O ajudante de Ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, admitiu ao próprio ministro Alexandre de Moraes, em delação, que a mira principal do monitoramento de Bolsonaro era contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Durante o depoimento, Mauro Cid confirmou que, em mensangens trocadas com o coronel Marcelo Câmara, nos dias 16 e 22 de dezembro, eles articularam monitorar diretamente Alexandre de Moraes, quando o ministro estava em eventos familiares.
Câmara, ex-assessor do então mandatário, foi apontado por Cid como o principal responsável pela tarefa de monitorar as autoridades para o governo Bolsonaro.
Na delação, Mauro Cid afirma que o monitoramento de Lula e de Alckmin não era o principal objetivo, pelo o que ele sabia, ao menos. O ajudante de Ordens confirmou que o ex-presidente pediu, diretamente a ele, para monitorar Moraes no dia 22 de dezembro.
“Eles [o governo Bolsonaro] nunca, ministro, ninguém nunca falou o nome do presidente Lula e do vice-presidente, nunca eram citados em nada. A preocupação maior, digamos, sempre foi com o senhor [o ministro Alexandre de Moraes]”, relatou Cid.
Operação de Inteligência para não vazar monitoramento
Segundo o ajudante de Ordens, o monitoramento de Alexandre de Moraes era comandado pelo coronel Câmara e havia uma operação especial de Inteligência para essa tarefa, que envolvia que as informações não eram passadas completamente a todos os articuladores, apenas pedaços e ao que elas competiam cumprir.
Por isso, o que o ajudante de Ordens tinha conhecimento era sobre o acompanhamento do ministro Moraes. Questionado se ele sabia quem deveria monitorá-lo, Mauro Cid explicou como a estratégia funcionava:
“Eu não sei quem era o contato dele [os interlocutores ou informantes de Marcelo Câmara]. Isso, ministro, é bem clássico das Operações de Inteligência e das Forças Especiais: a ‘compartimentação da informação’ e a ‘necessidade do saber’, ele tem o contato dele e eu não quero saber, porque se muita gente ficar ligando para o contato, acaba caindo o contato.”
Juiz do TSE era o principal informante contra Moraes
No caso de dentro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), contudo, o ajudante de Ordens tinha conhecimento que o informante era um juiz, sem saber o seu nome.
“O que eu sei, que eu falei para o senhor, é aquele ministro, aquele elemento do TSE”, disse Mauro Cid. “É, não é ministro, é um juiz que nós já identificamos”, completou Moraes, na audiência.
Posteriormente à audiência, os investigadores identificaram que o informante “juiz” do TSE era Sandro Nunes Vieira, que afastado em novembro do ano passado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), após a Corte identificar que o juiz era o informante de Jair Bolsonaro no monitoramento de Alexandre de Moraes.
Segundo Mauro Cid, Nunes era “um contato” de Marcelo Câmara no TSE, “que lhe passava informações e inclusive também auxiliava o Ministério da Defesa na elaboração de análise sobre as urnas eletrônicas”.