se limitou à atividade cultural.
Foi fundadora da União Geral das Mulheres Palestinas (UGMP), criada em Jerusalém em 1965, ainda antes da guerra de 1967. Com o avanço da repressão sionista, aderiu formalmente ao movimento nacionalista Fatá em 1968 e participou da resistência armada em Amã, na Jordânia, até a retirada forçada da OLP em 1971. Transferiu-se para Beirute, base da resistência durante os anos de ofensiva armada da OLP no Líbano, e foi eleita para o Conselho Revolucionário do Fatá, integrando também o Comitê Executivo da OLP e o Conselho Nacional Palestino a partir de 1973.
Durante os quinze anos em que esteve à frente da UGMP (1971–1986), Sayegh atuou na linha de frente da organização popular de mulheres, promovendo a integração delas na luta armada e na estrutura política da resistência. A partir de 1975, integrou a secretaria permanente da Federação Democrática Internacional de Mulheres e representou o movimento palestino em eventos internacionais em Berlim, Paris, Havana, Nova York, Moscou e Bagdá. Com o anúncio simbólico da independência palestina em 1988, continuou a representar o povo palestino e sua luta em fóruns pan-árabes e internacionais, inclusive junto à ONU.
A militância de May Sayegh se desenvolveu em meio a alguns dos períodos mais dramáticos da história palestina, especialmente durante a guerra civil libanesa (1975–1990) e a invasão sionista de Beirute, em 1982. Durante o cerco, Sayegh organizou frentes de apoio popular — em particular com mulheres palestinas e libanesas — para resistir à agressão das forças sionistas.
Em paralelo, mantinha intensa atividade intelectual, colaborando com o jornal Filastin al-Thawra (Palestina Revolucionária), órgão oficial da OLP, além de escrever regularmente para o jornal al-Safir e as revistas al-Katib e al-Karmel. Sua produção literária acompanha o curso da luta.
Publicou o primeiro livro de poemas, A Coroa de Espinhos, em 1969. Em 1972, integrou a antologia Poemas Gravados em Alvo de Ashrafiyye. Poemas de Amor para um Nome Perseguido (1974) e Sobre as Lágrimas e a Alegria que Virá (1985) consolidam sua posição como poeta da resistência.
Seu último livro de poemas, Se ao menos Hind não tivesse jurado (2014), remete à tradição poética árabe clássica. Em prosa, escreveu o livro de memórias O Cerco, uma Autobiografia (1988), e o romance À Espera da Lua (2002).
Sayegh também produziu estudos sobre o papel da mulher palestina, publicando em 1981 os livros Estudos sobre a Mulher e A Mulher Árabe e Palestina. Não o fazia por uma adesão a concepções identitárias ou pequeno-burguesas, mas por compreender que a plena mobilização da sociedade, incluindo as mulheres, era condição indispensável para a vitória contra o sionismo. Como disse à revista Adab wa Naqd em 1987, sua escrita era movida tanto por uma pulsão emocional quanto por um dever político para com as gerações futuras.
Morreu em 5 de fevereiro de 2023, em Amã, na Jordânia, onde foi sepultada. Sua morte foi sentida por todo o movimento nacional palestino. O Fatá declarou: “hoje, toda a Palestina, o movimento Fatá e todos os apoiadores da luta palestina no mundo despedem-se de uma figura grandiosa, que deixa à Palestina um patrimônio de luta e realização que permanecerá como farol para todos os povos livres”.
O Ministério da Cultura da Palestina lamentou sua morte, com o ministro Atef Abu Saif destacando sua contribuição para a cultura e a luta política. Presidente da União Geral de Escritores e Jornalistas Palestinos, Murad al-Soudani declarou: “a morte de May Sayegh é uma grande perda para a cena cultural e política palestina, mas seu legado continuará a inspirar a luta de nosso povo”.
Sayegh recebeu diversas condecorações, entre elas a Ordem da Estrela de Jerusalém, outorgada por Mahmoud Abbas em 2009, e o Prêmio al-Quds de Cultura e Criatividade, em 2013. Também foi homenageada pelo governo revolucionário cubano, recebendo das mãos de Fidel Castro a Ordem de Ana Betancourt, honraria concedida a mulheres destacadas na luta anticolonial.