Mauro Cid, tenente-coronel e ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, teve áudios divulgados em que revela detalhes da delação premiada concedida em 22 de março divulgados. Nas mensagens, ele revela mágoa por ter sido o único que enfrentou consequências por envolvimento nos crimes agora denunciados pela Procuradoria-Geral da República. 

Os áudios contrariam a colaboração de Cid, que seria espontânea e voluntária, sem a pressão do Judiciário ou da Polícia Federal. “A cama está toda armada. E vou dizer, os bagrinhos [condenados por participação no 8 de janeiro] estão pegando 17 anos. Teoricamente os [de escalão] mais altos vão pegar quantos?”, afirma o ex-tenente.

“Não, pra todo mundo. Vai entrar todo mundo em tudo. Então você vai somar as penas lá, dá mais de 100 anos para todo mundo”, continuou Mauro Cid.

O ex-ajudante de ordens da Presidência afirmou ainda que sentiu como se a narrativa de Alexandre de Moraes já estivesse pronta e que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) queria apenas confirmá-la. 

“Eles já estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade. Eles queriam só que eu confirmasse a narrativa deles, entendeu? É isso que eles falavam. ‘Ó, mas a sua colaboração, a sua colaboração está muito boa’. Ele até falou: ‘vacina, por exemplo, você vai ser indiciado por nove negócios de vacina, nove tentativas de falsificação de vacina, associação criminosa e mais um termo lá. Só nessa brincadeira são 30 anos [de cadeia] para você’, continuou Cid, visto como braço direito de Bolsonaro, ao interlocutor. 

Questionado sobre quem seria o receptor das mensagens, o ex-ajudante de ordens afirmou não se lembrar. De acordo com as medidas cautelares impostas, Cid estava proibido de manter contato com políticos ou integrantes do Judiciário. 

Assim, os relatos seriam um desabafo concedido a algum amigo ou familiar. “O Alexandre de Moraes já tem a sentença dele pronta. Acho que essa é a grande verdade. Ele já tem a sentença dele pronta, só está esperando passar o tempo. O momento que ele achar conveniente, denuncia todo mundo, PGR acata, aceita e ele prende todo mundo.”

Acusado de integrar uma organização criminosa, participar de uma tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de falsificar cartões de vacinação no sistema do Ministério Público, entre outros crimes, Cid afirma que se não colaborasse, pegaria entre 30 e 40 anos de prisão. 

“Eles são a lei agora. A lei já acabou há muito tempo. A lei é eles. Eles são a lei. Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta quando ele quiser. Quando ele quiser, com ministério público, sem ministério público, com acusação, sem acusação”, afirmou o investigado.

Por fim, o ex-ajudante de ordens garante que foi o maior prejudicado pelo envolvimento nos supostos crimes cometidos pela organização criminosa liderada por Bolsonaro para se manter no poder após a derrota nas urnas em 2022. 

“Vou dizer também: quem mais se fudeu fui eu. Quem mais perdeu coisa foi eu. Pega todo mundo aí: ninguém perdeu carreira, ninguém perdeu vida financeira como eu perdi. Todo mundo já era 4 estrelas, já tinha atingido o topo. O presidente teve pix de milhões, ficou milionário,. Tá todo mundo aí. Para político é até bom, porque ele consegue se eleger fácil. O único que teve pai, filha, esposa envolvida, o único que perdeu a carreira, o único que perdeu a vida toda financeira fui eu”, concluiu Cid.

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Last Update: 20/02/2025