Nesta segunda-feira (9), foi realizado o depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, quando este era presidente da República. O depoimento é realizado no âmbito do processo sob a suposta “trama golpista”, isto é, que Bolsonaro, junto de militares do Alto Comando das Forças Armadas, teria planejado um golpe de Estado.

O processo tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), e o depoimento foi conduzido por Alexandre de Moraes. Perguntas foram realizadas por ele, por Luiz Fux e pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet.

Dentre as inúmeras perguntas, Cid foi questionado sobre áudios divulgados pela revista Veja, em 2024, nos quais ele teria feito “ataques” ao STF e seus ministros, bem como à Polícia Federal.

Em tais áudios, Cid afirmou que foi coagido a delatar Bolsonaro, bem como que Moraes tem poderes absolutos para mandar prender ou soltar alguém quando desejar, conforme noticiado pelo portal de notícias Poder360.

Ao falar sobre tais áudios, Cid afirmou que “foram áudios vazados sem consentimento. Foi um momento difícil. Eu vendo minha carreira militar e pessoal desabando. Uma crise pessoal e psicológica muito grande, o que nos leva a desabafar com amigos, nada de maneira oficial, acusatória. Então foi mais desabafo para um amigo. Não sei como esses áudios pararam na mão da Veja. Nenhum momento houve pressão da PF”, e que teria assinado o termo de delação premiada de forma voluntária e espontânea.

Deve-se relembrar que, durante audiência ocorrida em novembro de 2024, Alexandre de Moraes, em um primeiro momento, não aceitou o testemunho de Cid, sob a justificativa de que novas provas juntadas aos autos então teriam tornado o depoimento de Cid inconsistente.

Na ocasião, Moraes afirmou que “o colaborador tem não só benefícios, tem também obrigações. A maior delas é falar a verdade, não se omitir, não se contradizer”, acrescentando que “se percebeu que há uma série de omissões e uma série de contradições e, eu diria aqui, com todo respeito, uma série de mentiras na colaboração premiada”, conforme noticiado pelo G1, à época.

Ainda, Moraes disse na ocasião que “eventual rescisão [da delação premiada] englobará, inclusive, a continuidade das investigações e a responsabilização do pai do investigado, de sua esposa e de sua filha maior” e que era “importante, exatamente por isso, afim de possibilitar uma reflexão maior do colaborador com seus advogados, para que esclareça omissões e contradições da sua colaboração”, conforme noticiado pela revista Veja à época.

Voltando ao depoimento desta segunda-feira, ao ser perguntado sobre documento no qual estariam previstas medidas para anular os resultados das eleições presidenciais de 2022, bem como para prender autoridades do Judiciário e do Legislativo, Cid declarou que “sim, [Bolsonaro] recebeu e leu. Ele enxugou o documento. Basicamente, retirando as autoridades das prisões, mas afirmando que somente o senhor [Moraes] ficaria como preso. O resto, não”.

Mauro Cid também foi questionado sobre participação de militares na suposta tentativa de golpe. Conforme noticiado pelo jornal Gazeta do Povo, Cid afirmou que o general Mario Fernandes — ex-número dois da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro — atuava ativamente entre os militares, pressionando generais para que assinassem um decreto que viabilizasse uma ruptura institucional.

Contudo, o ex-presidente Jair Bolsonaro disse que desconhecia tais pressões. Em declaração ao Gazeta do Povo, disse: “desconheço. Meus advogados não conseguiram ter acesso a todas as informações ainda. Eu vou ter? Parece que em dois meses foi isso… Eu assinei decretos, projetos de lei, tinha a questão dos caminhoneiros paralisando o Brasil, que tinha que desmobilizar, vinha um caos econômico aí… o governo continuava, tinha problemas”.

Questionado pela defesa do ex-presidente a respeito de conversas ocorridas durante reunião em Brasília, Cid declarou que “o senhor [Alexandre de Moraes] foi muito criticado. As mesmas críticas, xingamentos, passavam por ali, até porque era uma conversa de bar. Tinha xingamentos, esse cara é um desgraçado. Tinha figurinhas, memes, com esse grau de informalidade“.

A defesa também o questionou se Cid já havia presenciado Bolsonaro atuando em relação às mobilizações ou desmobilizações dos apoiadores que estavam acampados em frente aos quartéis. O ex-ajudante declarou que “uma coisa que o presidente falou, quando vinha grupos mais conservadores, ele dizia ‘não fui eu quem chamou eles aqui, também não vou mandar ir embora’”.

Além disto, foi mostrado a Cid um áudio do mesmo conversando com um general. Conforme noticiado pelo G1, neste áudio Cid relata que Bolsonaro não queria fazer nada mais contundente. Após mostrar o áudio, a defesa questionou a Cid se ele estaria mentindo ao general, ao que Cid respondeu: “isso era o que acontecia, mostrava os autos e baixos das conversas. Isso era um pouco da realidade do que estava acontecendo no Alvorada naquele momento“.

Ainda ao responder perguntas da defesa de Bolsonaro, Cid declarou que não teve nenhuma informação antecipada sobre o ato de 8 de janeiro.

De maneira geral, o depoimento de Cid apresentou inúmeras inconsistências. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro não respondeu às perguntas cujas respostas poderiam o comprometer, culpando sua memória sobre os acontecimentos. Além disso, Mauro Cid afirmou não possuir nenhuma prova que corroborasse suas alegações.

No mesmo dia, o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem também prestou depoimento. Em toda sua fala, negou qualquer suposta tentativa de golpe, argumentando contra as “provas” apresentadas pela denúncia da Procuradoria-Geral da República e demonstrando que as acusações contra ele não se sustentam.

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Last Update: 10/06/2025